CAPÍTULO 118 - Dr. Alberto sendo... dr. Alberto

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Esse pai do Cristiano não facilita mesmo. Mas... Já passou da hora de escutar uns desaforos... Vamos ver o que rolou nesse encontro bombástico...

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**Cristiano**

Apesar de não conseguir muito resultado, eu não perdi a esperança dela voltar pra mim.

Cabulei o trabalho outra vez na segunda-feira. Nos últimos dias, vinha investindo parte do tempo ocioso, descarregando a energia acumulada pela raiva e a falta de sexo nas aulas de Muay Thai. Pelo menos, mantinha a saúde em dia, já que o resto tava uma merda...

A casa continuava vazia. Não via sentido mais naquele ap. sem a minha mulher lá...

Ela é a rainha do meu lar, a dona da minha vida e da minha alma. Difícil reconhecer e dar valor quando se tem todo dia. Mas, fica dois, cinco, sete dias longe pra ver o que acontece...

***

À tarde, resolvi aparecer no escritório. Desleixado. A camisa surrada, a barba por fazer... Mas foda-se! É o que tem pra hoje... Pegar ou largar...

Já fazia dias que não dava o ar da graça por lá. Fora que ainda devia uns relatórios pra Controladoria.

No meio da tarde, liguei pra ela quando ela voltava com o Chico pra São Paulo.

Pra variar... só se esquivando e ocupando o tempo livre com baladas...

Tava foda engolir essas escapadas da Camila. Mas com que direito eu podia exigir qualquer coisa? A merda que desabou em cima da gente veio inteira do meu lado.

***

No final do dia, participei de uma reunião com clientes a pedido do dr. Alberto.

Assim que os caras foram embora, sem surpresas, ele me pegou de jeito na sala.

— Que está havendo?

— Problemas...

— Não quer falar?

— Não.

— Não posso ajudar.

— E nem conseguiria.

— E ela?

— Escapando.

— Ainda?

— Talvez nunca volte.

— Por qual razão?

Revirei os olhos, puto. Acho que dava pra dispensar explicações.

— E desde quando isso é problema?

— Você sabe qual o problema, pai!

— Pelo amor de Deus, Cristiano!

— Você preferiu proteger aquela vagabunda a ficar do meu lado e da minha esposa!

— Sem sentimentalismo. Você não é disso.

— Você entende perfeitamente qual é o ponto, dr. Alberto, porque você não é burro!

Ele me encarou por cima dos óculos, me repudiando com o olhar.

— Se num caso sério como esse, você não ficou do lado dela, pai, quando a Camila vai poder contar com você?

Cercado, ele não respondeu.

— Por que escolheu ficar contra a gente?

— Eu não fiquei contra vocês. E você sabe as razões, Cristiano.

— Não, pai! Eu não sei. Pra mim você preferiu livrar a cara de uma bandida, que defender a sua nora!

— E o que a Camila tinha a perder?

— Ela passou a noite nas mãos dos seqüestradores sem saber o que ia acontecer...

— Eu entendo. E depois?

— A Samara devia pagar pelo que fez. Só assim essa doida tinha alguma chance de aprender que o mundo não tá à disposição dela.

— A Samara está perdida, Cristiano. As dificuldades que Arthur vem passando não são poucas.

— E você ainda queria me juntar com essa maluca. Isso foi, no mínimo, bizarro.

— Isso foi antes do sequestro.

— E desde quando o sequestro mudou o que a Samara é?!

— Para os pais, um filho nunca é caso perdido... O dia que você tiver os seus, talvez entenda o que quero dizer.

— Talvez a Camila nunca me perdoe por fazer parte dessa tramóia.

— Isso só depende de você. Se quiser tê-la de verdade... — e deixou a frase no ar.

— Disse tudo, dr. Alberto! De verdade. E não forçada a ficar comigo.

— É possível influenciar a opinião dela. Você sabe disso...

— As vezes tenho vergonha de ser seu filho.

Ele não replicou a provocação.

— Você subestimou a Camila, pai. Achou que, porque ela gosta de mim, podia engolir qualquer história que ia ficar tudo bem.

Outra vez o silêncio. Mas, tava com um semblante pensativo.

— Esse foi seu principal erro, dr. Alberto. Subestimar a minha mulher.

Nada... Não ressoava.

— Ainda que eu consiga que ela volte pra mim, talvez a Camila nunca te perdoe.

— Talvez não. — finalmente um sinal de vida...

— E você ponderou essa hipótese antes de escolher a Samara?

Ele se calou outra vez, pensando na resposta.

— Eu assumi o risco, Cristiano. O estrago para mim, em relação a minha nora, é muito menor do que seria para o Arthur em relação a filha dele. — eu não concordava. Mas não deixava de ser uma boa resposta.

— Bom... Talvez hoje você tenha razão. Mas, daqui uns anos, quando os netos tiverem por aí... — e larguei a ideia no ar.

Eu sei que esse assunto é o único capaz de tirar o sono do meu pai. Afinal, todo carrasco de coração de pedra tem seu ponto fraco. O dele é a família. A continuação da espécie. Sangue do seu sangue. O poderoso e inabalável clã dos Nunes.

— Ainda tenho um bom tempo até lá. — desconversou. Mas tava incomodado.

— Acha que consegue reverter?

— Devo ao menos tentar.

— Não conte comigo.

— E por quê?

— Porque você merece pastar na mão da Camila, pai! Como eu tô pastando agora! Só pra sentir o gosto e ver se, da próxima vez, não a subestima do jeito que fez.

Ele expirou um não-sorriso forçado. A cara indigesta de quando a conversa não desce bem.

— Vou pra casa. — e dei as costas pra ele.

Mas, antes de sair...

— Talvez seja melhor para você nem retomar essa relação. Está te fazendo mal.

— Se você cogitar qualquer contra a minha mulher depois do que fez, dr. Alberto, eu juro pelo que você pensar que nunca mais vai ver a minha cara na sua frente. Não apareço nem pra jogar a última pá de cal em cima do seu caixão! — e soquei a porta atrás de mim com uma raiva beirando a insanidade. Queria que tivesse partido no meio.

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora