Capítulo 45

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A passos lentos, ela caminhava pelo estacionamento do bar, o vento frio batia em seu rosto, e milhares de ideias perdidas se misturavam em sua cabeça.
Seria difícil arrumar um jeito de dobrar Pedro e proteger Alfonso, ainda mais se ele insistisse em se manter distante. Pedro fora claro, mandara que se reaproximasse dele e em uma semana o queria morto. E ele só não o faria antes, se acreditasse que ela estava cumprindo a sua palavra. Pedro ainda confiava em Anahí, e era isso que manteria Poncho temporariamente a salvo. Mas e depois? E depois que o prazo acabasse?

– Giovanna! – Quando ela ouviu aquela voz, pensou que estivesse alucinando.

Girando o corpo, ela encarou Alfonso, encostado num carro. Depois de descruzar os braços ele caminhou, lento, na direção dela.

Anahí: Eu... Eu pensei que você tivesse ido embora.

Alfonso: Eu ia. Mas não consegui. Não depois de tudo o que falou.

Anahí: Sei que foi um tanto exagerado e dramático eu ter subido naquele palco, mas...

Alfonso: O que te fez pensar que poderia decidir o nosso futuro por mim? – Interrompeu, ignorando o que ela dizia. Anahí não soube o que responder. Futuro? Algum dia houve a possibilidade de um futuro? Digo, um futuro real, com expectativas reais, sem qualquer mentira? – O que te fez pensar que podia agir daquela maneira, mentindo que estava com outra pessoa? Bom, se é que aquilo era mesmo mentira.

Anahí: É claro que era mentira. – Rebateu – Meu coração nunca foi de outra pessoa, nem depois e nem antes de conhecer você. – Ele soltou um riso baixo.

Alfonso: É difícil acreditar nisso.

Anahí: Eu sei. Assim como foi difícil pra mim acreditar em tudo o que você disse.

Alfonso: O que foi que eu disse?

Anahí: Poncho, quando a Dulce voltou, você rompeu o que tínhamos, porque, sinceramente, eu achava que tínhamos algo. Apesar de todas as vezes que eu disse que entendia, que você não me devia explicações, eu fiquei magoada. E não foi fácil acreditar quando você foi até o meu apartamento dizendo que estava errado. Não foi fácil, mas eu quis acreditar.

Alfonso: Acreditou e mesmo assim fez questão de jogar fora tudo o que eu disse. – Respondeu, um tanto amargo – O que eu não consigo entender é por quê? 

Anahí: Eu tive medo de continuar, não por medo de me ferir, mas de ferir você. De você se ferir. Porque eu nunca fui a melhor opção pra você. – E ali, ela não mentia. O principal motivo do afastamento de Anahí ele desconhecia, mas dentro desse grande motivo estavam inclusas todas essas coisas que ela dissera.– Eu não sou perfeita, Alfonso, eu...

Alfonso: Eu nunca pedi que fosse perfeita, Giovanna! Nunca! E nunca pensei que não teríamos problemas, que não seria difícil derrubar todas as barreiras que eu tinha e que você tinha também. Mas eu queria tentar, e você me privou disso. Me privou da pior maneira. Se toda a historinha com aquele cara foi mentira, você planejou tudo para que eu odiasse você.

Anahí: Assim você se afastaria. – Ela abaixou o rosto, encarando o chão.

Alfonso: Eu não queria me afastar. Será que não entende? – Perguntou, a voz um tom acima do normal.

Anahí sentiu as mãos dele segurarem seus ombros. Um suspiro escapou de seus lábios e, inutilmente, ela tentou conter a lágrima que caía de seus olhos.

Anahí: Então não se afaste agora. – Pediu quase num murmúrio.

Alfonso: Não é assim tão simples. – Respondeu, mais ameno, e ela percebeu o embargo em sua voz.

Anahí: Me desculpa.

Alfonso: As coisas não se apagam com um pedido de desculpas.

Anahí: A minha intenção nunca foi apagá-las.

Alfonso: Qual é a sua intenção então, Giovanna? – Alfonso afastou suas mãos dela, colocando-as no bolso da calça.

Anahí: Que não me afaste, que não se afaste. – Disse, agora, olhando-o nos olhos. Alfonso balançou a cabeça, resistente.

Alfonso: É difícil. – Aflito, ele voltou a fitá-la.

Anahí: Ninguém disse que seria fácil.

Silêncio. Longos segundos de silêncio.

Anahí: Tudo bem, Alfonso, eu não vou insistir mais. Não por hoje. – Disse, cansada. Com um fraco sorriso, ela se despediu e, virando as costas, continuou o seu percurso.

Não deu tempo de ela dar dois passos, e as mãos dele, firmes e possessivas a puxaram pelo braço. Seus corpos se chocaram com força, os olhos se prenderam por poucos segundos, para depois se fecharem quando a boca de Alfonso alcançou a dela. Ele, que ainda segurava os braços dela, levou as mãos até o rosto de Anahí. Os lábios, sem qualquer movimento, tocavam os dela.

Sentindo o toque quente e a respiração apressada que batia-lhe à face, Any colocou as mãos sobre as dele, e então, sem mais, todas as barreiras que ainda restavam caíram no chão. Como controlar o que acontecia entre os dois? Nem com toda a raiva, com toda a mágoa e com todos os poréns aquele sentimento conseguia ser reprimido.

As línguas se chocaram, juntas, famintas. E juntas elas dançaram por minutos, enquanto os dois se mantinham ali, o mais próximos que conseguiam. Como ela sentia falta das mãos firmes segurando a sua cintura, dos dedos tateando a sua nuca até agarrarem os seus cabelos, dos lábios quentes e macios percorrendo o seu pescoço com beijos arrastados. E ele... Como sentia falta daquele corpo delicado colado ao seu, dos suspiros abafados contra os seus lábios, das unhas arranhando a sua pele e da maneira como as pequenas mãos acariciavam a sua nuca. Cada segundo longe parecera uma eternidade, e a saudade ao simples pensar que não estariam mais juntos era assustadoramente grande. E ambos só poderiam matá-la depois várias noites cheias de beijos como aquele.

Alfonso: Nunca mais faça isso. – Sussurrou, ainda de olhos fechados, a testa colada à dela, as mãos acolhendo o seu rosto – Nunca mais decida por mim. Nunca mais me prive de você. – Os olhos dele se abriram, encontrando a íris daquele intenso azul à sua frente – Promete? – Com um leve sorriso, ela assentiu, mesmo sabendo que aquela era uma promessa que não poderia cumprir.

Quem sabe um dia ela não precisasse ir.


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