CAPÍTULO 148 - Retorna ou não retorna...?

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Mais um pouquinho desse imbróglio se retornam ou não retornam pro Brasil. Vamos descobrir já já qual a decisão...

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**Cristiano**

Já era quinta-feira. Do escritório mesmo, liguei pra minha mãe e contei o que tava rolando no trabalho e a proposta que recebi. Não queria ter essa conversa na frente da minha esposa.

Dona Valentina, nem preciso dizer, berrava no telefone ao mesmo tempo que chorava, comemorando uma decisão que nem tava tomada ainda.

Mas não era exatamente pra contar da promoção que eu liguei pra ela.

Esperei ela acalmar os ânimos minimamente e comecei a explicar o motivo do meu contato, abrindo o jogo de vez com ela, pra contar tudo que se passava entre eu e meu velho. Desde o que ele fez comigo, enquanto eu tava na Performer; passando pelo sequestro da Camila e o que ele aprontou com a minha esposa pra livrar a cara da Samara; até chegar nas minhas tretas pessoais com dr. Alberto, de querer mandar na minha vida e controlar cada passo que eu dou.

Dona Valentina muda do outro lado da linha era o sinal que tava detestando a conversa. Mas não tinha outro jeito. Lógico que ela sabia exatamente do que eu falava. Só que na versão do meu pai.

Dr. Alberto não é de omitir as coisas dela, muito menos, mentir. Ele deve ter contado no gabarito o que aprontou comigo e a Camila pra defender a Samara. Mas é óbvio que os detalhes sórdidos dos bastidores do sequestro não pareciam tão sórdidos assim, pela reação da Dona Valentina ao conhecer a minha versão dos fatos.

— Mãe... Sei que você tá odiando a conversa, mas eu precisava disso, porque eu vou precisar da sua ajuda com meu pai, se a gente realmente resolver voltar pra aí.

— Claro, filho.... — a voz embargada, desgostosa.

— Você sabe que, se não for agora, a chance de eu voltar pro Brasil é muito remota. Pra não dizer, impossível.

— Sei sim, meu filho. E eu faço o que você quiser, pra que você venha morar aqui, perto da sua mãe e do seu pai. — e fungou sentido — Eu não quero meu único filho, minha nora e meus netos vivendo longe da gente, filho. — essa hora, ela já chorava, descontrolada, enquanto se abria comigo.

— Mãe... Se eu puder, é lógico que escolho viver aí. Mas você sabe qual o meu problema. O único, na real. E não adianta querer fugir do assunto e evitar falar disso, dele, que não vai resolver nada. Pelo contrário. Se ele fizer qualquer coisa contra a gente e, principalmente, contra a minha esposa, eu corto o contato com vocês em definitivo.

— Seu pai as vezes é muito difícil, Cristiano. Mas, no fim, ele só quer o seu bem. O bem de vocês.

— Não é hora de defender ele, dona Valentina. Você entendeu o que eu te pedi? Agora quem vai segurar a onda com ele é você. E se der qualquer merda outra vez, a falha vai ser sua de não ter conseguido administrar o seu marido.

— Mamãe fica muito triste quando você fala assim do seu pai.

Tamos alinhados, mãe? — ignorei as chantagens emocionais e segui insistindo na proposta que fiz.

— Sim, filho. Se depender de mim e do seu pai, vocês vão ter a vida que pediram a Deus. Que eu peço a Deus todos os dias por vocês...

— Promessa é dívida, hein...?! E essa é a última chance. Qualquer merda e eu sumo com a Camila no mundo sem deixar rastro.

— Está bem, filho. Se depender de mim, nada vai dar errado. Eu prometo...

— Combinado...

— Vocês vão voltar...? — e nem conseguiu completar a frase, outra vez se acabando de chorar.

— Vou falar com a Mila. Mas é quase certeza. Ela também quer muito.

— Está certo, meu amor... Assim que resolverem, avise a mamãe, por favor.

— Eu ligo. Pode deixar... — me despedi dela, ainda meio encafifado com o que tinha feito.

Acho que nunca peguei tão pesado com dona Valentina, colocando-a de sócia na difícil missão de segurar meu pai. Mas foi o único jeito que encontrei de articular meu retorno pro Brasil, com condições mínimas de sobreviver ao pai sem-noção-alguma que eu tenho. E, principalmente, de fazê-lo parar de uma vez de tentar me manipular feito um bicho de estimação.

Dessa vez, dona Valentina não ia poder se fazer de planta, fingindo que o marido dela é o cara mais top do mundo e o "pai do ano" pra mim.

Honestamente, não sei se vai funcionar. Mas essa é a arma que eu tenho. Afinal, minha mãe é a única pessoa capaz de mandar no meu pai. E, se der qualquer merda outra vez, eu não vou ter dó de abandoná-la, como tive quando decidi vir pra San Diego com a Camila.

***

Cheguei do trabalho e, durante o jantar, contei o papo reto com dona Valentina pra minha esposa. A Mila ficou preocupada por eu ter pego tão pesado com ela, mas eu insisti que não havia outra opção. Era isso ou a gente à mercê do meu pai, sem minha mãe de sócia pra tentar controla-lo.

A Mila continuou meio bolada. Isso porque ela não conhece o poder que dona Valentina é capaz exercer sobre o temível doutor Alberto Nunes.

Minha esposa até riu dos episódios em que a vontade da minha mãe invariavelmente prevaleceu sobre a do meu pai, quando a opinião deles divergiu em algum ponto. Eram situações raras. Afinal, dona Valentina sempre cortou dobrado pra não tretar. Mas, quando acontecia, não tinha pica-das-galáxias do doutor Alberto páreo pros caprichos da única pessoa a quem ele obedece na vida.

Bom... Questão doutor Alberto passada a limpo, mesmo que a gente ainda corra certo risco, agora era hora da palavra final da Camila.

Uma coisa eu tenho em comum com meu velho. Eu gosto de mandar, pra caralho, mas, em casa, quem bota o pau na mesa é a minha esposa. Assim como a dele, lá na casa deles...

A Mila, sem surpresas, brilhou os olhos. Ela, mais que ninguém, queria voltar pro Brasil, pelos mesmos motivos que eu ou qualquer outro ser humano que more longe de casa. Viver perto da família, dos amigos, dentro da cultura em que a gente foi criado.

Esposa concordando, nada mais nos separava da nossa terra natal.

Ligamos pra mãe da Mila pra dar a notícia. Dona Lúcia, lógico, se debulhou em lágrimas. A voz embargada, mal entendíamos o que ela dizia, mas dava pra perceber a satisfação da minha sogra com a novidade.

Depois, foi a vez da dona Valentina, em outra crise de histeria, descompensar, assim que confirmei nosso retorno.

Após ligações, voamos comprar a passagem da Camila já pro dia seguinte e arrumamos o que deu de tralha dentro de malas e caixas.

Eu ia precisar contar com a minha mãe mais que nunca pra ajudar na mudança. Afinal, a Camila precisava retornar "ontem" pra São Paulo, pois távamos no fim da terceira semana de agosto. As aulas na EIM já haviam começado e, pra não perder o semestre inteiro, ela não poderia faltar mais uma aula sequer.

Pedi uma ajuda à minha mãe pra acomodar minha esposa de volta em casa, enquanto eu ficaria mais duas semanas em San Diego, pra receber treinamento e acertar os detalhes do plano de implementação da Automatique no Brasil.

Eu deveria retornar a San Diego uma vez ao mês pra prestar contas, receber novas orientações, discutir problemas... Enfim, me reportar à matriz, como presidente de operações no Brasil. Meu novo cargo.

Nossa mudança ficaria sob responsabilidade da Mirian, a assistente pessoal da minha mãe, junto com a área específica da Automatique, que auxilia na mudança de funcionários expatriados.

Confesso que já tava até sentindo falta de mordomias como essa.

E agora só nos restava nos preparáramos pro recomeço no Brasil...

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O que acharam, hein? Tava cheirando que eles voltariam, né? Se foi uma boa decisão, saberemos logo mais...


(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora