CAPÍTULO 158 - Cirurgia

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E eis a impensável reviravolta... Alguém esperava por isso? Acho que não... Incluindo a própria Camila...

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**Camila**

Chegou o fatídico dia.

O maldito dia que eu apagaria do calendário se pudesse...

Dr. Rubens preferiu internar o Kiko na noite anterior, pois a cirurgia começaria cedo.

Na véspera, fui com ele pro hospital.

Havia um sofá ultra-confortável no quarto, preparado pra mim, mas ele pediu pra eu me deitar junto, na maca apertada. Queria dormir com o nariz enfiado no meu cabelo, respirando meu cheiro pra ficar tranquilo.

Veja se pode? Que fofo... Desfiz minimamente a cara de quem comeu comida estragada e esbocei um sorriso, assim que ele me confessou isso.

Quando a gente tava em silêncio, agarrados, teoricamente prontos pra embarcar no sono, ele me pede pra transar. Dá pra acreditar nisso?!

— Ai, Cristiano! Eu aqui pra infartar e você querendo sexo!! Como você consegue pensar nisso uma hora dessas...?!

— Só um pouquinho, linda... Vamo ter que fazer recesso depois da cirurgia.

— Mas a gente passou a semana tirando o atraso por conta da cirurgia!

— Só mais unzinho... — praticamente implorando, a carinha amuada, o que me faz ceder no ato.

Abrir as pernas pra ele meter o pinto pra dentro e se aliviar. E não passei disso. Uma buraco pra ele depositar o sêmen. Eu tava tão agoniada que nem fingir orgasmo eu seria capaz. 

Ele percebeu, mas nem disse nada. 

Depois, se ajeitou enroscado em mim outra vez e me disse que tava pronto pra dormir.

Dormir... Que ironia...

Não preguei o olho um segundo sequer. Naquele quarto frio e impessoal passava de tudo pela cabeça. E eram pensamentos ruins, agoniantes, a maior parte do tempo. Vez por outra eu ficava tão apavorada que preferia esvaziar o cérebro e ficar olhando meu gatinho dormir. Acho que passei horas olhando pra ele dormir.

Lá pelas seis da manhã, a enfermeira apareceu. Os pais dele já tinham chegado e nos faziam companhia.

A mãe tava em pânico. Desesperada. Inconformada... Mas tentava disfarçar a angústia. Pelo menos ali, na frente do filho.

O pai tava mais calmo. E tinha voltado a me tratar de forma menos distante... O normal do dr. Alberto, por assim dizer...

Quando o Kiko comunicou meu sogro sobre a cirurgia, ele insinuou que eu tivesse influenciando meu marido na decisão. Dá pra acreditar? Isso o próprio Kiko que me falou. Ele, óbvio, surtou com o pai e contou que eu até fiz greve, do tanto que eu não queria essa cirurgia.

Dr. Alberto logo recuou da ideia de fazer a minha caveira, mas não deixou de falar na cabeça do Kiko todos os dias, tentando fazê-lo desistir do absurdo.

Apesar das nossas diferenças, nesse ponto, eu e meu sogro estávamos completamente alinhados. Eu de um lado e dr. Alberto do outro, tentamos de tudo pra fazer o Kiko mudar de ideia. Mas, nem preciso dizer, meu gatinho nocauteou nós dois. Aliás, nós três, que dona Valentina era outra que daria tudo pra fazer o filho voltar atrás.

Bom... Essa etapa já tá superada. Agora só restava juntar na fé e orar, rezar, clamar a todos os Céus que nos devolvesse o Kiko inteiro, são e salvo.

***

Sentei-me com dona Valentina no sofá ao lado da porta de entrada do centro cirúrgico. Ela arrancou seu lencinho da bolsa e passou as seis horas da cirurgia chorando baixinho, enxugando o rosto e o nariz. A outra mão unida à minha.

Tentei dizer algumas coisas a esmo. Ela também. Mas não tínhamos cabeça nem pra um diálogo pro-forma, por mais que fossemos próximas.

Eu não chorei daquele jeito, como ela. Mas tava em estado de pré-choque. Parecia dentro de um pesadelo que não conseguia acordar. Confundia a realidade com os pensamentos ruins, que me atormentaram madrugada adentro... Isso fora o sono que me dominava, mas eu não tinha cabeça, nem forças pra dormir.

A assistente pessoal da minha sogra, a Miri, veio junto pro hospital fazer companhia e tomar providências. Quaisquer que fossem necessárias. Mas não havia o que ser feito. Só esperar... Esperar... Esperar... Com o coração na mão.

A Miri sempre nos trazia água e um cafezinho de vez em quando, já que não conseguíamos nem nos mover.

Dr. Alberto ficou por ali, na sala de espera também, mas não saía do celular. De certo, resolvia coisa da empresa. E andava de um lado pro outro, falando e falando sem parar. Acho que era o jeito dele descarregar o nervosismo. Pobre chão... Certeza que iam ter que trocar o piso depois da passagem do meu sogro por ali.

Lá pelas tantas, precisei ir no banheiro.

Quando volto, avisto o sofá, onde eu tava com a minha sogra, vazio. Estremeço dos pés a cabeça. Faço a curva do corredor do banheiro pro corredor principal e vejo meu sogro e a sogra na porta do centro cirúrgico. Meu Deus... Ela enxugava as lágrimas com seu lencinho chique. Dr. Alberto tinha a cabeça baixa e o semblante desfigurado. Ambos escutando o que parecia ser o médico, que falava incansavelmente... Sem parar...

E o doutor... Ai, Meu Pai... Eu não queria jamais ter visto a cara daquele homem.

Juro que não precisei de mais nada pra entender o que tava acontecendo...

Perdi a força nas pernas no ato, a uns dez passos deles, sentindo meu corpo desmontar, prestes a atingir o chão.

Enquanto caía, um filme passava diante dos meus olhos. O filme inteiro da minha vida com ele. Como se eu tivesse vivendo tudo outra vez. À velocidade da luz. Todas as sensações explícitas, latentes, tocando a pele. Tão nossas...

Unicamente nossas...

— Camila! — gritaram meu nome, mas eu não consegui reagir, porque meu corpo simplesmente não me obedecia mais.

Não é possível que terminou assim, Meu Deus...

Por favor, me diz que não. Não desse jeito....

Nem quero pensar em justiça agora. Não é uma questão de justo ou injusto. É uma questão de viver. A diferença entre viver e sobreviver pra mim. Ou nem sobreviver...

— Camila! — outra vez o grito. Muito distante...

Eu só pensava nele comigo, por muito tempo. O máximo possível. Como ele me prometeu.

— Camila! — agora, um chamado aflito, já bem perto de mim.

Deus, por favor, fala que isso não tá acontecendo...

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Quem imaginaria essa reviravolta, não? Inacreditável... 

E me digam o que estão achando... ;-)

Obrigada!


(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora