Capitulo vinte e dois : amanhecer.

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Eu estava dormindo, mas algo me despertou

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Eu estava dormindo, mas algo me despertou. A brisa do ar-condicionado batia no meu rosto, fria e suave, e o frio intenso do ambiente se misturava ao peso do cansaço. Meu vestido estava encharcado pela chuva, e as gotículas de água formavam manchas pequenas no colchão. O cheiro de terra molhada ainda estava no ar, me lembrando o que aconteceu naquela noite.
Só hoje, eu já tinha apanhado na escola,  em casa... E como se não bastasse, naquela mesma noite, me cruzei com um homem estranho, um psicopata. Ele me machucou. Ameaçou Ethan...
Mas o vi bem antes disso...
Logo, a imagem dele me veio à mente.
Eu me lembro de quando o vi pela primeira vez, na sorveteria. Ele estava parado, no balcão, e eu esbarrei nele sem querer, quando estava saindo do banheiro após ser chingada de todas as maneiras pela minha madrasta, que havia me ligado, e então triste e estressada, acabei tropeçando nele e fazendo uma bagunça com o sorvete que ele havia acabado de pagar.
Ele me olhou, e eu senti alguma coisa estranha, mas não foi medo. Foi como se uma parte de mim soubesse exatamente quem ele era. Ele sorriu. Sorriso que curiosamente expressava perversão ou algo, algo não tão bom, o sorriso de quem sabe que tem o controle, segurando firmemente minha cintura, evitando que eu caísse no chão. Meu corpo parecia pequeno sendo segurado por suas mãos firmes e fortes.
E eu também me lembro de como a sua presença me abalou, não por medo, mas por algo mais sombrio. Como se eu soubesse que ele poderia me fazer desaparecer, sumir de uma vez, e eu não me importaria. Na verdade, naquela hora, eu até desejei. Ele poderia me levar, me fazer desaparecer, talvez até me matar, e tudo ficaria mais fácil. Porque o que eu queria, o que eu sentia, era uma vontade de sumir. Não era medo. Era... desejo.
Desejo de que o fim de todo o meu sofrimento chegasse logo, ansiando descansar eternamente, sem dor, sem perturbações.
Droga... Nem o meu cabelo eu estava conseguindo lavar!! Todos que me agridem, devido a meus cabelos serem longos, me arrastam por ele e o puxam e isso fere meu couro cabeludo de forma que até a água arde.
Porquê merda eu deveria estar viva?? Pra passar por essa situação tão miserável até a morte?
Pra servir como saco de pancadas?
Por isso... Por isso eu não tive medo dele.
Porquê ele têm o poder de me fornecer essa paz infinita, ele é um assassino, ele pode pôr fim a esse inferno.
Quem eu sou? Uma mera vitima apenas, somente um número, que diferença vai fazer pra ele se me tirar desse inferno terrível o qual vivo?
Bem, óbvio que a ele, nenhuma.
mas pra mim... Muita.
Enfim, e eu... Ainda sentindo o peso daquele encontro na minha mente, me joguei na cama, completamente exausta. O corpo machucado, a mente bagunçada, eu só queria dormir, fugir de tudo. Mesmo com a poeira da rua ainda grudada na minha pele e as roupas molhadas, o colchão macio parecia me chamar. Eu não tinha forças para fazer mais nada. Fechei os olhos, e me afundei no sono.
O frio foi o que me acordou. A pele arrepiada, os olhos pesados de tanto sono. Eu tentei me virar, ajustando o corpo para buscar mais conforto, e então, olhei o relógio. Estava Quase amanhecendo. Mas ainda cedo demais para ir à escola, porém eu não me importava com isso agora.
Levantei devagar, tonta. Peguei outro edredom, me enrolei nele e caminhei até o banheiro. Tomei um banho rápido, e troquei para um pijama de moletom cinza e meias brancas, tentando me aquecer por dentro também. Peguei minha garrafa de água ao lado da cama e bebi um gole rápido, e me deitei novamente, me escondendo de tudo.
Mas antes de fechar os olhos novamente, olhei para o celular. Eram 4:15 da manhã.
Meus dedos estavam pesados, mas eu digitei a senha, desbloqueando meu celular.
A tela se acendeu, e vi as mensagens de Ethan. Ele estava preocupado. Eu sabia que ele estava preocupado, mas eu estava tão cansada que mal lembrei de avisá-lo que tinha chegado.
Droga... pensei. Eu havia prometido que avisaria, mas tinha simplesmente apagado.
De tanta dor... E de tanto cansaço...
Logo vi que ele tinha me mandado várias mensagens.

_

Ethan: Clarinhaaaaaaaaaaa :(

Ethan: Você já chegou? Eu queria ter te acompanhado...

Ethan: Claire?

Ethan: você chegou em segurança? Me diga, porfavor...

Ethan: ei... assim que puder, me responde. Estou muito preocupado...

Ethan: você me disse que avisaria e até agora nada... ._.

_

Senti um aperto no peito, uma mistura de culpa e carinho. Eu sabia que ele se importava. Mas naquele momento, eu não sabia o que fazer com isso. Eu não estava bem, mas não queria ser cuidada. Não queria que ele se preocupasse, não queria dar nenhum tipo de trabalho, Pensei.

Claire: Oi, Ethan… desculpa pela demora. É que eu cheguei bem cansada e acabei dormindo... Juro, me desculpe por isso!!

Claire: não precisa se preocupar comigo, é sério. Eu não quero que você pense tanto em mim.

Claire: bem, logo logo vamos ter que ir pra escola... Então conversaremos melhor lá.

Claire: ah, mas só pra deixar claro, eu amei a noite de hoje <3 obrigada por tudo!

Claire: enfim, até logo na escola, Ethan!! ;)

Dei um suspiro fundo, desejando que ele consiga dormir tranquilo sem se preocupar tanto comigo, e logo bloqueei a tela. coloquei o celular na cabeceira da cama.
E me ajeitei nos lençóis, tentando desligar a mente, mas as lembranças daquele homem da sorveteria não me deixava. Eu me lembrava de como ele me olhou. Como se soubesse o que eu queria.
Eu não sentia medo dele. Não mais. Na verdade, algo dentro de mim queria que ele me encontrasse novamente e fizesse o que só ele poderia fazer. A sensação de ser levada, de ser tirada de tudo, parecia a única saída. Eu sabia que não seria feliz, que estar com um assassino seria um completo desastre e uma loucura sem tamanho, mas e se talvez... com ele eu encontrasse algum tipo de... liberdade. Uma libertação das coisas que me sufocavam?
Por exemplo... uma morte doce e gentil, pondo fim a tanta dor?
Sim... Era nisso que eu pensava, quando ele me vinha a mente.
Mas, por agora, eu estava ali. Sozinha no meu quarto, olhando para o luar que entrava pela janela. Aquelas árvores balançando, a brisa suave. Tudo parecia distante, como se eu estivesse fora de tudo. E por um momento, isso foi o suficiente. Eu me deixei levar, fechando os olhos, me perdendo no sono, fugindo da minha própria realidade e, ao mesmo tempo, me entregando a um desejo sombrio de desaparecimento.
De inexistência.
De...
Paz.

Entre Amor E MortesOnde histórias criam vida. Descubra agora