Capítulo 128

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Já fazia meia hora que Anahí andava inquieta pelo quarto. Da última vez que olhara no relógio não passava das sete e meia. Agora, no entanto, já estava na hora. Silenciosa, ela foi para o corredor, e sorriu ao ouvir o barulho do chuveiro ligado. Ótimo, Megan não seria um problema.

Com pressa, Anahí desceu as escadas e passou pela cozinha. Verificando o relógio uma última vez, saiu da casa pela porta dos fundos, não sem antes pegar algo com que pudesse se defender. Se Rodrigo tentasse algo, ela precisava estar preparada.

Com uma discreta faca presa no cós da calça, ela caminhou até o bosque, abriu caminho por entre as árvores e não demorou muito para que visse Rodrigo. Ele segurava uma lanterna e tinha o corpo displicentemente encostado num tronco. 

Rodrigo: Pontual. – Ela forçou um sorriso, assentindo.

Anahí: E então?

Rodrigo: E direta.

Anahí: Sempre fui assim, você me conhece.

Rodrigo: Não tenho mais tanta certeza em relação à isso. 

Anahí: Não foi para falar sobre a minha personalidade que você me chamou aqui, então, para poupar tempo e evitar enrolação, vamos direto à parte onde você me diz o que está fazendo aqui.

Rodrigo riu, impulsionando o corpo para frente e se aproximando dela.

Rodrigo: Okay, okay. Realmente não podemos desperdiçar tempo. – Murmurou, perto demais.

Por um segundo, Anahí pensou que Rodrigo fosse avançar nela. Sua mão imediatamente alcançou o cabo de alumínio, pronta para sacar a faca, no entanto, ele apenas passou por ela, calmamente, sentando-se numa grande pedra que havia logo atrás de Anahí. 

Rodrigo: Não quer sentar? – Perguntou, apontando o lugar ao seu lado.

Anahí respirou fundo, recuperando a calma. 

Anahí: Estou bem assim. – Virou-se para ele – Megan pode dar pela minha falta, Rodrigo, vamos direto ao ponto. – Pediu, o tom ameno e seguro. Anahí estava tentando manter a cordialidade. Sabia que, se quisesse conseguir qualquer coisa de Rodrigo, precisava agir com calma. Gritos e palavras hostis não serviriam para nada.

Rodrigo: Okay, querida. Vamos lá. O que eu tenho a dizer aborda basicamente três pontos. Pedro, você e seus pais.

Anahí: Meus pais? – Any franziu o cenho – Você sequer conheceu os meus pais. 

Rodrigo: Sei muito mais sobre eles do que você imagina. – Sorriu. Anahí estava pronta para protestar, quando Rodrigo levantou a mão – Vai continuar me interrompendo ou vai me deixar terminar?

Anahí: Continue.

Rodrigo: Bem... Digamos que eu tenha uma informação sobre os seus pais. Uma informação que pode interessar muito a você. Mas informações não vêm de graça, não é mesmo? – Ela estreitou os olhos.

Anahí: Você veio até aqui para barganhar?

Rodrigo: E você não? 

O riso incrédulo de Anahí foi baixo e contido. 

Rodrigo: O que? Não é assim que funciona? Eu te dou o que você quer e você me dá o que eu quero. – Deu de ombros.

Anahí: Ah é? – Debochada, ela continuou sorrindo – E qual é a sua proposta?

Rodrigo: Olha só, Anahí, – Nitidamente irritado, Rodrigo se levantou – eu não riria, se fosse você. Eu posso ferrar a sua vida e a vida daquele merda que você chama de namorado, e, no entanto, estou aqui, propondo um acordo. Você deveria me agradecer pelo resto dessa sua vidinha medíocre. 

O sorriso sumiu dos lábios de Anahí. Mentalmente, ela ordenava que se mantivesse sob controle. 

Anahí: Rodrigo, se quer me propor algo, me proponha algo real. Não meta os meus pais no meio do seu jogo. – Respondeu. A calma e a segurança na sua voz era tanta que era impossível imaginar que ela fervia por dentro. Raiva, medo, e imagens de dezenas de maneiras diferentes de matá-lo acendiam cada parte do seu corpo, mas, por sorte, o autocontrole sempre fora uma de suas maiores qualidades. 

Rodrigo: Você acha que eu saber quem matou os seus pais não é algo "real"? 

Um sorrisinho vitorioso estampou o rosto dele, quando viu o choque riscando as íris de Anahí.

Anahí: Meus pais morreram num incêndio.

Rodrigo: Num incêndio criminoso. E eu sei quem os matou. Tenho uma prova. Isso é pouco real pra você? 

Anahí sentiu o seu controle se esvaindo. De repente, sentiu-se fraca, pequena demais, e todas as palavras pareciam ter fugido.

Rodrigo: E não, eu não estou blefando. Tenho uma confissão, Anahí. Você não tem curiosidade de saber quem foi o responsável pela morte dos seus pais? 

Ainda que quisesse, ela não conseguia dizer nada. Não sabia o que responder, não sabia como agir. Sim, ela queria saber, mas a que custo?

Céus, se seus pais haviam sido mortos, ela faria com que o assassino pagasse. Mas de quantas coisas teria de abrir mão por uma vingança? Justiça, corrigiu-se. Ela queria fazer justiça

Anahí: Como... – Anahí fitou o chão – Como eu posso saber que está falando a verdade?

Rodrigo: Vai ter que confiar em mim. 

Anahí: Quem foi?

Rodrigo: Me dê o que eu quero e eu te dou o nome e a prova.

Anahí: E o que você quer?

Rodrigo: Vou colocar as minhas condições na mesa. Primeiro, quero que você venha comigo, vamos sumir daqui, ir para algum lugar onde nem o Pedro, nem o seu detetive nos encontre.

Anahí: E?

Rodrigo: E vamos levar a nossa vida.

Anahí: Nossa vida?

Rodrigo: É, Anahí. Eu e você, juntos. Sem a sombra do Pedro ou de qualquer outra pessoa.

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