Capítulo 74

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Como o prometido, quando Anahí acordou, Alfonso estava lá. Deitado no grande sofá, numa das extremidades do quarto, lutando contra a vontade que sentia de ir até a delegacia e resolver todas as pendências que tinha com Uckermann. Ele não se responsabilizaria pelos seus atos quando o encontrasse. Não depois que matara o seu filho. Ele precisava acertar as contas. Mas nada seria feito naquela manhã. Anahí precisaria dele quando acordasse e ele estaria lá.

Anahí: Alfonso... – Chamou-o depois de alguns minutos o observando. Ela percebeu que ele estava pensativo, olhando fixamente para o teto, o cenho franzido e os dedos tamborilando na lateral do sofá.

Alfonso: Oi. – Assim que a ouviu, ele levantou, aproximando-se da cama – Como se sente?

Anahí: Eu... Bom, não sinto nenhuma dor, acho que...

Alfonso: Eu não estou falando fisicamente. – Ela suspirou.

Anahí: Eu vou sobreviver. – Afirmou – Já perdi tanta coisa na vida e ainda estou aqui... – Deu de ombros. Alfonso meneou a cabeça, puxando uma golfada de ar.

Alfonso: Qual é? Eu sei que tá doendo pra caramba, Anahí! E tentar esconder isso não vai amenizar a sua dor.

Anahí: Poncho, eu nem sequer sabia que estava grávida. Não tive tempo de me sentir mãe, de amar essa criança. – Alfonso torceu os lábios – Eu não senti esse filho, então como poderia estar sofrendo com...

Alfonso: Para de falar merda! – Anahí se calou, olhando as próprias mãos. – Deixa essa farsa de lado, pelo amor de Deus! O vazio que você me disse que sentia ontem não pode ter passado tão rápido, o que me leva a crer que você só está falando esse monte de bobagens porque tem medo de demonstrar a sua dor. – Explodiu

Silêncio.

Alfonso sentou na cadeira ao lado da cama.Controlando a respiração. Ele só queria poder chorar com ela, porque era só ela que conseguiria entender o que ele sentia naquele momento.

Alfonso: Eu também estou sofrendo. – Disse baixo. – Isso está me matando. – Concluiu com o rosto escondido pelas mãos.

Anahí: Eu... – Tentou, a voz trêmula denunciava o choro –Esse filho... Ele não... Esse filho não era seu. – Alfonso a encarou. A cara fechada.

Alfonso: Você não vai querer começar com isso, vai? – Alfonso estava, resumidamente, incrédulo.

Anahí: Poncho, não era seu. – Repetiu num resquício de voz.

Alfonso: Por que você tem essa necessidade tão grande de mentir, Anahí? – Perguntou, duro.

Anahí: Eu... – Tentou, os olhos, inchados, escapando da mirada fria que ele punha sobre ela.

Alfonso: Há quatro semanas nós estávamos em Hialeah, na casa dos meus pais. Então, a não ser que você tenha conhecido o pai do seu filho lá ou o tenha levado na bagagem, esse filho era meu. – Concluiu mordaz.

Diante disso não havia como ela mentir. Nenhum argumento poderia sustentar o que afirmara. Demorou um tempo até que ela, depois de um longo e pesaroso suspiro, se pronunciasse.

Anahí: Não queria que você sofresse por essa perda. –Confessou – É uma dor tão... Terrível – Gesticulava, de olhos fechados – Eu não queria que sentisse isso. – Poncho ficou imóvel naquela cadeira, quieto, os olhos pregados nela – E bom... Eu não quero que se meta com o Uckermann. Não quero que coloque em risco a...

Alfonso: Uckermann é problema meu, Anahí. – Interrompeu – Se tem algo em risco aqui é a carreira daquele desgraçado. – E, reclinando um pouco sobre  a cama, continuou – E quanto à dor... Esse tipo de dor não é algo que possamos superar, mas vamos ter que nos acostumar com ela.

Anahí: Vamos ter que aprender a conviver com isso, eu sei. –Completou. – Mas e enquanto eu não aprendo, Poncho, o que eu faço? –Questionou, frágil, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

Alfonso: Eu tenho tentado não pensar. – Respondeu, tão incerto quanto ela.

Anahí: E tem funcionado pra você? – A resposta dele foi um leve menear de cabeça. Não. Não estava funcionando. – Vai passar, não vai? –Completamente desarmada e entregue ao medo, Anahí deixou que todas as máscaras caíssem e mostrou o seu lado mais frágil. O lado menina que não sabia jogar e que precisava apenas que alguém segurasse a sua mão e dissesse que tudo ficaria bem.

Alfonso: Vai sim. – Disse, repousando a mão sobre a dela – Mais dia, menos dia, tudo vai ficar bem.

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