CAPÍTULO 45 - Sala de humilhação

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E vejam só o que esse Kiko aprontou pra Camila... Mesmo sem nenhuma intenção.

O que o desespero não faz com as pessoas, né?

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**Camila**

Entrei na sala com a cabeça abaixada.

Estavam lá seu Torres, o presidente do banco, o Michael da área comercial, o par dele, Diego, o chefe dos dois, o seu Milton e a minha chefe cretina me olhando com ares de vingança.

Como é ruim ter um superior imediato que não te compra, desde a primeira vez que olhou pra sua cara, mesmo sem ter tido a oportunidade de te conhecer de verdade...

— Camila? — seu Torres me chamou.

— Sim.

— O Cristiano Nunes é seu namorado?

— Ex... senhor.

— Há quanto tempo vocês terminaram?

— Dez dias.

— Hum... E a senhorita sabe por que estamos reunidos aqui?

— Não tenho ideia... Senhor. — confesso que a forma que ele fez a pergunta dobrou o nível do meu pânico, que já não era pouco.

— Vamos tentar de uma outra maneira... — e disse com certo cinismo, o que me pôs ainda mais apavorada. — A senhorita sabe qual o objetivo principal desta instituição? 

Eu, em meu estado de nervos, fiquei completamente confusa com a pergunta.

Não conseguia raciocinar direito. Será que seu Torres quer que eu fale da missão? Aquela do quadro pregado na parede da Recepção?

— Satisfazer a necessidade dos clientes. — eu devolvi, quase não podendo comigo.

— Também, Camila. Mas antes disso.

— Fazer os clientes obterem resultado com nossos...

— Antes, Camila! Ainda antes.

— Desculpe, senhor. É que estou um pouco nerv...

— Conquistar o cliente, senhorita. Esse é o princípio de tudo. Se o cliente não entrar por aquela porta... — e apontou pra da sala, atrás de mim. — não conseguimos nem começar. Concorda comigo?

— Claro, se-senhor. — já a um passo de desfalecer.

O jeito que ele falava comigo na frente daquelas pessoas fazia meu estômago virar do avesso, de vergonha, angústia, aflição...

Eu nunca havia trocado mais que bom dia com o seu Torres e, de repente, ali, em pé, na principal sala do banco, com cinco dos principais funcionários olhando pra mim e o principal deles me interrogando como se eu fosse uma ré. 

Eu só sentia meu coração palpitando, prestes a pular da boca e o gosto amargo da bile subindo pela garganta, se misturando a saliva.

— E quando identificamos um bom cliente em potencial, dedicamos parte das melhores cabeças da instituição para o árduo trabalho de conquistá-lo e torná-lo um cliente efetivo. Já que não é nada fácil fazer um bom cliente de verdade entrar por aquela porta. A senhorita certamente sabe disso...?

— Sim, senhor.

— E com o seu namoradinho, dona Camila, não foi nada diferente. — impossível não perceber a ironia com que o seu Torres mencionou "namoradinho". — Afinal de contas, Cristiano Nunes é filho do doutor Alberto, um dos maiores empresários deste país e, como qualquer pessoa do nível dele, de um perfil dificílimo de lidar, convencer e conquistar.

Agora sim, entendi onde esse homem queria chegar com o interrogatório.

— E quando o filho do doutor Alberto, que também é o sucessor direto dele, veio nos procurar, eu realmente pensei que finalmente conseguimos cumprir com o nosso papel, de ser reconhecido como um dos mais respeitados bancos de investimento do país, a ponto de conquistar a confiança de um dos maiores empresários, também deste país.

E à medida que o velho-sádico vomitava as palavras sobre a mesa, eu ia me dando conta do quanto tava realmente ferrada.

— Agora, imagine qual não foi a minha surpresa ao saber que, depois de mobilizar nossos gerentes sênior, mais o diretor comercial por quatro dias, fazendo análises, levantando oportunidades de investimento, projetando cenários e carteiras possíveis, eu venho descobrir que tudo não passou de uma briguinha de um casal adolescente, senhorita Camila. Faz ideia do que isso significa?

— Nã-não... Senhor... — nessa hora eu já tava com um nó do tamanho de uma bola de tênis na garganta. Nem sei como ainda segurava o choro.

Pra piorar um pouco mais, o telefone em cima da mesa não parava de tocar. Seu Torres falava comigo com a mão sobre o gancho, pra evitar que qualquer um tomasse a iniciativa de atender e, de repente, interromper seu raciocínio.

— Sabe quanto custa a hora desta equipe, senhorita? Nossos dois melhores gerentes e o diretor Comercial?

— Não, senhor.

— Não deve saber mesmo...

Qualquer coisa que eu imaginava de humilhação, não chegava nem perto do que tava acontecendo comigo.

Levantei meus olhos mareados, procurando por algum apoio, alguma piedade dentro daquela sala, que mais parecia um paredão de execução, mas só encontrei o sorriso mais irônico nos lábios de minha chefe e seu olhar demonizado fixo em mim.

Os outros três não esboçavam reação, mas pareciam bem desconfortáveis. Talvez, incomodados com o que seu Torres me fazia passar. Afinal de contas, eu era uma estagiária recém contratada em meu primeiro emprego, aprendendo tudo do zero praticamente.

E aquele maldito telefone tocando sem parar... 

— Assim que sair desta sala, senhorita, quero que passe em sua mesa, pegue suas coisas e vá direto para o departamento pessoal, acertar sua situação. Seu contrato está rescindido.

— Si-sim... senhor. — e não consegui mais evitar as lágrimas.

Ser mandada embora do primeiro emprego, diante das pessoas mais importante do seu trabalho, daquela forma humilhante...

De verdade... Eu não conseguia mais imaginar o que aquele desalmado-mentiroso ainda ia me fazer passar...

Quando seu Torres terminou de profetizar a minha sentença de morte no banco, ele finalmente deu atenção ao telefone.

— Que foi, Bete??! — e atendeu nervoso sua secretaria, a mão aberta em minha direção sinalizando que eu esperasse.

Não sei o que aquilo queria dizer.

Será que ele queria me humilhar ainda mais? Não... Não é possível...

O que sei é que eu precisava sair daquela sala de tortura o quanto antes e correr pro banheiro pra tentar me recuperar minimamente.

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora