E
u acelerava meu Opala preto pela estrada, a neblina envolvia tudo em um manto de incerteza. O motor rugia sob a pressão, um pensamento me tomava: e se os pais daquela garotinha me denunciassem? E se pensassem que eu havia tentado fazer mal a ela? Porra, eu não podia ir para a prisão. Meus desejos mais obscuros ainda precisavam de satisfação. Sempre haveria alguém que eu teria que eliminar; sempre haveria sangue para derramar.
Suspirei fundo, decidido ao que eu iria fazer.
Que se dane. Vou levar essa menininha de volta aos pais e explicar tudo.
E Se eu for preso, estaria realmente fodido, mas, sinceramente, tanto faz.
A única coisa que importava agora era a segurança daquela criança. Apenas isso.
- Titio?
a menininha chamou do banco de trás, sua voz suave, leve e angelical.
-Diga
respondi, seco. A falta de emoções presente sobre mim mais até que minha própria sombra.
- Meu papai e minha mamãe vão te agradecer muito, sabia?
ela disse, um sorriso pequeno iluminando seu rosto. A inocência dela era um lembrete de tudo que eu não era.
E do que nunca serei.
Arqueei a sobrancelha.
- uh, é mesmo?
perguntei, mantendo o olhar fixo na estrada enquanto avistava a praça central de Nova Jersey ao longe.
Ela assentiu, a esperança brilhando em seus olhos.
- Sim! Titio, você é meu super-herói!
A garotinha se inclinou e me abraçou por trás do banco do motorista. Herói... Eu era tudo, menos isso. Se ela soubesse quem eu realmente era, certamente não diria isso. O pensamento me fez sentir uma pontada, mas rapidamente o afastei. O mundo era assim, e eu era parte dele.
Dirigi com uma mão e acariciei os cabelos daquela criança com a outra, um gesto quase involuntário. Como alguém poderia ter coragem de fazer mal a um ser tão puro? A garotinha sorriu, parecendo tranquila ali.
- Eu não sou um super-herói, pequena. murmurei, a voz grave e rouca, ecoando a verdade que eu tentava esconder.
Ela riu, um som leve que cortava a tensão.
- Ah, então você é um anjo!
A afirmação dela me pegou desprevenido. Dei de ombros, desinteressado.
Anjo...
Tô bem longe disso.
A não ser que eu fosse comparado ao próprio lúcifer.
- Não, nem uma coisa, nem outra.
Ela levou a mão ao queixo, parecendo ponderar.
- Qual é o seu nome? Eu sou a Liza!
Ela disse, o ânimo e a energia infantil evidente.
A olhei de lado, e de forma curta e grave a respondi.
- Meu nome é Rafael.
respondi, quase como um sussurro.
Ela pulou no banco de trás, dando um grito de alegria.
- Ah! Viu só? Você é um anjinho! Porquê a mamãe já me contou a historinha de um anjinho que se chama Rafael!
Ri, mas era um riso vazio. A imaginação dela era encantadora, enfim, a pureza de uma criança.
Mas logo me desliguei do que a pequena estava falando, e Senti uma onda de culpa por ter revelado meu nome. Poderia atrair a atenção indesejada da polícia e da cidade inteira. Porra...
Mas então, a voz dela cortou meus pensamentos.
- Olha! Minha mamãe e meu papai!
Ela apontou um dedo pequeno e curioso para a janela, onde um homem e uma mulher se abraçavam, os olhos brilhando com lágrimas de alívio.
- São eles?
perguntei, observando a cena de longe
- São!
ela confirmou, radiante.
E eu óbvio, Não podia deixar uma criança atravessar a rua sozinha. Caralho, eu teria que sair do carro... Mas que se foda.
- Titio, você me leva lá?
Ela pediu, seu olhar esperançoso.
- Claro, só vou estacionar
respondi, tentando ser gentil. Mesmo sendo naturalmente frio e seco.
Estacionei o carro sob algumas árvores, pensando que seria rápido. Apenas falaria o necessário e voltaria para casa. Passei a mão pelos cabelos os deixando pra trás, enquanto o vento batia no meu rosto.
E então desci a menininha do carro e tranquei a porta. Ao atravessar a rua, segurei a mão de Liza. Assim que seus pais perceberam nossa aproximação, correram em nossa direção, lágrimas escorrendo pelo rosto, uma mistura de alívio e alegria que não me tocava.
Soltei a mão dela e permaneci em silêncio, observando a cena com um olhar neutro. O homem, já idoso, mas com uma aparência digna, sorria entre lágrimas.
- Muito obrigado! Eu pensei que tinha perdido a minha princesinha.
disse ele, a emoção ressoando em sua voz.
Assenti, os olhos fixos neles.
- A filha de vocês estava em uma mata fechada, correndo perigo. Não deixem ela sozinha novamente.
falei, a urgência na minha voz era a única emoção que eu deixava escapar. Olhei para a pequenina pela última vez.
- Adeus, Liza.
murmurei, esboçando um sorriso breve, quase involuntário.
Antes que eu pudesse dar o primeiro passo de volta ao carro, a mãe da menina me chamou.
- Por favor! Nos deixe oferecer algo por ter salvado nossa garotinha. Peça o que quiser! Estamos eternamente gratos!
Uma risada baixa escapou dos meus lábios, negando qualquer recompensa por ter feito oque qualquer ser humano mininamente "humano" faria.
- Não quero nada.
respondi, firme e autoritário.
E eu realmente não precisava de nada. Ter salvo aquela garotinha de um destino horrível era minha única recompensa, e isso era o suficiente.
E então enquanto caminhava de volta para o carro, o peso da realidade me atingiu. A vida seguia, com suas escolhas e consequências. Eu, um homem marcado pela escuridão, carregava a estranha luz da inocência daquela criança. Mas como todas as luzes, ela poderia se apagar rapidamente, e eu não poderia permitir de forma alguma que aquela maldade terrível acontecesse a ela.
E sendo assim, entrei no carro, disposto a continuar meu caminho, com a minha vida seguindo seu curso indiferente, mas a lembrança daquela garotinha sempre viva em minha memória.
Desejando mentalmente que mais nenhum mal aconteça a ela e a qualquer outra criança.
Desejando mentalmente que parem de corromper os anjos que temos aqui na terra.
Que são as crianças.
Os únicos humanos os quais tinham meu respeito, proteção e piedade.
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Entre Amor E Mortes
TerrorCÓPIA E PLÁGIO É CRIME!!! DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS! Uma garota com tendências suicidas cruza o caminho de um Assassino em série. Oque pode dar errado? TUDO. Rafael foi diágnosticado com psicopatia aos treze anos de idade, e entendeu o motiv...