Capítulo seis: Ao fim, paz.

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Acordei devagar, como se estivesse saindo de um sono pesado

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Acordei devagar, como se estivesse saindo de um sono pesado. A luz entrava pela janela, mas tudo parecia meio embaçado. Meus olhos estavam inchados e pulsando de dor; parecia que o limão do refrigerante ainda estava lá, ardendo. Tentei abrir os olhos, lutando contra o desconforto, e me perguntei onde eu estava.
Pelo menos não tinha esquecido do que aconteceu, do que aquelas duas fizeram. Ao abrir os olhos, percebi que estava no meu quarto, aquele espaço que sempre deveria ser um refúgio, mas que agora só me lembrava da bagunça na minha vida.
Que droga...
pensei, sentindo um frio na barriga. Alguém deve ter contado a eles!
Com certeza, a escola tinha ligado para meus pais. Mais uma vez, a culpa seria minha. As lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto, cada gota só piorando a dor que eu já sentia, como se cada lágrima fosse um corte.
Tentei me controlar, mas não consegui. Logo, a porta se abriu e reconheci a silhueta dos meus pais. O cheiro do perfume da Rosie misturado ao café que meu pai sempre tomava invadiu o ar.
Tremi, tentando esconder meu medo. Virei o rosto para a janela, focando no céu cinzento e ignorando seus olhares.
- Incrível como ela sempre arruma problemas. Já falei com você sobre isso, Adam.
ouvi a voz da Rosie se aproximar, o tom dela era cheio de reprovação. Ignorando suas palavras, continuei olhando para fora, sufocando as lágrimas.
- Ela acordou.
meu pai disse, se aproximando, a expressão dele era severa, como se estivesse prestes a fazer uma acusação.
- O que aconteceu dessa vez, Claire?  perguntou ele, a voz carregada de um julgamento que eu já não aguentava mais.
- O que você acha que aconteceu, pai?
A minha voz saiu embargada. Eu estava quebrada, exausta. Machucada por tudo.
— O mesmo de sempre: briguinhas na escola e mais suspensões. Você precisa entender que não está mais no ensino fundamental e precisa parar de nos dar trabalho com essas idiotices!
Meu pai, Adam, exclamou, a raiva nos olhos como uma tempestade.
- Isso não é mais uma fase, Claire! Você precisa crescer!
Aquilo só fez minhas lágrimas escorrem ainda mais, e me fortaleci mesmo cansada, para responder a altura dele.
- N-Não são só briguinhas! É BULLYING! VOCÊ NÃO VÊ? E-EU TÔ CANSADA, PAI! ELES NÃO PARAM DE ME MACHUCAR!  Gritei, a voz tremendo, mas ele se aproximou e me deu um tapa.
- NÃO QUERO QUE VOCÊ LEVANTE O TOM DE VOZ COMIGO NOVAMENTE! OUVIU?  ele gritou, a fúria fazendo ecoar as paredes do quarto.
- Você acha que isso é brincadeira? Que eu estou aqui pra te ouvir gritar? Pelo amor de Deus, garota!
As lágrimas escorriam, e eu não conseguia acreditar que estava sendo agredida de novo, era como se o mundo estivesse desmoronando.
E como se eu fosse um saco de pancadas.
- Não... por favor... De novo... N-não...
Adam e Rosie se entreolharam, e meu pai cruzou os braços, pronto para me sentenciar.
- Você tem sorte do seu amiguinho estar aqui. Eu e Rosie vamos sair.  Vê se Cuida da casa e manda esse moleque embora logo.
ele disse, e eu só consegui assentir, quebrada e sem forças.
Só queria o amor e a compreensão do meu pai... Queria ser amada e respeitada. Mas agora eu não conseguia nem me levantar. Depois de ser agredida na escola, e mais uma vez em casa... Que vida é essa? Mas tudo bem... Pelo menos Ethan estava aqui.
- Você já sabe se virar sozinha! Não quero que encha nosso saco. Até.
Rosie finalizou, com um tom de desprezo que me cortou. Segurei o choro, assentindo. Nunca teria paz duradoura, mas com Ethan ao meu lado, talvez pudesse ficar longe deles por um tempo. E Ter algumas horas de paz.
Respirei fundo e logo ouvi batidas na porta. Deve ser ele.
- Entre, já estamos de saída.
disse meu pai a alguém do outro lado da porta, que com certeza era Ethan. Ele entrou, a expressão preocupada, ainda com o uniforme da escola.
- Claire...
disse ele, a voz suave e cheia de cuidado, mas logo foi interrompido.
- Espero que tenha sido minimamente inteligente e entendido o que acabamos de falar. Até logo.
Meu pai disparou, sua voz cortante como vidro, ignorando completamente o que eu estava passando.
Não os respondi nem assenti, apenas os ignorei, eu não aguentava mais. Tudo oque eu queria era que eles simplesmente desaparessem.
Dito e feito, eles fecharam a porta e assim que saíram, suspirei aliviada. Ethan arqueou uma sobrancelha, se aproximando mais de mim e com a preocupação ainda estampada em seu rosto.
- Eles são assim sempre?
Assenti, triste.
- T-Todos os dias é a mesma coisa... Ou até pior. Bem, v-você não viu nada ainda... Resumidamente, é como se eu estivesse presa num pesadelo eterno...
Levantei, mesmo com dificuldade, e encarei Ethan.
- Vou ao banheiro, já volto.
Mas, antes que eu pudesse sair, ele me puxou para um abraço apertado.
- Ei...
Ele sussurrou, me envolvendo com carinho, como se tentasse me proteger do mundo lá fora.
- Eu sei o que você quer fazer, mas enquanto eu estiver aqui, não vou deixar você se machucar. Você não está sozinha, tá?
Abracei-o de volta, deixando as lágrimas caírem.
- Ethan... Eu não aguento mais, estou cansada. Estou tão exausta de lutar.
Senti que ele me olhava com ternura, como se estivesse se certificando de que eu sabia que ele estava ali.
- Então descanse. Estou aqui pra cuidar de você, e eu não vou deixar você passar por tudo isso sozinha.
Em desespero e chorando ainda mais, neguei com a cabeça e o respondi entre soluços.
- E-Eu não consigo descansar sabendo que vou sofrer amanhã de novo. T-Tudo se repete. Eu só vou descansar de verdade se eu... se eu...
Minha voz falhou, nervosa e triste.
Mas Ethan sorriu, passando a mão pelo meu rosto com delicadeza.
- Não, você não precisa morrer pra descansar. Posso te mostrar isso agora, se você quiser. Vamos achar uma forma de aliviar isso.
Senti um alívio ao ouvir isso, como se eu estivesse dividindo o peso que carregava. Assenti, um pouco sem pensar.
- S-Sim... eu... quero...
Seria tão bom. Era tudo que eu precisava... alguns minutos ( ou com sorte, se meus pais demorassem, horas)  longe desse inferno.
- Ótimo, então vou ficar aqui e me deitar perto de você pra que você possa descansar, tá?
Ele disse, espalhando cobertas e travesseiros no chão, criando um pequeno ninho acolhedor.
- Você tem certeza que vai ficar bem aí?  perguntei, preocupada com ele.
- Estou ótimo aqui. Agora esqueça de tudo e apenas descanse.
Ele se acomodou no tapete e me olhou com gentileza, um sorriso reconfortante nos lábios. Me encarando por um tempo.
- P-Por que você está me olhando? M-Meus olhos estão horríveis...
perguntei, me deitando, ainda sentindo a insegurança me engolir.
Ele riu, uma risada leve que me trouxe um pouco de alívio. 
- Você é linda, Claire. Mesmo com todos esses machucados, você continua linda. E não me venha com essa de que não é.
Fiquei sem palavras. Linda? Eu me sentia na pior. Mas, ainda envergonhada, devolvi o sorriso.
- Não sei como você me acha linda, mas tudo bem. Você sempre sabe como me fazer sentir melhor.
Ethan negou e se virou para mim, o olhar dele estava cheio de sinceridade.
- Posso citar todos os motivos que te fazem ser linda agora mesmo. Quer ouvir? Mas já aviso que você vai se cansar, porque são muitos.
Ri, sentindo meu rosto esquentar. Ele era tão amável, um ser doce em meio à dureza que eu enfrentava.
Deitamos de forma que nossos olhares se encontrassem, ele no chão e eu na cama. O som da chuva caindo lá fora trouxe uma calma, como se a natureza estivesse chorando junto comigo.
E a cor cinza do céu, se aninhava a cor da minha vida inteira.
- Pode dormir, eu estou aqui com você.
disse ele, seus olhos brilhando de carinho e determinação, e então ele levantou sua mão, a apoiando no colchão da minha cama, a esticando para que eu a segurasse, e eu o fiz. Sentindo o calor de seu toque me confortar e seu carinho me deixar calma e tranquila, ao ponto de até me tornar sonolenta.

Fui invadida por um conforto enorme naquele momento. E Fechei meus olhos ( que já estavam cansados e pesados) devagar, e adormeci.
ouvindo o barulho da chuva, envolvida em carinho e paz. Aquilo era raro, e por um instante, parecia que tudo ficaria bem.

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