Capítulo cento e oitenta: Liberta.

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Acordei devagar, com o corpo dolorido e os olhos inchados de tanto chorar

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Acordei devagar, com o corpo dolorido e os olhos inchados de tanto chorar.
Eu estava cansada, minha garganta doía e meu nariz estava ardendo com o cheiro daquele lugar.
Cheiro de sangue seco, de morte...
Então, logo me lembrei do que aconteceu há horas atrás.
Rafael disse que uma garota deu em cima dele, e fez com que eu a matasse provando o quanto o obedeço e amo,  aproveitou também pra me ensinar e me mostrar como é seu trabalho.
Um trabalho sujo e sádico.
Ele... tortura suas vítimas e exibe o desespero delas em lives hediondas, tudo sob o desejo dos seus espectadores, que eram ainda mais sádicos.
Mas bom, eu... Eu não me importo de protegê-lo, não ligo pra maneira que ele consegue seu dinheiro, eu o amo tanto que cegamente faço essas coisas tão doentias parecerem apenas detalhes de quem ele é, mesmo não sendo.
Mas... Ele... passou dos limites.
Ele me disse que o almoço que havia preparado pra mim hoje a tarde, aquela carne tão bonita e saborosa..
Era... CARNE HUMANA!
Deus... naquele momento eu vomitei o máximo que pude, eu não podia acreditar... não...
Não,não, não!
Meus olhos encheram de lágrimas e eu chorei, culpando a mim mesma.
Eu fui tão idiota!! Quem é que comeria na casa de um canibal???
Droga Claire! Isso é culpa sua!!
Você sabia que ele era assim!
mas a única coisa que eu não sabia, era que ele iria me forçar.
A repulsa correu pelas minhas veias
Me deixando enojada e me fazendo vomitar ainda mais, jogando fora o pouco que eu comi hoje, me desidratando e esvaziando meu estômago.
Então, Rafael havia dito que se sentiu ofendido por eu estar com nojo da "Comida" dele, e disse que eu deveria agradecê-lo por ter cozinhado e preparado a carne pra mim, mas como fui "mal agradecida", eu ficaria trancada aqui até comer a carne crua da garota que matei horas atrás.
Ele zombou de mim e me ameaçou com sarcasmo, dizendo que era melhor eu comer o quanto antes, ou o cheiro e o gosto ficariam horríveis.
Ele disse também que esse quarto era cheio de câmeras e que eu não poderia nem pensar em enganá-lo.
e então saiu, trancando a porta e me deixando sozinha, cansada, mentalmente quebrada, com fome e insana ao lado de um cadáver despedaçado e esmagado.
As horas passavam lentamente e meu estômago doia de fome, já que eu mal havia comido hoje.
E eu sabia que se eu não comesse ao menos um pedaço daquela carne eu ficaria presa ali por tempo indeterminado.
E sair dali era tudo que eu mais queria.
Aquele quarto escuro e silencioso com uma garota morta ao meu lado me amedrontava.
Seus olhos cinzentos escuros e sem brilho vidrados em mim, a sua assassina, me faziam ter ainda mais vontade de vomitar.
Eu precisava sair desse lugar!
Pensei enquanto via os segundos se passarem devagar no computador de Rafael.
Então resolvi agir.
levantei devagar, gemendo de dor entre meus dentes por conta do mal estar do chão duro e frio, eu estava fraca e mal podia me mover, mas me esforcei pra isso, indo até o corpo da garota, ou uma parte dele.
tomada pelo cansaço, fome, e vontade de sair logo dali, me inclinei sob seu braço já frio e rígido.
Sei que vou me sentir mal por fazer isso e surtar por dias, mas se eu não fizer isso... vou ficar nesse inferno observando essa maldita garota apodrecer, oque só vai me deixar pior.
Então eu preciso fazer isso.
Levei meus lábios até sua carne fria, fechei os olhos com força e a mordi,  aumentando a pressao de meus dentes ate arrancar um pedaço dela.
O sangue escorreu, e eu apertei os olhos com força, me segurando pra não vomitar enquanto tentava mastigar de o mais rápido possível.
A carne estava dura, o gosto era como de uma carne animal crua, mas oque eu mais podia sentir era o gosto do sangue.
Logo uma ânsia de vômito me invadiu, meu corpo tentou se defender colocando a mesma carne que a minha pra fora.
Mas eu engoli rapidamente, forçando a mesma a encher temporariamente meu estômago vazio.
Então, vendo oque acabei de ingerir, lágrimas encheram meus olhos e eu me encostei no canto da parede, deixando-as rolar.
Não, eu não estava arrependida por ter matado essa garota, na verdade ela mereceu o fim que teve e eu não me culpo por matá-la.
O motivo pelo qual eu estava chorando era ver quem eu estava me tornando.
Um monstro... assim como ele.
Estou longe de ser psicopata, é claro.
Mas já não sinto mais minha alma, não me vejo no reflexo do espelho.
Não sou mais a Claire de antes.
E toda vez que penso nisso, me lembro de quando ele me torturou pela primeira vez nesta mesma sala e segurando meu queixo com autoridade, me fazendo olhar em seus olhos, disse a seguinte frase...
"Você vai agradecer pelo modo como sua vida era antes de me conhecer."
Com toda certeza eu já vivia um inferno, mas ele conseguiu piorar tudo, conseguiu me machucar ainda mais e acabar comigo.
Porém ele também cuida de mim, isso... i-isso me deixa confusa! Ele diz que me ama... m-mas quem ama não machuca, certo?
Chorei ainda mais, me lembrando também de alguns minutos antes, quando ele veio até a porta desse quarto.
Eu estava desesperada por ter sido trancada ali, e joguei um copo de vidro no chão para chamar a atenção dele.
Tudo que eu queria era ser tirada dali...
Mas ele só me deu uma condição.
E eu cumpri a mesma.
Me sentindo um monstro horrível, agora... eu era canibal assim como ele.
Coloquei minha cabeça em meus joelhos, e chorei sentindo as lágrimas lavarem meus lábios ensanguentados.
Naquela maldita noite, eu chorei até dormir ali, naquele chão frio e desconfortável.

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