capítulo dezesseis : quem era ele?

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Eu e Ethan nos olhávamos nos olhos, como se ele estivesse tentando decifrar a essência da minha alma

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Eu e Ethan nos olhávamos nos olhos, como se ele estivesse tentando decifrar a essência da minha alma. O silêncio entre nós se estendia, carregado de sentimentos não ditos. O tempo parecia parar enquanto ele me analisava, e eu me sentia pequena, exposta. Mas confortável e calma ao mesmo tempo, e então, ele soltou uma risada que quebrou a tensão e segurou minha mão com suavidade.
- Pausou por um tempo, é? Loirinha?
ele brincou, um brilho divertido nos olhos.
Os pensamentos começaram a dominar minha mente, e eu me senti distante, mergulhada em lembranças da minha vida, deixando ele falar sozinho. Mas logo Balancei a cabeça, tentando voltar à realidade, e soltei uma risada tímida para não parecer tão perdida.
- P- Perdão, eu só estava pensando...  respondi, forçando um sorriso que mal escondia meu constrangimento.
Ethan assentiu, como se entendesse, e então começou a comer seu último donut.
- Bom... já que estamos quase acabando aqui, que tal a gente passear debaixo dessa chuva fresca e leve? Você sabe, pra relaxar um pouco.
Ele olhou para fora, onde as gotas dançavam no chão, criando uma atmosfera mágica. A ideia de sair na chuva me deu um frio na barriga, uma mistura de ansiedade e excitação. Olhei para ele e, por um momento, imaginei o que poderia acontecer se deixássemos as preocupações de lado e simplesmente aproveitássemos aquele instante.
- S-Sim... Por que não?
respondi, um sorriso se formando nos meus lábios.
- P-Parece divertido...
Mas então, interrompendo nosso momento, logo meu celular começou a tocar. Olhei rapidamente para a tela e vi que era minha madrasta. Um nó se formou na minha garganta. Sabia que atender aquela ligação poderia me trazer problemas, mas não tinha escolha.
- M-Me Desculpa, só um instante
murmurei para Ethan, enquanto me afastava para atender, e ele apenas assentiu.

Claire: O que você quer?

perguntei, tentando manter a calma, indo até o banheiro, e trancando a porta.

Rosie: Onde você está? Preciso da chave de casa, a que você deixou em cima da mesa. Volte já!

A humilhação e a raiva queimaram dentro de mim. Fazendo lágrimas começarem a surgir.

Claire : E- Eu... estou com Ethan agora, só consigo levar a chave mais tarde...

respondi, tentando não deixar a voz trair minha frustração.

Rosie: Não me faça repetir, sua inútil. Não tenho tempo para suas idiotices. Volte agora!

ela disparou, e eu pude sentir o desprezo em cada palavra.
Então Fechei os olhos, respirando fundo para não deixar as lágrimas escorrem. O que mais eu poderia esperar? Tentei ignorar a dor que aquelas palavras me causavam e abri a porta do banheiro, indo para onde ethan estava.
Mas enquanto eu andava pela sorveteria com as vistas embaçadas por conta das lágrimas, as enxugando e pensando no que me aguardava em casa, senti meu corpo bater em alguém fortemente e algo gelado entrou em contato com minha pele.
Logo percebi vagamente que havia esbarrado em alguém que estava segurando um sorvete. Em um movimento desajeitado, quase caí. Senti mãos fortes me agarrando firmemente, impedindo minha queda, e percebi que havia causado uma verdadeira bagunça.
Droga! Eu sou um desastre!
Inútil... Que inútil... Garota inútil!
pensei, minha mente se afundando em autocrítica.
- M-Me desculpe, eu não vi você! E-eu pago o valor do seu sorvete, só...
gaguejei, ainda atordoada.
- Uh... Você se machucou?
Uma voz grave e envolvente preencheu meus ouvidos, um tom firme, mas estranho, quase sem expressão.
Ainda mergulhada no desespero, sequer olhei para cima, apenas neguei com a cabeça, sentindo aquelas mãos grandes e protetoras me segurando.
- N-não... Por favor, m-me desculpe... Eu... Pago o estrago que fiz aqui sem problemas...
falei, atropelando algumas palavras, intimidada e pequena diante daquela presença poderosa.
Então, suas mãos me soltaram.
- Não se preocupe com isso, eu pago. Só tenha cuidado, Você poderia ter caído.
Aquela voz me deixava arrepiada dos pés à cabeça. Era ao mesmo tempo reconfortante e assustadora.
- M-Me desculpe mais uma vez... Bem... P-preciso ir...
Consegui dizer, afastando-me dele, a vergonha queimando meu rosto.
Voltei até a mesa onde Ethan estava, e ele me observou com curiosidade.
- Podemos ir?
Ele perguntou, colocando as mãos dentro dos bolsos do seu suéter verde musgo.
Assenti, me parecendo uma ótima ideia.
- Claro, vamos.  Eu disse, levantando da cadeira e pegando minha bolsa.
Ah... ainda bem que apenas a bolsa se sujou com o sorvete daquele homem. Mas droga... e ele? Será que o sujei muito?
Ethan se dirigiu ao caixa, tirando a carteira do bolso.
- Ethan, espera!
chamei, puxando uma nota de cinquenta da minha bolsa.
Ele me olhou, confuso.
- Pode deixar que eu pago.
afirmei com um sorriso gentil.
Quando saíamos juntos, sempre dividíamos a conta, mas dessa vez, eu queria pagar para nós dois. Tinha dinheiro, e, mesmo que não sentisse falta dele devido ao emprego dos meus pais, era um gesto que queria fazer.
- Não, deixa que eu-
ele começou, mas eu já havia entregado a nota à mulher do caixa.
- Muito obrigada, e volte sempre!
disse ela, iluminando o ambiente com um sorriso.
Os atendentes da CreamDonuts eram sempre tão animados e gentis, como se o próprio açúcar estivesse neles. Sorri de volta, puxando Ethan para fora.
Então, passamos por ele... por aquele homem. Como eu sabia que era ele? Pela roupa, que consegui enxergar por um instante. Ele usava um traje social preto, era alto e... muito belo. E, para minha surpresa, ele estava me observando diretamente, seus olhos... Em um tom azul frio fixos em mim, me olhavam inteira...
Corei de vergonha ao perceber seu olhar, passei por ele e, em um impulso, sussurrei baixinho, apenas para que ele ouvisse:
- D-Desculpa...
Ethan então me olhou, confuso, e fez uma rápida varredura pelo ambiente.
- Falou comigo?
questionou, franzindo a testa.
Neguei rapidamente com a cabeça, tentando disfarçar meu embaraço.
- Estava só... falando sozinha. v-vamos.  respondi, apressando o passo.
Ele apenas me seguiu até a porta, e assim que cruzamos a mesma, fomos recebidos pela leve água fria da chuva. Não estava chovendo muito, era mais como um sereno, uma brisa refrescante que parecia aliviar a tensão do momento.
Enquanto caminhávamos sob a chuva, uma parte de mim não conseguia parar de pensar naquele homem. O jeito como ele me segurou, a firmeza na sua voz... Era confuso, mas ao mesmo tempo fascinante.
Mas então, tentando esquecê-lo e esquecer aquilo, eu olhei pra ethan e disse em tom baixo, quase como um sussurro.
- a chuva está tão fresca e gelada...
Falei, levando minhas mãos até em cima, sentindo a água molhar minha mão gelada.
Ethan então deu um sorriso.
- está mesmo, não é ótimo? Mas vamos até ali, oque acha? Pra conversarmos um pouco e tal...
Ele falou, apontando para um ponto de ônibus em frente á sorveteria.
Assenti.
- Sim, vamos sim.
Fomos até o ponto de ônibus que não era longe.
E nós nos sentamos em seu banco frio de ferro, enquanto observávamos a chuva cair.
Logo, a mesma começou a vir um pouco mais intensa.
- Ethan... A chuva se intensificou, você vai se molhar quando for pra casa...
Falei, preocupada.
Ele deu risada.
- Andar de bicicleta na chuva é ótimo.
Ele sorriu, com seus olhos brilhantes focados em mim.
Senti minhas bochechas esquentarem e olhei para o chão.
Sentindo aquele momento de paz, aquela calmaria que vinha de nós.
Mas antes que eu pudesse me virar pra dizer algo, meu celular vibrou.
Uma mensagem no Whatsapp.
Ethan rapidamente apertou os olhos olhando para minha bolsa.
- Quem é?
Ele perguntou curioso.
Neguei, e dei de ombros.
- Eu não sei.
Abri minha bolsa, que estava em meu colo e peguei meu celular, o ligando.
Era meu pai.
Droga...
Agora é ele que está me atormentando.

Adam: Claire, onde você está garota?

Adam: Eu e rosie  tivemos que voltar mas você LEVOU A CHAVE! Ela disse que já te ligou e mandou você voltar pra casa! Então é melhor vir logo!!

Adam : Você tem 10 minutos para voltar, ou você já sabe.

Visualizei a mensagem, não consegui respondê-la.
As lágrimas caíram dos meus olhos, sem eu conseguir controlá-las.
Ethan rapidamente me puxou e me abraçou forte.
- Clarinha... não chore, porfavor. Se acalme.
Disse ele em tom baixo, acariciando meu cabelo enquanto eu chorava em seu ombro.
Ethan era o único abrigo que eu tinha.
Mas... Eu não podia demorar, Ou eles iriam me ferir de novo.
Respirei fundo, e sai dos braços dele.
Vi seu olhar preocupado sobre mim, e então decidi que pararia de chorar para que ele não ficasse mais preocupado ainda.
Passei a mão pelos meus olhos, enxugando as lágrimas, e dei um sorriso meio seco.
- E-Eu estou bem...
Falei, ainda com o sorriso em meu rosto.
Ethan negou.
- Clarinha, você não precisa mentir pra mim, eu sei oque você sente, sei oque você é lá no fundo. Eu conheço você mais do que à mim mesmo.
Ele disse, com a voz um pouco triste e segurou minha mão.
O toque dele me fez acreditar que tudo melhoraria algum dia.
- Obrigada Ethan... por sempre estar comigo, não sei oque eu faria sem você.
Eu disse, com um sorriso e o abracei.
Ele me abraçou de volta, e aquilo fez com que eu me sentisse bem.
Logo, antes que eu saísse de seus braços, meu celular vibra novamente.
Dessa vez, era minha madrasta novamente.

Rosie: Sua praga, onde você se meteu? Eu não mandei você vir??

Rosie: você está ferrada garota!!

Meu coração se apertou, senti uma dor no peito, eu já sabia oque aconteceria.
Eu mal me recuperei das agressões de hoje... E ainda vou sofrer mais?? Vou ser agredida de novo??
Me levantei rápido do banco frio do ponto de ônibus.
Meu amigo se levantou também, sentimos a chuva cair em nós e começar a se intensificar cada vez mais.
- Ethan... Eu preciso ir.
Falei, nervosa e com medo, porém já sabendo oque aconteceria.
Mas desejando que tudo fosse diferente.
Eu só queria que meus pais me amassem.
- Claro, eu te deixo em casa.
Ele falou, com um sorriso meio triste.
Neguei
- Não, Ethan! Eles não podem ver você, você sabe como meus pais são, eles podem jogar a culpa em você.
Falei, trêmula e quase ao ponto de chorar de novo.
- Claire, eu não vou te deixar sozinha nessa rua. É perigoso.
Ele disse, se aproximando de mim.
Neguei mais uma vez, e segurei a mão dele.
- Ethan, porfavor... Eu não quero que meus pais nos afastem. Me entenda, eu te peço.
Eu disse em desespero, olhando nos olhos de meu amigo, tentando convencê-lo de que eu ficaria bem sozinha.
Ele assentiu, parecendo ainda estar contrariado com minha decisão.
- Certo Claire... cuidado, ok? Me mande uma mensagem assim que chegar em casa, porfavor...
Ele disse, ainda um pouco triste.
Assenti, com um sorriso leve.
- Muito obrigada. Agora eu preciso ir.
Falei, dando um sorriso fraco, tentando passar calmaria à ele.
Ethan me puxou, e me beijou na testa.
Pra mim, cada beijo que ele dava em minha testa, significava carinho e proteção.
Isso acalmava a tempestade dentro de mim.
- Tome cuidado... e não esqueça de me avisar quando chegar.
Ele disse mais uma vez, sorrindo pra mim enquanto passava uma mão pelas minhas bochechas.
- Eu vou ficar bem, não se preocupe... Boa noite.
Falei, sorrindo mais uma vez, como despedida e me virei para ir pra casa.
Andei pela rua fria e de asfalto molhado, as árvores da cidade estavam cobertas pela neblina.
Enquanto andava, me virei para trás e encarei Ethan uma última vez naquela noite, acenei.
Ele acenou de volta.
eu guardei meu celular em minha bolsa, após mandar uma simples mensagem aos meus pais.

Claire: Chegarei em dez minutos.

E então continuei caminhando pela rua fria e vazia, naquela noite que ficava cada vez mais escura e mais chuvosa, à caminho de casa. Com a tristeza e o medo me tomando, tudo oque eu conseguia desejar era a morte, para acabar com todo o meu sofrimento e toda a agressão que eu sofria.

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