Capítulo cento e seis: Minha história.

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Eu sou um monstro?

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Eu sou um monstro?

Pensei uma última vez enquanto gritava de dor, vendo meu sangue escorrer no chão da sala, enquanto um homem alto, fantasiado de preto com uma máscara macabra estava à minha frente segurando uma arma, a que ele havia usado para me assassinar, com tiros nos braços e pernas.
As balas perfuraram os mesmos, a dor infernal me invadiu e eu sabia que havia chegado minha hora, gritei abafado de dor, e enquanto minhas vistas escureciam, eu ouvi a voz grave e maligna daquele homem.
Perguntando coisas que só eu e Rosie sabíamos...
Sim, sobre Claire, sobre a vida dela, afinal... Quem é ele?

-Você sente isso?

- Vê o quanto dói? Sua filha, a Claire... ela sente isso todos os dias, interessante, não? Oque me diz sobre isso?

Disse o ele com suas expressões cobertas por sua misteriosa máscara de pássaro, enquanto eu grunhia de dor.
Meu Deus...  Era estranho, mas o desconhecido que havia atirado em mim... Sim, ele estava certo.
Eu via Claire sendo espancada todos os dias por rosie, eu também a espancava...
Eu sou um monstro? Por causar tamanha dor à garota que é sangue do meu sangue?
Sim.  A resposta é sim.
Fiquei calado,pensando em minha vida toda sabendo que iria me encontrar com a morte logo.
Mas eu merecia.
Lágrimas caiam dos meus olhos enquanto meu sangue seguia escorrendo, e em meus últimos minutos de vida, a imagem de minha filha me veio à mente.
Filha...  Fazia tanto tempo que eu não a imaginava como filha, oque ela realmente é.
Porquê eu fui um pai tão terrível? Porquê eu machuquei Claire e consenti que Rosie a machucasse também?
Eu queria poder ficar de frente com ela,  segurar suas mãos e pedir perdão por tudo que fiz...  Mas, realmente precisamos perder algo para valorizá-lo.
- É...  Eu sabia que você não iria falar nada mesmo.
Aquelas foram as últimas palavras que ouvi, e depois daquilo vi ele apontar sua arma para mim, e assim que o gatilho foi pressionado, senti uma rápida dor infernal em meu crânio, e tudo se tornou uma profunda escuridão.
Dizem, que quando estamos agonizando, nossa vida passa diante de nossos olhos. E foi minha última sensação.
Me vi no início, com minha esposa Clara, assim que tivemos nossa linda Claire, agraciada com os lindos fios dourados iguais aos da mãe e quase o mesmo nome.
Logo, o crescimento dela passou rápido em minha mente enquanto meu corpo deixava este mundo, e então, a pior memória de todas veio à tona.
Eu e Clara estávamos felizes da vida, com nossa filha voltando de um parque, quando resolvemos atravessar a rua para tomar sorvete.
E então, Claire como uma criança espoleta e animada, distraída com uma borboleta, correu em nossa frente indo até a estrada, mas minha esposa... foi o mais rápido que pôde  até nossa filha, e assim que ela o tirou do meio da rua, a droga de uma caminhonete a atropelou.
Essa cena triste e dolorosa me assombrou durante anos, o sangue de minha amada respingando em mim e em minha filha, seguido de gritos de desespero da minha pequenina.

- MAMÃE !!!!!

Naquele momento eu perdi minha felicidade, perdi a mulher que eu tanto amava, e cai numa profunda depressão.
E então toda a escuridão que estava em minha mente, me fez pensar que se não fosse Claire, minha amada ainda estaria viva.
E então, a partir daquele momento eu passei a culpá-la.
Nunca mais dei atenção aos desenhos simples de palitinhos coloridos que ela fazia para mim, com um sorriso triste e ansioso, esperando que eu pegasse e dissesse que estava lindo.
Pelo contrário, eu pegava o papel e rasgava na frente dela, dizia à ela que seu nascimento foi uma total desgraça e que ela havia matado Clara.
Eu a afastava cada dia mais, e Claire passou a quase nunca sair de seu quarto.
Era apenas uma garotinha, uma criança inocente...
Eu nunca fui um pai para ela.
Fui um monstro que apenas a deixava mal.
E então, cansado de sentir a dor da solidão como pai solteiro, conheci Rosie com o tempo, e logo a chamei para morar comigo.
Logo, já estávamos juntos.
Rosie nunca gostou de Claire, pelo contrário, ela sempre dizia que minha filha estava atrapalhando e que sua presença era inútil, que ela devia nós honrar como filha e fazer algo que prestasse...
E então, para não sentir novamente a dor da perda, atendi todos os desejos e caprichos de Rosie, e tudo que ela dizia eu concordava e fazia.
E então, o inferno na vida de Claire começou.
Eu e Rosie a obrigávamos a se vestir com roupas de grife e sorrir sempre para que todos pensassem que éramos uma família perfeita.
Fingiámos não ouvir todos os seus gritos de socorro no escuro de seu quarto, a espancávamos quando viámos sinais de tentativas de suicídio e quando ela fazia algo que não nos agradava.

- PORQUÊ? PORQUÊ VOCÊS FAZEM ISSO COMIGO? PAI, PORQUÊ O SENHOR MUDOU TANTO?

Claire gritava e implorava por respostas, ela era infeliz é claro, e sua dor era infernal, ela havia perdido sua tão amada mãe e agora seu pai não a amava mais, tinha uma madrasta rigorosa que a torturava...
Minha filha já havia tentado suicídio inúmeras vezes e eu fingia não ligar!!
Eu errei... eu errei tanto com ela!
Como eu disse, eu queria implorar pelo perdão de minha querida filha, mas agora... era tarde demais.
Fui assassinado, porém não condeno o homem que fez isso. Eu o agradeço.

Eu merecia morrer, agora minha filha terá a paz que merece.

Me perdoe minha filha, me perdoe...

Onde eu estiver... eu amarei você.

Você nunca foi um erro, o erro fui eu.

Entre Amor E MortesOnde histórias criam vida. Descubra agora