Durante todo o trajeto poucas palavras foram trocadas. Nenhum assunto mais intenso, apenas trivialidades como o tempo ou o estilo das casas que apareciam à medida que se aproximavam da cidade.
Anahí: Aonde vamos?
Alfonso: Primeiro vamos almoçar...
Anahí: Na cidade? – Ela não esperou que ele respondesse e continuou – Bom, temos dois problemas então. Primeiro: Você não acha que é arriscado? Quer dizer, alguém pode me reconhecer e...
Alfonso: Não existem retratos falados seus espalhados por aí, Anahí. Mas, de qualquer forma, não se preocupe, vamos pegar comida num restaurante e comeremos longe da civilização. – Seus lábios se curvaram num sorriso – Qual era o outro problema? – Alfonso arqueou as sobrancelhas.
Anahí: Megan vai querer matar você por ter dispensado o super espaguete que ela demorou a manhã inteira para fazer.
Alfonso: Acho mais fácil ela querer matar você. – Brincou.
Anahí: Ah sim, mas ela não precisa de um motivo pra isso. – Ele balançou a cabeça, deixando escapar uma risada rouca.
Cinco minutos depois estavam parados no estacionamento de um restaurante chinês.
Alfonso: Me espere aqui, eu já volto.
Não demorou muito e ele voltou com uma sacola em mãos.
Alfonso: Eles fazem o melhor yakisoba da cidade. – Disse, entregando a sacola para ela.
Anahí: E aonde, especificamente, nós iremos desfrutar desse yakisoba?
Alfonso: Sua curiosidade é estimulante.
Anahí: E pelo jeito não será saciada.
Alfonso: É, não. – Respondeu, para então dar partida no carro.
Algumas ruas à frente, Alfonso estacionou o carro outra vez.
Alfonso: Vem, Any. – Chamou-a. Ela olhou ao redor.
Anahí: Uma garagem?
Alfonso: Vamos alugar um carro. O Voyage não é muito apropriado para o lugar aonde vamos.
Ambos desceram do carro, ela levando o almoço dos dois. Alfonso abriu o porta-malas e tirou de lá uma mochila.
Andrew: Oi! – O rapaz que os havia ajudado nos primeiros dias em Framingham acenou para os dois. – E aí? Como está, Anahí? Desculpe, não pude passar para visitar você.
Anahí: Estou bem melhor. – Sorriu.
Andrew: Bom, aqui está! – Disse para Alfonso e entregou-lhe a chave de uma L200. – Faça bom proveito.
Alfonso: Eu farei. Obrigado. – Agradeceu, dando dois tapinhas nas costas do amigo. E então abriu a porta e ajudou Anahí a subir.
Pegaram a estrada outra vez, agora no sentido oposto à cidade. No meio do nada, Alfonso virou à direita, entrando numa estreita e íngreme estrada de terra. Anahí observava as árvores que ao decorrer do percurso se fechavam sobre eles, fazendo uma espécie de túnel com seus longos galhos retorcidos.
A estrada terminou, mas eles mantiveram o percurso, subindo até chegarem a um descampado. A grama verde reluzia ao sol, algumas poucas árvores estavam dispersas pelo espaço. Alfonso estacionou o carro embaixo de uma delas, embora pouco se pudesse aproveitar de sua sombra naquela hora do dia.
Anahí olhou através do para-brisa, o descampado se estendia à sua frente e depois simplesmente desaparecia. Estavam num penhasco, deduziu.
Anahí: Como descobriu esse lugar? – Perguntou, sem tirar os olhos da paisagem.
Alfonso: Já estive aqui algumas vezes...
Anahí: E o que vinha fazer aqui?
Alfonso: Vem comigo. – Ele disse, abrindo a porta do carro.
Antes que Anahí pudesse fazer o mesmo, ele deu a volta no veículo e abriu a porta para ela, estendendo-lhe a mão. Caminharam em silêncio enquanto ele a puxava na direção do precipício. A grama, depois de vários passos, se tornava escassa e mais a frete dava lugar ao chão rochoso.
Alfonso: Tá. Dá uma olhada. – Ele abriu os braços indicando o cenário diante de seus olhos.
Anahí deu mais alguns passos, ficando bem próxima do despenhadeiro. Olhou para frente e depois para baixo. Era fundo, mas ainda se podia distinguir perfeitamente o que havia lá embaixo. Sorriu, deixando seus olhos acompanharem o rio que corria entre as pedras. Uma leve brisa balançou seus cabelos, e ela fechou os olhos, respirando aquele ar que parecia tão puro. O barulho do chacoalhar das folhas, e o canto dos passarinhos encheram seus ouvidos. Paz, pensou ela.
Alfonso: Entende o que eu vinha fazer aqui? – Perguntou, parado às costas dela.
Anahí: Entendo.
Alfonso: Um bom refúgio, não?
Anahí: Certa vez me disseram que você se refugiava na agitação.
Alfonso: Mas depois da agitação, um lugar calmo pra pensar cai bem. – Ele fez uma pequena pausa – Vinha aqui todas as vezes que precisava ficar sozinho comigo mesmo. – Ele pousou as mãos nos ombros dela – E hoje eu precisava ficar sozinho com você. – Ela se virou para ele, tocando-lhe os braços.
Anahí: Sabe, eu pensei em tantas coisas nesse tempo em que ficamos longe... Eu... Eu acho que cheguei a algumas conclusões.
Alfonso: Eu também. Mas depois falaremos disso, agora é melhor irmos comer antes que a comida esfrie ou que o buraco negro que existe no meu estômago engula nós dois. – Anahí assentiu, com um sorriso, e foi conduzida de volta ao carro.
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Let Me Go
FanfictionEra só para ser mais um trabalho. Ela o faria, o deixaria e seguiria a sua vida. Autossuficiente demais, fria demais, sádica demais, Anahí Portilla era incapaz de amar qualquer pessoa que não fosse ela mesma. Acontece que o destino adora pre...