Capítulo 73

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A cama estava ligeiramente reclinada, Anahí estava deitada, o tronco levemente erguido. Vestia uma camisola branca e tinha uma coberta bege até a altura da cintura. Seu pulso esquerdo estava imobilizado, os pequenos cortes na boca e na sobrancelha estavam limpos e devidamente medicados. Tanto o soro quanto o aparelho que checava constantemente seus batimentos cardíacos estavam ligados ao seu braço direito.

Frágil, pálida, o olhar baixo e triste. Alguém que parecia gritar para que fosse cuidada. Foi essa a imagem que Alfonso teve assim que abriu a porta daquele quarto.

Anahí não o olhou quando ele entrou, talvez não o tivesse visto ou talvez estivesse destroçada demais para ter qualquer reação. Ele fechou a porta, devagar, parando ainda distante dela, sem coragem o suficiente para dizer ou fazer qualquer coisa. Mas a coragem veio assim que ele a viu tremer, tentando inutilmente conter as lágrimas que teimavam em escorrer pelo rosto frágil e machucado.

Em silêncio, ela chorou, mantendo o olhar fixo na mão que tinha repousada sobre o abdômen. Sem qualquer palavra, Alfonso se aproximou. Depois de alguns segundos parado ao lado dela, ele sentou na beirada da cama e, sem mais, a abraçou.

Quando deu por si, seus braços já estavam ao redor dela e uma de suas mãos acariciava os longos cabelos castanhos. E ali, com o rosto afundado no peito do homem que amava, ela deixou que mais e mais lágrimas viessem. Lágrimas que vieram acompanhadas de pesados soluços.

Alfonso: Any... – Alfonso a apertava em seus braços, sentindo o pequeno corpo convulsionar. – Shhh... – Tentou acalmá-la, afundando os dedos nos cabelos dela e fechando os próprios olhos para que ele mesmo não desmoronasse.

Levou minutos até que ele se afastasse, um tanto preocupado, mantendo as mãos levemente colocadas sobre os ombros de Anahí.

Alfonso: Machuquei você? – Perguntou, a voz baixa e um tanto rouca. – Eu... Eu não devia ter te abraçado assim, você acabou de sair de uma cirurgia e... – Ele parou de falar ao sentir os dedos dela tocando o seu rosto, interrompendo o caminho da pequena lágrima que escorria por sua bochecha. 

Os olhares que eles trocaram naqueles segundos foram intensos e significativos. Tantas coisas estavam sendo ditas sem nenhuma palavra. Ali estava a dor, o arrependimento, a mágoa e, escondido no meio de todos aqueles sentimentos, estava também o amor. Um amor fragilizado, maltratado, mas ainda assim persistente. 

Anahí: Eu... – Tentou, limpando o rosto com as costas da mão direita – Eu não... Droga, eu me sinto tão vazia. – Confessou dentre mais lágrimas. 

Poncho não respondeu. Quieto, ele a fez deitar. De pé, ajeitou a coberta e percebeu o olhar perdido que ela punha sobre ele. Depois de cobri-la, Alfonso puxou a cadeira que havia perto da porta para o lado da cama de Anahí. Ali ele se sentou, afundando o rosto nas mãos. Segundos depois, ele levantou os olhos e levou as mãos ao rosto dela.

Alfonso: Eu sinto muito. – Com custo, conseguiu dizer. 

Anahí: Eu também. – Fechou os olhos, sentindo-o secar as suas lágrimas.

E mais uma vez veio o silêncio. Talvez os sentimentos fossem tão intensos que não cabiam em palavras. Haviam várias perguntas para serem feitas, uma longa conversa os aguardava, mas eles preferiram ficar ali, calados, compartilhando da mesma dor. 

Alfonso: Você precisa descansar. – Disse. Ela assentiu. – Eu vou estar aqui quando acordar. – Concluiu. 

E, naquele resto de noite, nada mais foi dito.


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