Capítulo 72

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As horas seguintes pareceram dias para Poncho. E durante o tempo em que ficou ali, sozinho, ele reviveu a sua história com Anahí pelo menos umas cinco vezes. Das juras de amor às mágoas.

Alfonso: Droga, Anahí. – Murmurou, quando a lembrança do sorriso dela inundou sua mente.

Alfonso chacoalhou a cabeça, como se aquilo fosse afastá-la de seus pensamentos.

– Alfonso? – E aí sim seus pensamentos se dissiparam.

Alfonso: Matthew! – Poncho levantou, indo ao encontro do amigo que fechava a porta da sala. – E aí? Como foi? Como ela está?

Matthew: Correu tudo bem. – Sorriu – Conseguimos preservar o rim afetado. Ela está em repouso agora, sob efeito da anestesia. O quadro clínico dela é estável. – Alfonso respirou fundo, aliviado – Mas, infelizmente, não conseguimos reparar tudo.

Alfonso: Como?

Matthew: Já na sala de cirurgia, ela apresentou um sangramento uterino. Na dúvida, pedi que fizessem o beta HCG.

Alfonso: Exame de gravidez? – Perguntou temeroso.

Matthew: Isso. Os níveis de HCG apontaram que Anahí estava grávida de três a quatro semanas.

Alfonso: Estava? – Repetiu. O choque o impedia de raciocinar com clareza.

Matthew: Eu lamento, fizemos o possível. Poncho, abortos espontâneos nas primeiras semanas de gestação são mais comuns do que se imagina. Ela, naquele estado...

Alfonso: Espontâneo? – Cortou-o, seus olhos faiscavam e seus lábios tremiam – Ela foi espancada, torturada! Isso não me parece nada espontâneo! – Rugiu, cerrando os punhos.

Matthew: Alfonso...

Alfonso: Eu preciso... – Alfonso o interrompeu, a expressão indecifrável – Eu... Eu preciso ficar sozinho.

Antes mesmo que Matthew conseguisse dizer qualquer coisa, Alfonso estava partindo, apressado, para fora da sala.

Atordoado, perdido, confuso, frustrado. Se a cabeça de Alfonso já estavado avesso com os últimos acontecimentos, agora ela parecia ter explodido.

Ele caminhou por horas, sem rumo. Grávida. Seráque ela já sabia? Será que era seu? Ainda que não soubesse a resposta para as suas perguntas, ele sentia que havia perdido o seu filho.

Aquela sim era uma dor difícil de lidar. Mais difícil que qualquer desilusão ou qualquer coisa que já havia passado. O aperto que sentia no peito era muito parecido ao que sentira quando teve Anahí desacordada em seus braços. A diferença é que, por mais desesperador quetivesse sido vê-la inanimada, havia uma esperança, algo que unido ao pânico o motivou a lutar até que ela voltasse à vida. Agora já não havia esperança alguma. Não havia nada que ele pudesse fazer para reverter àquele quadro.

Alfonso: Você é um merda, Alfonso. Um merda. – Repetia, sentado na grama de uma praça pouco iluminada. Segundo a segundo a culpa que sentia aumentava. Sentia-se tão impotente e quando, de fato, pôde fazer algo por Anahí, deixou que ela sofresse. E veja só o resultado catastrófico das suas decisões erradas. – Merda. – Disse, dessa vez mais alto, esfregando o rosto com as mãos.

Foi depois de um pesado suspiro que ele levantou. Tinha os olhos vermelhos e o rosto inchado. Naquela madrugada, ele se permitiu chorar tanto quanto podia. Chorava pela dor da perda, da decepção, do vazio. Chorava pelo imenso buraco que se abrira dentro dele. Mas quando Alfonso levantou e resolveu voltar para o hospital, já não havia mais lágrimas. Ele se dispôs a recolocar a armadura que usara durante as últimas semanas, a armadura do cara frio e amargurado. Armadura essa que despencou assim que ele entrou no quarto e viu Anahí.

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