Capítulo 113

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Durante todo o trajeto poucas palavras foram trocadas. Nenhum assunto mais intenso, apenas trivialidades como o tempo ou o estilo das casas que apareciam à medida que se aproximavam da cidade.

Anahí: Aonde vamos?

Alfonso: Primeiro vamos almoçar...

Anahí: Na cidade? – Ela não esperou que ele respondesse e continuou – Bom, temos dois problemas então. Primeiro: Você não acha que é arriscado? Quer dizer, alguém pode me reconhecer e...

Alfonso: Não existem retratos falados seus espalhados por aí, Anahí. Mas, de qualquer forma, não se preocupe, vamos pegar comida num restaurante e comeremos longe da civilização. – Seus lábios se curvaram num sorriso – Qual era o outro problema? – Alfonso arqueou as sobrancelhas.

Anahí: Megan vai querer matar você por ter dispensado o super espaguete que ela demorou a manhã inteira para fazer.

Alfonso: Acho mais fácil ela querer matar você. – Brincou.

Anahí: Ah sim, mas ela não precisa de um motivo pra isso. – Ele balançou a cabeça, deixando escapar uma risada rouca.

Cinco minutos depois estavam parados no estacionamento de um restaurante chinês.

Alfonso: Me espere aqui, eu já volto.

Não demorou muito e ele voltou com uma sacola em mãos.

Alfonso: Eles fazem o melhor yakisoba da cidade. – Disse, entregando a sacola para ela.

Anahí: E aonde, especificamente, nós iremos desfrutar desse yakisoba?

Alfonso: Sua curiosidade é estimulante.

Anahí: E pelo jeito não será saciada.

Alfonso: É, não. – Respondeu, para então dar partida no carro. 

Algumas ruas à frente, Alfonso estacionou o carro outra vez.

Alfonso: Vem, Any. – Chamou-a. Ela olhou ao redor.

Anahí: Uma garagem?

Alfonso: Vamos alugar um carro. O Voyage não é muito apropriado para o lugar aonde vamos. 

Ambos desceram do carro, ela levando o almoço dos dois. Alfonso abriu o porta-malas e tirou de lá uma mochila. 

Andrew: Oi! – O rapaz que os havia ajudado nos primeiros dias em Framingham acenou para os dois. – E aí? Como está, Anahí? Desculpe, não pude passar para visitar você. 

Anahí: Estou bem melhor. – Sorriu. 

Andrew: Bom, aqui está! – Disse para Alfonso e entregou-lhe a chave de uma L200. – Faça bom proveito.

Alfonso: Eu farei. Obrigado. – Agradeceu, dando dois tapinhas nas costas do amigo. E então abriu a porta e ajudou Anahí a subir.

Pegaram a estrada outra vez, agora no sentido oposto à cidade. No meio do nada, Alfonso virou à direita, entrando numa estreita e íngreme estrada de terra. Anahí observava as árvores que ao decorrer do percurso se fechavam sobre eles, fazendo uma espécie de túnel com seus longos galhos retorcidos. 

A estrada terminou, mas eles mantiveram o percurso, subindo até chegarem a um descampado. A grama verde reluzia ao sol, algumas poucas árvores estavam dispersas pelo espaço. Alfonso estacionou o carro embaixo de uma delas, embora pouco se pudesse aproveitar de sua sombra naquela hora do dia. 

Anahí olhou através do para-brisa, o descampado se estendia à sua frente e depois simplesmente desaparecia. Estavam num penhasco, deduziu. 

Anahí: Como descobriu esse lugar? – Perguntou, sem tirar os olhos da paisagem. 

Alfonso: Já estive aqui algumas vezes...

Anahí: E o que vinha fazer aqui?

Alfonso: Vem comigo. – Ele disse, abrindo a porta do carro.

Antes que Anahí pudesse fazer o mesmo, ele deu a volta no veículo e abriu a porta para ela, estendendo-lhe a mão. Caminharam em silêncio enquanto ele a puxava na direção do precipício. A grama, depois de vários passos, se tornava escassa e mais a frete dava lugar ao chão rochoso.

Alfonso: Tá. Dá uma olhada. – Ele abriu os braços indicando o cenário diante de seus olhos. 

Anahí deu mais alguns passos, ficando bem próxima do despenhadeiro. Olhou para frente e depois para baixo. Era fundo, mas ainda se podia distinguir perfeitamente o que havia lá embaixo. Sorriu, deixando seus olhos acompanharem o rio que corria entre as pedras. Uma leve brisa balançou seus cabelos, e ela fechou os olhos, respirando aquele ar que parecia tão puro. O barulho do chacoalhar das folhas, e o canto dos passarinhos encheram seus ouvidos. Paz, pensou ela.

Alfonso: Entende o que eu vinha fazer aqui? – Perguntou, parado às costas dela.

Anahí: Entendo.

Alfonso: Um bom refúgio, não?

Anahí: Certa vez me disseram que você se refugiava na agitação.

Alfonso: Mas depois da agitação, um lugar calmo pra pensar cai bem. – Ele fez uma pequena pausa – Vinha aqui todas as vezes que precisava ficar sozinho comigo mesmo. – Ele pousou as mãos nos ombros dela – E hoje eu precisava ficar sozinho com você. – Ela se virou para ele, tocando-lhe os braços.

Anahí: Sabe, eu pensei em tantas coisas nesse tempo em que ficamos longe... Eu... Eu acho que cheguei a algumas conclusões.

Alfonso: Eu também. Mas depois falaremos disso, agora é melhor irmos comer antes que a comida esfrie ou que o buraco negro que existe no meu estômago engula nós dois. – Anahí assentiu, com um sorriso, e foi conduzida de volta ao carro.

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