Capítulo 154

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Ansiosa, Anahí olhou-se no espelho, terminando de prender o cabelo num coque frouxo. Depois coloriu os lábios com um batom pêssego e ajeitou a regata azul marinho que usava. Estava na hora.

Sorrindo, pegou a pasta que deixara sobre a escrivaninha do seu novo quarto, no seu novo apartamento em Manhattan. Alcançou também a bolsa e um blazer branco e atravessou a sala rumando a porta.
Esperava o elevador quando seu celular tocou.

Anahí: Oi!. – Atendeu de pronto – Já estou saindo de casa. Depois nos vemos naquele café, tá bom? Olha, de verdade, muito obrigada por ter feito isso por mim. – Agradeceu e, em seguida, desligou.

O caminho até a editora pareceu longo. Durante o trajeto, Any deixou que flashes da sua vida cruzassem seus pensamentos. Então olhou para a pasta sobre o banco do passageiro. Estava tudo ali. Todas as suas memórias compiladas em linhas e mais linhas cheias de sentimento. Não conteve um suspiro. Dessa vez não de dor ou de pesar, mas de satisfação. Já não doía como antes. Sua vida, enfim, estava tomando o rumo que desejava.

Fazia pouco mais de oito meses que saíra da cadeia, depois de cumprir pacientemente toda a sua pena. Estava agora caminhando para concretizar um sonho que havia surgido há pouco, mas que tomara absolutamente todo o seu tempo nos últimos meses: Ter a sua vida publicada em forma de romance. Toda a sua trajetória descrita, tão intensa quanto fora, por suas próprias palavras. Por isso estava ali, pronta para falar com Sarah, responsável por uma renomada editora.

Sarah: Olá, Anahí. – A morena cumprimentou simpática, enquanto recebia Anahí em sua sala.

Anahí: Obrigada por me receber aqui, Sarah. Sei que chegam muitas histórias para vocês todos os dias, é realmente uma honra para mim que você tenha me recebido pessoalmente.

Sarah: Imagina! Christian me falou muito bem de você. – Contou, apontando a cadeira para que ela sentasse. – Trouxe o original?

Anahí: Trouxe sim. – Respondeu, deixando a pasta sobre a mesa.

Sarah: E o que você me conta dessa história?

Anahí: Bom, – Sorriu – é, acima de tudo, uma história de superação. Mas está longe da linha autoajuda. – Garantiu divertida.

Sarah: É um romance, certo?

Anahí: Sim.

Sarah: O Christian me falou que eu não poderia deixar de ler o que você escreveu, que é uma história que jamais poderia ser descartada.

Anahí riu.

Anahí: Christian é um bom amigo. Mas, realmente, eu acho que é uma história interessante.

Sarah: Vamos, Anahí, venda-me o seu peixe! – Brincou.

Anahí: Okay! Vamos lá então. – Concordou com uma risada – O que eu posso dizer dessa história é que ela não se trata apenas de uma história de amor, não é sobre como o cara e a garota ficam juntos no final, é sobre mudança, superação. E eu acho que se eu conseguir passar essa ideia pra você, através de tudo o que escrevi, então eu mereço ter esse romance publicado. Porque eu quero, quero mesmo, que as pessoas entendam que a vida é uma sequência de momentos e que tão importante quanto o que acontece fora, é o que acontece dentro de você.

Sarah: Uau. – Assentiu – Eu mesma lerei o seu original, Anahí. E então entro em contato com você.

Anahí: Obrigada. – Agradeceu, levantando-se.

Sarah: Diga ao Christian que eu mandei lembranças.

Anahí: Eu direi. – Afirmou – Mais uma vez, obrigada! – Tornou a agradecer antes de sair da sala.

No café, na esquina do prédio da editora, Christian já a esperava.

Christian: Já pedi o seu cappuccino. E aí? Como foi? – Ela deu um beijo no rosto do amigo, depois tomou o lugar à sua frente.

Anahí: Ela te mandou lembranças. – Comentou sugestiva. Christian riu, dando de ombros.

Christian: Como foi com o livro?

Anahí: Não dá pra saber, Chris. Ela precisa ler antes.

Christian: Tenho certeza de que ela vai amar. Não teria pedido que ela te atendesse se não confiasse no seu potencial.

Anahí: Chris, você nem leu o livro!

Christian: Li algumas partes, oras. – Deu de ombros – E eu não preciso ter lido tudo para saber que a sua história vale um livro.

Anahí: Mas, para todos os casos, essa não é uma história real, okay? Caso esse livro venha mesmo a ser publicado, não posso tratá-lo como uma biografia. Até porque se eu assumisse essa história como real, envolveria pessoas demais, acabaria até expondo essas pessoas. E eu não quero e nem preciso disso. Só quero passar algo bom para as pessoas. Quero que quem leia acredite na mudança, entende?

Christian: Perfeitamente. – Concordou. – Quanto tempo até um retorno dela?

Anahí: Ela não disse, mas espero que não demore muito. – Confessou ansiosa – Só espero que ela não puxe o meu saco só por causa da queda que tem por você! – Acusou.

Christian: Epa! – Advertiu – Ela pode até ter uma queda por mim, mas a Sarah é muito profissional, não ocuparia o cargo que ocupa se não fosse. Ela não vai publicar nada se ela não achar que vale a pena. Tenho certeza disso.   

Sobre a mesa o celular de Any vibrou. Ela
encarou o visor, o nome era familiar.

Anahí: Maite. – Comentou, mantendo os olhos no aparelho.

Christian: Não vai atender?

Anahí: Eu não sei... – Franziu o cenho, voltando a atenção para Christian.

Christian: Não falou com ela nenhuma vez depois que saiu da cadeia?

Anahí: Não.

Christian: Any, atenda.

Anahí: Chris, eu não sei se é legal eu falar com ela. Ela é um elo com ele, vai acabar me fazendo lembrar dele de um jeito que eu não quero. – O celular parou de tocar – Não quero querer saber onde ele está ou o que está fazendo.

Christian: E você realmente não sente vontade de saber onde ele está? Que rumo tomou a vida dele?

Anahí: Às vezes sinto curiosidade em saber como ele está. Já faz tanto tempo, né? Quanta coisa deve ter mudado. – Confessou, e o tom nostálgico em sua voz era nítido.

Christian: Então... – Gesticulou sugestivo.

Anahí: Acontece que se eu voltasse a ter uma ligação com a Maite, seria diferente.

Christian: Porque aí você poderia, de fato, saber dele?

Anahí: Isso. E porque a proximidade com ela me faria pensar no que nós dois poderíamos ter sido.

Christian: E você já não pensa, Any?

Ela demorou a responder. Mas quando respondeu, a resposta foi honesta.

Anahí: Não, Chris. Eu não penso.

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