CAPÍTULO 106 - Capacho do pai

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E eis o Cristiano, como está encarando essa nova vida. E um pouco da relação dele com o pai, depois do episódio...

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**Cristiano**

Segunda-feira tava firme já. Ao contrário de mim, que não tinha forças nem pra sair da cama.

Não havia o menor clima pra ir trabalhar, só de lembrar que passaria o dia olhando pra cara da pessoa que fez a minha mulher sair de casa.

Passei a mão no telefone, só pra avisar...

— Eu não vou hoje.

— Que houve?

— Perdi ela, pai... — era impossível tratar do assunto sem chorar.

— Precisa de ajuda? — acho que ele me ouviu suspirar.

— Se ela não quer me ver na frente, imagina você.

— Não falei que seria eu.

— Deixa ela quieta, pai. Ela precisa do tempo dela.

— Você é quem sabe. Mas, se precisar de mim...

— Eu sei... — e até ri, em meio ao choro, do quanto eu podia contar com ele. Até demais... Mas eu não ia permitir que dr. Alberto interferisse. A Camila é problema meu, mesmo que a culpa seja dele. Só eu posso resolver...

— Qual a razão? — ainda se mostrava preocupado.

— Preciso responder?

— O que você disse a ela?

— Em resumo... O que eu não disse, ela deduziu. — suspirei pautado. A voz quase que não saiu.

Ele ficou em silêncio. Sentimento de culpa? Uma piada! Pro dr. Alberto tudo na vida tem uma solução. Se abusar, até morte ele acha que consegue dobrar...

— Tome o tempo que for necessário, filho. Vá atrás dela, insiste, conversa bastante. Uma hora você vai conseguir. Se não... você já sabe...

— Tudo bem...

— Boa sorte.

E desliguei o telefone.

Eu sei que ele moveria o céu e o inferno pra trazer a Camila pra mim, pela responsabilidade por eu tê-la perdido ser inteira dele. Mas eu não queria esse caminho. Minha mulher acuada, fazendo a vontade dele por medo ou ameaças. De jeito nenhum! Se pudesse, manteria a Mila longe dele pelo resto da vida.

Dr. Alberto é um homem calculado. Como num jogo de xadrez, ele nunca move uma peça sem pensar nos desdobramentos dali, até o final da partida.

E esse foi o meu problema e da Camila, principalmente, quando ele escolheu o lado do Arthur e da maluca da filha dele pra jogar.

Pesou as consequências e acabou optando por livrar a doida da condenação pesada, a fazê-la pagar pelo que causou à minha esposa.

Afinal, o crime que a Samara cometeu era grave demais.

Agora, quem pagava pela escolha dele era eu, já que não tive condições de enfrentar dr. Alberto Nunes.

Se fosse só por mim... Foda-se! Ia pra cima de qualquer jeito. Com a cara e a coragem. Mas pensando na Mila, sinceramente, não sei até onde meu pai seria capaz de ir. E confesso que não tive coragem de pagar pra ver.

Todo o meu problema se resume a isso: eu não sou mais um só. Minha metade, a razão da minha existência, faz parte de mim agora. Eu não posso simplesmente chutar tudo pro alto, entregá-la aos leões e fazê-la sofrer as conseqüências de uma briga que não é dela.

Se errei na escolha? Não faço ideia. Mas agora já tá feito. Tarde demais...

Só me resta correr atrás do prejuízo.

Se é que ainda tá em tempo... 

***

Levei uma meia-hora pra conseguir me mover.

Olhando as coisas dela no armário, chorei de novo.

Não é possível que isso tá acontecendo... É muito foda fazer a ficha cair. Mas eu precisava deixar a deprê de lado e tomar uma atitude.

Primeiro, a Camila devia tar sem nada. Ela tinha trazido tudo pra cá. 

Pedi à dona Cleusa pra ajeitar meia-dúzia de peças de roupa na mala, pro Chico levar até ela. E nada mais. Queria que ela voltasse pra casa de qualquer jeito. Nem que fosse por falta de calcinha limpa.

A Mila também ia precisar do carro. Ela usava meu Audi desde que se mudou pra cá. Apesar da certeza que iria recusar, o Chico deixaria o carro na garagem do prédio dela.

Enquanto tomava o café, encarava o lugar dela ali, na mesa, intacto. Vazio.

Não consegui nem terminar o sanduíche. Em dois segundos, já tava com o celular na mão e o número dela na tela.

Como previsto, não atendeu. Tentei outras duzentas vezes, como se minha existência dependesse daquela ligação. Nada...

Sem opção, deixei recado avisando da mala de roupa e do carro.

Perto das onze, tentei de novo. Finalmente ela me atendeu. Falou comigo, distante, pro-forma, mas com gentileza. Desliguei, arrasado.

Tava perdido sem ela.

***

Eu mantive os seguranças resguardando a Mila, por conta da Samara ainda tar na área. E, por isso, sabia que ela não saiu de casa.

Na hora do almoço, a Mila deixou o prédio dela a pé...

— Onde você tá indo?

— Pára de me vigiar, Cristiano!!! — cuspindo fogo pelo celular. — Cadê eles??!

— Em algum lugar perto daí.

— Tira esses brutamontes de cima de mim!

— Eu não vou, Mila. Não posso. Você sabe disso...

— Quer saber? Tomara que a maluca me pegue de novo e acabe com a minha vida dessa vez. Quem sabe assim, você aprende a não dar pra trás e enfrenta seu pai de uma vez! — mais que previsto, bateu o telefone na minha cara. Merecido...

Por via das dúvidas, liguei pro dr. Alberto e pedi mais dois seguranças na cola da Camila.

Era neurose. Eu sei. Mas eu não podia nem pensar na Samara livre e minha mulher fora de casa.

Meu pai, óbvio, não me negaria nada àquela altura. Por mais absurdo que o pedido pudesse parecer.

A Mila tinha ido ao shopping perto da casa dela. Até pensei em ir atrás, mas desisti.

Era foda abrir mão dessa convivência com ela. Mas eu precisava ter paciência e dar tempo ao tempo, que é a única forma da raiva dela passar.

Se é que passaria algum dia...

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora