CAPÍTULO 97 - Pânico e tiroteio

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E vejam só a confusão e o medo que a Mila teve que enfrentar.

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**Camila**

Fui arrancada do quartinho às pressas pelo "motorista" e arrastada até a garagem. Ele nem cobriu minha cabeça. Parecia não ter tempo pra isso. Só amarrou minhas mãos pra trás e amordaçou a boca.

— Se fizer cagada, dona, você morre. — e ameaça, com o revolver apontado pra minha testa.

Balancei a cabeça frenética pra mostrar que entendi.

O opala do dia anterior não tava mais lá. Só uma camionete grande, cabine dupla. Ele me jogou no banco de trás com tudo. Tava muito nervoso. 

De repente, um tiro. Meu Deus! Acho que o sequestrador acertou alguém. Depois outro! De onde eu tava não dava pra ver, mas o barulho foi horrível.

Me joguei no chão atrás do banco do motorista e fiquei lá, encolhida em posição fetal pra me proteger. Não tinha outra coisa a fazer.

De repete, mais tiros. Muitos. Em volta de mim.

Pânico, choque, medo era pouco pra representar meu estado. Travei. Só chorava e rezava, ansiando pelo fim do pesadelo.

Um tiro pegou no para-brisa e estourou o vidro. Senti cacos atingirem minhas costas. Acho que não me feriram. Tomara...

Fiquei apavorada deles acertarem o tanque do combustível e a camionete explodir. Mas não tinha como sair de lá.

Nem trinta segundos depois e os tiros pararam, dando espaço pra uma gritaria sem fim. Era intenso. Vozes nervosas. Um bando de homem uivando e rosnando em torno de mim. Eu não queria ouvir...

Alguém abriu a porta da camionete e chamou por mim.

Travada, não me mexi.  

Chamou de novo. Dessa vez, com a mão nas minhas costas.

— Dona Camila? — Meu Deus, eu conheço essa voz... — Dona Camila? Acabou... Pode sair.

Eu ergo o corpo com dificuldade. Quando olho, lá está o Cardoso, segurança do Kiko. Nem acreditei... Juro...

Ele me ajudou a descer, desamarrou o pano da minha boca, depois minha mão. Eu nem raciocinava direito pra interagir.

— A senhora tá bem?

— Acho que sim... — ainda chorava um pouquinho, discretamente. Inevitável depois do que passei. — Obrigada, Cardoso... — e dei um abraço nele em gratidão.

— Que isso, dona Camila? — sei que o deixei sem graça. Mas precisava fazer aquilo.

Eu tinha um corte no braço direito que sangrava bastante. Não faço ideia do que me machucou. Talvez um caco. Sei lá... Só sei que a adrenalina nem me permitiu sentir dor na hora. Só fui ver ali.

Fora isso, acho que tava tudo certo comigo.

— E o Kiko, Cardoso?

— Já avisei ele, dona Camila. Tá vindo pra cá. — "dona", credo! Traumatizei desse dona. Era assim que os seqüestradores me chamavam quando falavam comigo.

Eu passei os olhos ao redor. Um caos! O "motorista" estirado no chão, desacordado. O outro sequestrador retido num canto por um policial fardado. Do outro lado da garagem, mais um policial fardado, ferido na região do pescoço, sendo amparado pelo Joel.

De repente, escuto uma mulher gritando dentro da casa.

— Socorro!! Socorro!!

Ai-Meu-Pai! Será que ainda não acabou?!

Cardoso correu pela lateral da casa, de onde a voz vinha.

— Eu fui sequestrada! Socorro!

— Tem mais alguém na casa?! — Cardoso pergunta, ansioso.

— Não sei... Não sei... — a voz era melosa... — Me tira daqui!

Eu escutava o diálogo, mas não enxergava nem ele nem a mulher.

Além dos gritos que vinham de dentro, havia sirenes ensurdecedoras que cresciam aos ouvidos, conforme se aproximavam da gente. Cinco carros de polícia, mais duas ambulâncias se puseram na frente da casa, em cerco. E deles começaram a sair incontáveis policiais, paramédicos e sei lá mais o quê...

De repente, como se nada de mais bizarro pudesse acontecer, surge Samara na garagem e se atira nos braços do primeiro policial que tava na frente.

— Finalmente vocês vieram me salvar!

Como assim, essa vagaba aqui também? Será que sequestraram essa coisa junto comigo?

E ela era dramática. Fazia cena, falava sem parar. Queria confete... Havia três policiais em torno dela. De platéia. Um deles fazia perguntas. Pra que? Aí que ela se descabelou.

Um dos auxiliares do paramédico veio até oferecer ajuda pra ela, do tanto que Samara parecia sofrer.

Nossa... E não precisou de mais nada pra que ela se entregasse de vez ao personagem dramático. Teatral, apoteótica... Ridícula! Como essa menina é patética, Meu Deus!

Ela bradava, chorosa, que foi sequestrada por dois homens horríveis e aprisionada naquela casa, num quarto minúsculo, com pouca comida. Ai que bode!

Eu, no meu canto, só assistia os surtos. Passei pela mesma coisa, caramba! E precisei daquela cena toda?

Enquanto Samara dava seu show particular, Cardoso conversava com um dos policiais, que logo reuniu outros cinco e entraram na casa. Acho que iam vasculhá-la.

Quando resolveu dar um intervalo em seu espetáculo, a sem-noção finalmente lembrou que eu existo...

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora