CAPÍTULO 131 - Almoço a convite do dr.

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Outro momento descontraído do Cristiano com o pai... 

Apesar de tudo, tem que dar o braço a torcer que dr. Alberto bem que se esforça, né? Afinal, o mesmo trabalho que o filho teve em reconquistar sua esposa, o pai tem pra reconquistar seu filho.

Será que ele conseguiu?

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**Cristiano**

Quarta-feira, duas semanas depois de reatar meu casamento, meu pai me convida pra almoçar, só nós dois.

Considerando sua rotina, almoço com dr. Alberto sem agendamento prévio de quatro meses era algo perto de um milagre. 

Tenho que dar o braço a torcer que ele tá, pelo menos, tentando....

Um bistrot próximo à Performer que ele adora e eu só frequento com ele, e lá fomos... 

E não é qualquer um que ele leva lá...

Conversávamos sobre amenidades, até o assunto principal das nossas vidas nas últimas semanas vir à tona...

— Estão bem? — os olhos curiosos fixos em mim.

— Muito.

— Ainda à base de refeição em shopping?

Hum, hum...

— Pensou em levar D'Ana para cozinhar para vocês?

— Cogitei. Minha mulher podou.

— Incompreensível...

— A Camila dá as regras, pai. Eu cumpro. Simples assim.

— Meu filho um submisso. Quando imaginaria...?

— Quem entregou a faca e o queijo na mão dela não fui eu. — outro assunto indigesto. Melhor parar por aqui senão é o fim do almoço reconciliação com dr. Alberto.

— Bem... Pelo menos acertei te trazendo aqui.

— Em cheio. — eu estraçalhava meu filé à Chateaubriand numa fúria que meu velho não ia deixar passar batido.

— Pensa em levar sua esposa em casa para um almoço em família quando?

— Não conte com isso. Se acontecer um dia, vai ser daqui um século.

Ele me olhou de soslaio pela lateral do óculos.

— Primeiro, tenho que trazer ela de volta pra mim. Depois, pra nossa vida. Você, com sorte e se tudo correr bem, tá no final da fila.

Ele respirou fundo e voltou a atenção à lagosta com ervas, seu prato predileto no bistrot.

— Você podia ter feito um esforço pra se aproximar dela, pai. Antes que desse alguma merda... — e aproveitei pra pontuar a falha do dr. Alberto que talvez seja incorrigível.

— Não houve ocasião suficiente.

— Empenho ou ocasião?

— Talvez um pouco dos dois.

— Pelo menos, reconhece que tá em dívida com ela.

— Reconheço. Mas seu velho até que merece um desconto... — e deu um gole no vinho. — Foi a primeira nora que você trouxe em casa.

— A primeira e última!

Ele sorriu de novo.

— Primeira e última. — e levantou a taça em brinde pra mim. — E pode contar que farei o possível para trazê-la para o meu lado. 

— Sinceramente, acho que não dá mais tempo.

— Não custa tentar. O que eu tenho a perder?

— É verdade. Nada a perder...

Voltamos a atenção pros pratos.

Mais um tanto em silêncio e ele retoma a conversa. Dessa vez, sobre um assunto que nem imaginaria meu velho tocando.

— Você foi mesmo o primeiro dela?

— Fui. — até hoje me custa acreditar nisso...

— Ela quem disse?

— Não. Eu descobri.

— Como?

— Caralho... pai! Não vou entrar nesse detalhe com você.

Ele arqueou a sobrancelha, quieto.

Dr. Alberto em regra é bem discreto. E são raros os assuntos que atraem a atenção dele. Esse, por incrível que pareça, parecia ser um deles.

— Bom... Em resumo... Ela não me disse nada. Nunca. Quando tava rolando... — e movimentei mão, substituindo as palavras dispensáveis. — Eu via que tinha alguma coisa diferente nela. Não era só a inexperiência ou a dor, que depois ela me contou que sentiu muita. Rolava um mistério ali... — e molhei a garganta com água. — Assim que concluímos... — mais uma pausa. —Tirei a camisinha e era sangue em tudo. No colchão, na perna dela, no meu pau...

— Como você reagiu?

— Na hora, fique puto. Quase parti pra cima dela por me esconder. Mas, quando a ficha caiu, foi uma das melhores coisas que me aconteceu.

— E a reação dela?

— Ameaçou chorar, quando eu comecei a tirar satisfação. Pediu pra eu não ficar bravo. Meiga... Do jeito dela... — essa hora eu já ria abobado. A cara idiota digna de foto. Nem meu pai resistiu e me devolveu um sorriso que nunca vi nele.

— Por que ela escondeu?

— Vergonha... Insegurança... Disse que tinha medo de eu desistir dela se soubesse. Mulheres, pai. Outra espécie... Vai entender.

— É verdade. Outra espécie... — e o olhar do meu velho se perdeu no horizonte. Parecia submerso em uma boa lembrança. Sei lá... Não conheço muitos os detalhes da história dele com a minha mãe.

Até já tentei arrancar de ambos, em diferentes momentos, mas nunca obtive mais que as mesmas informações. Só sei que, contra todas as previsões lógicas, ele se dá bem pra caralho com dona Valentina e ela é a única pessoa que conheço capaz de amolecer o coração de pedra do meu velho.

No mínimo, deve existir boas razões pra isso.

Seguimos conversando outros assuntos, principalmente sobre a Performer.

Por incrível que pareça, esse rolo todo tava me reaproximando do meu velho.

É foda dar o braço a torcer, mas, no fim, tava até legal.

Definitivamente dr. Alberto não dá ponto sem nó. Descaradamente, ele se aproveitava da minha guarda baixa pra se reaproximar.

Derrotado, carente e sem rumo do jeito que eu andei, não existia melhor situação pra ele atacar. Eu até devia, mas resolvi não me opor. Afinal, ele é meu pai. Nunca vai reconhecer seu erro. Isso eu sei. Mas ele tá do meu lado dessa vez.

Dr. Alberto é assim. Bate e assopra. Arranca seu órgão mais vital do corpo depois oferece a mão pra você se reerguer. Autoritário, arbitrário, prepotente as vezes. Mas é meu pai. Com o caminhão de defeitos, algumas virtudes e habilidades invejáveis, ele é o meu pai.

Mas estranho ele não tocar mais no assunto de eu sair fora com a Camila. Justo isso que deveria tirar o sono dele à noite.

Sei lá... Só sei que ele é tem que ficar bem ciente que eu não vou desistir. Até por isso, deveria ser o primeiro a surgir com propostas indecentes pra me convencer a permanecer debaixo da asa dele, dizendo que isso aqui é o Céu. Longe daqui, eu tô no inferno...

Bom, final de ano tá aí já... Festas e essas coisas de família... Por enquanto, vou seguir pesquisando as opções e, em Janeiro, se eu encontrar uma alternativa que seja do agrado da minha mulher, eu retomo a conversa com meu velho. Também não adianta nada ficar só latindo e não partir pra cima, né?

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora