Capítulo cinquenta e nove: Os segredos de Claire.

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Desci as escadas, indo em direção a minha cozinha, que ficava no andar de baixo.
Era bem planejada, com uma geladeira grande e sofisticada, também tinha freezer e um balcão com algumas banquetas.
Ali, na minha casa, eu me sentia bem.
Era onde eu tinha meus momentos de loucura e Sádismo.
Onde eu tinha liberdade pra fazer oque sinto prazer.
Matar, torturar...
E a porra toda.
Não demorei muito lá na cozinha, só peguei um vinho e duas taças grandes em cristal, e também fiz uma rápida porção de frios. com queijo, uvas, salame, baguettes e morangos.
Claire estava fraca e muito debilitada, então se eu quisesse torturá-la novamente... ela tinha que se recuperar.
E também imaginei que ela estivesse com fome.
Peguei os morangos, e os cortei em rodelas pequenas, o queijo eu não cortei, as baguettes dividi ao meio, as uvas só coloquei ao lado depois de lavar junto com os morangos, Coloquei tudo em uma bandeja grande e branca de porcelana, junto com os salames picados em cubinhos, e subi as escadas, indo até a sala.
Deixei as taças em cima da mesa pequena da sala, juntamente com o vinho e a porção, e fui até meu quarto, onde estava Claire.
Ela estava deitada na cama, olhando pra janela aberta, observando a lua linda e o céu que começara a nublar aos poucos.
Provavelmente iria chover.
Fui até ela, e fiquei em sua frente, a olhando deitada na cama.
- Vem, vamos pra sala.
Chamei, Pois na sala seria melhor.
Ela então se levantou devagar, e coçou os olhos.
- está enxergando melhor?
Perguntei enquanto ela se levantava da cama, ficando de pé.
- Melhorei um pouco.
Claire disse, sem graça e meio seca, sem expressar nada.
- fiz algo pra comermos. Gosta de porção de frios?
Perguntei olhando pra ela enquanto caminhávamos até a sala, que também ficava no andar de cima.
Ela assentiu.
- Gosto muito, ainda mais quando tem morangos.
Claire falou com um sorriso doce, e olhou pra mim.
Chegamos na sala, e fui até o sofá.
Logo Claire veio até mim, olhando a porção e pelo olhar, deve ter gostado.
Me sentei no sofá e ela se sentou ao meu lado,
- Parece bom.
Ela disse, mordendo os lábios devagar.
Olhei aquela garota por um tempo, ela  era perfeita.
E aqueles lábios avermelhados devem ser tão doces quanto os morangos dessa porção fria...
Peguei o vinho, e o abri com um abridor específico pra vinhos, Claire me olhava com aqueles lindos olhos escuros e vazios, atentamente.
Retirei a rolha e coloquei um pouco em cada taça.
- Esse é meu preferido, Cassilero Del Diablo.
Falei enquanto pegava a taça e levava aos lábios, tomando um gole.
Senti o álcool quente e revigorante invadir minha garganta, a esquentando enquanto eu sentia o doce gosto da uva, e o leve ardor do álcool.
Vi Claire ali, olhando pro nada e sem dizer muita coisa, e então peguei em sua cintura, enquanto tomava o vinho em leves goles.
- Pode comer se quiser.
Falei, ela se assustou um pouco com meu toque, como sempre é claro.
E então se inclinou um pouco pra pegar um pedaço de queijo.
Mordiscando de pouquinho, com aqueles lábios avermelhados tão lindos.
Soltei minha mão de sua cintura, ee logo ela se inclinou mais uma vez, pra pegar sua taça de vinho.
Ela então cheirou o mesmo sentindo o aroma do álcool e uva misturados, e logo experimentou, dando um pequeno gole.
Ela lambeu os lábios, sentindo o gosto, cada sensação que um bom vinho trazia, e me olhou.
- Oh... bem, é bom.
Ela disse enquanto colocava a taça na mesa, e pegava um morango da bandeja.
Sorri de canto, aquele era o momento perfeito pra ela me dizer tudo que eu queria saber.
Me virei pra ela, e a olhei enquanto ela comia devagar.
- Então Claire... me fale sobre sua vida, e sobre você.
Tomei um gole do vinho, e a vi se virar pra mim.
Ela então pegou uma das uvas, e me olhou.
- Claire Alisson, 18 anos, suicida.
Ela disse em um tom meio seco e sem expressão, enquanto devorava o morango.
Assenti e peguei um dos morangos frescos.
- Certo, continue.
Falei a olhando nos olhos, sem desviar o olhar dela.
Não é só porque aquela garota era linda pra cacete, mas porque ela era misteriosa, sombria, cheia de códigos pra serem interpretados.
Ela era tão diferente, e o fato de ela se machucar e gostar de ver seu próprio sangue...
É tão psicótico, eu entendia perfeitamente aquela sensação.
Me lembro das vezes em que me cortei, meus pulsos todos ficaram cheio de cortes e o sangue jorrava pra todo lado.
Era uma sensação aliviante, e indescritível.
Ela então abaixou a cabeça, e se preparou pra dizer tudo.
- Bom...minha mãe, ela morreu atropelada no meu lugar, eu era só uma criança espoleta, fui em direção à estrada e...
Vi os olhos dela se encherem de lágrimas, pude sentir o ar triste que vinha de suas palavras.
- E?
Falei, esperando ela continuar.
Claire então levou uma mão ao rosto, enxugando o mar de lágrimas que havia começado a cair de seu rosto.
- Então ela morreu... desde esse dia tão triste, que foi o pior dia da minha vida, meu pai... ele começou a me culpar, dizendo que se eu não fosse tão agitada minha mãe ainda estaria viva, então eu comecei a me culpar também, meu primeiro corte... Eu tinha apenas dez anos, eu me culpo até hoje.
Disse ela chorando mais ainda, seus olhos começaram a inchar do tanto que ela chorava.
Peguei na mão dela, a apertando.
- Deve ter sido triste pra você.
Falei, tentando fazer ela se acalmar.
Porra, como eu desconfiava...
Ela tinha uma história tão triste.
Tão deprimente.
Eu a entendo como ninguém.
- Ainda é, e-ela morreu na minha frente... vi o sangue da minha mãe respingar em meu rosto enquanto seu olhar congelava pra sempre, Eu não pude fazer nada!
Ela gritou em lágrimas contando sobre a perda de quem mais amava.
Caralho Claire, eu te entendo, você não sabe o quanto eu te entendo...
- Lamento pela sua perda, Pode continuar...
Foi tudo que consegui dizer, apesar de eu saber a dor que ela sente.
Mas agora eu já não sentia mais nada.
Já senti é claro, mas agora só quero viver dentro da minha insanidade.
Já me acostumei com o demônio que sou.
Ela então limpou as lágrimas, olhou pra cima e respirou fundo.
Peguei um dos morangos, e dei pra ela.
- Come mais um, pra se acalmar.
Ela então mordeu o morango,  respirou fundo mais uma vez e continuou.
- Sabe... Eu comecei a estudar numa escola particular, e lá três garotas viram os cortes em meus pulsos, elas me zoaram e me espancaram, jogaram comida em mim... E adivinha? Até hoje elas fazem isso.
A olhei, enquanto ela me contava sobre sua vida.
Era uma história tão triste e sem vida, era parecida com a minha.
Parei pra pensar no " Até hoje elas fazem isso ".
Pior ainda, ela é torturada todos os dias.
Desde sua infância.
Como ela consegue aguentar?
- Como assim? Todos os dias?
Perguntei arqueando uma sobrancelha.
E então ela assentiu, com um sorriso triste e de dor.
- Sim, todos os dias. Eu sofro nas mãos delas, só não passo por isso quando meu amigo está por perto, ele me defende...
Ela disse enquanto dava uma última mordida no morango.
É, esse amiguinho dela realmente era importante.
- Eu tentei imaginar os motivos de você se ferir, mas não consegui depois de ver aquela mansão onde você mora  e todas aquelas coisas caras.
Falei a olhando, dizendo a ela as primeiras impressões que tive.
Ela então negou com a cabeça.
- Dinheiro nunca é tudo... Sabe, meu pai é empresário, e ele se casou de novo quando eu havia acabado de fazer onze anos, a mulher dele que era pra cuidar de mim e me dar apoio... Manipula meu pai pra ele me espancar, pra ele tirar o resto de felicidade que tenho, e ir acabando comigo de pouco a pouco. E quando há festas de inauguração da empresa dele e fechamento dos casos que ela resolve, pois é advogada, tenho que me vestir e agir como uma boneca, fingindo que sou feliz e tenho uma família perfeita, quando na verdade só quero me enforcar, ou pular de um prédio...
Ela disse, controlando as lágrimas que sairiam novamente.
Eu sabia que ela tinha segredos sombrios, Claire tinha a mesma aura que eu, escura e vazia.
Ela descontava tudo nela mesma.
E eu nas minhas vítimas.
Segurei na mão dela, e a olhei.
Naquele momento, eu só sentia pena de uma garota tão doce como ela sofrer tanto.
Ela estava soluçando de tanto chorar, havia começado a suar frio, e havia começado a ficar mal novamente.
Então, tive uma ideia apenas pra tirar aquele ar pesado e melancólico que estava sobre nós.
Ela estava mal por ter que me contar tudo de ruim que havia acontecido em sua vida, e eu estava puto porque ouvir ela dizer tudo aquilo, me lembrava oque aconteceu na minha.
Ainda com minha mão sob a dela, a olhei nos olhos.
- Ouvir você me fez lembrar muita coisa.
Eu disse em tom meio seco e sem expressão, enquanto olhava pra seus olhos ainda cheio de lágrimas.
Ela me olhou um pouco curiosa, sem entender.
- Quer esquecer um pouco disso?
Perguntei, enquanto me levantava do sofá.
Claire então franziu a testa, confusa.
- C-Como assim?
Perguntou, ainda triste.
Estendi minha mão pra ela, de pé em sua frente.
- Quer Dançar comigo?

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