Capítulo 51

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Dizem que um problema só é resolvido quando se torna insuportável. Dizem também que a maneira mais fácil de tomar uma decisão é não ter escolha. E foi por isso, e apenas por isso, que Anahí, naquela tarde, decidiu o que iria fazer.

Não era fácil renunciar àquela felicidade que não só Alfonso, como toda a família Herrera, proporcionava a ela. Durante toda aquela semana em Hialeah, Anahí experimentou como era conviver em uma casa com uma família comum. Os pais de Poncho eram, por natureza, pessoas de um coração imenso, e em poucos dias já a haviam acolhido como membro da família. Nem as visitas um tanto constantes de Megan eram capazes de acabar com a sua paz de espírito.

Era como se ali fosse um mundo paralelo aos problemas, completamente distante de Pedro e de toda a loucura que vivia em Nova Iorque. Talvez tenha sido por isso que durante aqueles dias ela, ainda que inconscientemente, se negara a pensar no que seria quando tivesse de encarar os fatos. Ou melhor, o fato. 

Ruth: Olha, querida, me desculpe, mas ela insistiu em vir. Não queria estragar o churrasco de despedida de vocês dois.

Anahí: Imagina, Ruth. – Anahí olhou Megan que, muitíssimo exibida, atravessava o jardim da casa dos Herrera. – Está um domingo maravilhoso de sol, eu e Alfonso teremos de voltar para Manhattan no final da tarde, e eu realmente não vou desperdiçar o dia de hoje nutrindo a minha implicância com a senhorita 'preciso de atenção'.

Ruth: Realmente ela procura chamar a atenção do Poncho. – Ruth meneou a cabeça em negação, levemente incomodada com a presença de Megan ali – Mas somos amigos dos pais dela, e ela cresceu aqui conosco...

Anahí: Tudo bem. – Interrompeu – Não precisa se explicar, Ruth. Eu não me incomodo. – Sorriu – O que não significa que eu vá deixar que o Poncho fique solto por aí. – Brincou – Vou lá falar com ele.

Poncho estava conversando com seu pai, perto da churrasqueira. O pai de Megan também estava com eles, rindo, enquanto bebericava uma lata de cerveja.

Antes que Anahí pudesse se aproximar, o celular de Alfonso tocou. Pedindo licença, ele partiu para a sala, voltando minutos depois com um sorriso no rosto.

Anahí: Boas notícias? – Perguntou quando Alfonso parou às suas costas, abraçando-a.

Alfonso: Ótimas. – Ela se virou para ele, envolvendo-o com os braços.

Anahí: E essas ótimas notícias podem ser compartilhadas? 

Alfonso: Lembra daquele caso que eu disse estar investigando? – Anahí sentiu suas pernas vacilarem. Sua garganta trancou e foi com muito custo que conseguiu dizer alguma coisa.

Anahí: Na verdade, você não me contou o caso em si, só comentou que investigava alguém... – E ainda com todo o esforço para parecer tranquila, a voz dela saiu fraca e trêmula. A sua sorte era que Alfonso estava animado demais para perceber isso.

Alfonso: Ian tem novidades. Uma pista. Esse cara pensa que é esperto, Any, mas todo crime deixa rastros. – Continuou como se não a tivesse ouvido.

Anahí: Ah... Ahm... Poncho... Esse cara é perigoso... – Tentou. A verdade agora parecia tão próxima...

Naquele momento, o maior medo de Anahí não era nem o fato de Poncho descobrir quem ela era, mas o medo de que Pedro descobrisse que Alfonso, talvez, estivesse a ponto de desmascará-los. Porque isso não significava apenas perder o amor de Poncho, mas perder o próprio Alfonso. O que era a perda de um sentimento perto da perda de uma vida?

Alfonso: Perigoso? – Ele deixou a euforia de lado para analisar as feições de Anahí. Tomando seu rosto entre as mãos, continuou – Anjo, está com medo? – Ela se manteve muda, a pele gelada e os olhos presos aos dele – Any, não se preocupe, nada vai acontecer. Não vou deixar que ninguém machuque você. 

Anahí: Poncho, eu não estou preocupada comigo, mas com você. – Respondeu de pronto, agarrando-se a ele. 

Alfonso: Any, vai ficar tudo bem. Estamos seguros. Esse cara vai para a cadeia, eu te garanto.

Oh não, ele não iria. Alfonso não teria como incriminá-los sem as provas que Anahí havia roubado. A não ser que essa nova pista fosse realmente muito boa. 

Com o rosto afundado no peito dele, Any deixou que sua mente viajasse. Quase em pânico ela reviveu cada palavra de Pedro. Deus, só faltava um dia para que seu prazo acabasse, e ela ainda não tinha nenhuma solução suficientemente boa para fazer Pedro desistir da ideia de matar Herrera. 

Alfonso: Hey. – Chamou-a, erguendo seu rosto pelo queixo e tirando-a de toda aquela confusão que era a sua cabeça – Eu daria a minha vida para proteger você. 

É impossível descrever a força que aquelas palavras tiveram sobre ela. Num segundo ela viu a resposta que tanto queria reluzir à sua frente. Com um suspiro aliviado ela ensaiou abrir um sorriso.

Anahí: Eu também, Poncho. – Disse convicta – Eu daria a minha vida para proteger você. Tenha certeza disso.


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