Os dois finais de semana seguintes foram muito parecidos com aquele. Sorrisos, brincadeiras, palavras de afeto e muita entrega. Anahí descobria-se, minuto a minuto, uma pessoa diferente. Alguém capaz de amar sem medidas. Alguém que não precisava fingir, que não precisava se mostrar mais forte do que de fato era. Agora ela não estava sozinha, tinha alguém em quem confiava e amava o suficiente para que se deixasse ser cuidada. Algo que não havia permitido a ninguém até então.
Naquela noite de quinta-feira, Anahí estava sozinha. Megan havia ido ao centro e dissera não saber a que horas voltaria. Menos mal, ela ficava melhor assim.
Sinceramente, Anahí não sabia se sentia pena ou repulsa por aquela mulher. Era ridícula a maneira como ela tentava se fazer presente quando Alfonso estava por perto, como uma cobra esperando para dar o bote, mas também como um cachorrinho carente por atenção.
Bom, ao menos, estava longe de se sentir ameaçada pela presença inconveniente de Megan. Presença essa que ela julgava absolutamente desnecessária, mas que Alfonso insistia não ser. Ele alegava que não queria deixá-la sozinha. Que Anahí não podia se arriscar e sair de casa com tanta frequência e por isso precisava de Megan ali, para que fizesse as compras, fosse à farmácia e estivesse pronta para qualquer eventual necessidade. E mesmo que Any não concordasse, ela não discutia. Sabia que Alfonso zelava por sua segurança e não se irritaria por isso.
Sentada no sofá da sala, Anahí terminou de comer o seu sanduíche. Levou o prato até a cozinha e lavou a louça que sujara. Então subiu para o quarto.
Abraçando-se para espantar o friozinho que fazia, ela empurrou a porta semiaberta com o ombro. No entanto, assim que atravessou o batente, seus braços caíram ao lado do corpo e sua boca secou. Anahí estacou, pregando os pés ao lado da porta. Piscou inúmeras vezes e estreitou os olhos. Então ela teve a certeza: Havia um homem ali. Um homem de sobretudo, sentado na sua poltrona.
Ela não podia enxergar quem era, mas sentiu-se subitamente ameaçada. Quando seu corpo finalmente a obedeceu, ela esticou o braço e alcançou o interruptor. A luz preencheu o ambiente e seus olhos entraram em foco, enquadrando a figura parada a poucos metros dela.
Então ela gritou.
E ele riu. Não uma risada qualquer, mas uma gargalhada alta e dissimulada.
Rodrigo: Oi, Anahí. – Disse, ainda perdido naquele riso sarcástico – Não precisa gritar, está bem?
Anahí: O que você está fazendo aqui? – Perguntou firme, esforçando-se para juntar as palavras e não parecer tão apavorada quanto, de fato, estava.
Rodrigo ali implicava em tantas coisas que ela nem sequer era capaz de assimilar. Não imediatamente. Temia por Alfonso, pela carreira dele, pela vida dele, e dessa vez, diferente de todas as outras, ela também temia por ela. Porque, pela primeira vez na vida, ela não estava disposta a abrir mão de tudo o que construíra. Dessa vez ela não se sentia preparada para desistir da sua felicidade, para desistir de Alfonso.
Rodrigo: Estava com saudades de você. – Anahí o viu sorrir, esticando-se na poltrona. Seus olhos, até então cravados nele, desviaram-se, correndo pelo quarto, na busca de qualquer coisa que pudesse usar para se defender. – Não está feliz em me ver?
Anahí: O que você quer? – Rodrigo se levantou e, instintivamente, ela deu um passo para trás.
Rodrigo: Ora, Anahí, já disse, estava com saudades. – Deu de ombros, virando-se para a janela. – Então é aqui que você esteve escondida todo esse tempo... – Comentou – Gostei. É um lugar muito simpático.
Anahí mordeu os lábios, tentando controlar a respiração pesada. Estava quase arfando, perfurando-o com os olhos azuis gelados.
Rodrigo: Sabe, foi difícil encontrar você. O detetive é bem cuidadoso. – Estalou a língua, correndo os dedos pelo beiral da janela – Mas nada que uma boa dose de paciência não resolva.
Anahí: Por que o Pedro te mandou atrás de mim? Por que agora?
Rodrigo: Porque você é a filha dele, oras. – Virou-se novamente para ela, encostando-se na parede – Mas o Pedro ainda não sabe que eu te encontrei.
Anahí: O Pedro vai precisar de mais que você para me arrastar de volta pra ele. – Retrucou, dessa vez com a voz trêmula.
A mente dela trabalhava frenética, bombardeando-a com fragmentos dos dias que passara com Alfonso, e com as possíveis ameaças de Rodrigo acarretando num final cruel e inevitável. Não! Não dessa vez. Ela não teria a sua vida controlada. Céus, ela não podia abrir mão do homem que amava mais uma vez. Não conseguia sequer suportar a ideia.
Rodrigo: Ora, ora, Anahí. – Seus devaneios foram interrompidos por aquela voz insuportável – Você sabe que seria necessário bem menos para que você voltasse. Mas, vamos lá... – Ele se sentou outra vez – Não quero discutir com você. – Deu de ombros – Talvez Pedro nem precise ficar sabendo que eu te encontrei.
Antes que ela pudesse responder, seu celular soou no criado mudo. Foi Rodrigo quem levantou e pegou o aparelho, estendendo-o para ela.
A aproximação forçada, ao apanhar o telefone das mãos dele, fez seu estômago convulsionar. Olhando para o visor, ela viu o nome de Alfonso. Meneando a cabeça, Anahí respirou fundo.
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Let Me Go
FanfictionEra só para ser mais um trabalho. Ela o faria, o deixaria e seguiria a sua vida. Autossuficiente demais, fria demais, sádica demais, Anahí Portilla era incapaz de amar qualquer pessoa que não fosse ela mesma. Acontece que o destino adora pre...