E aqui o Kiko dá um cheque-mate no pai, avisando que a vida que dr. Alberto planejou pro filho não é a única opção que ele tem ...
Mas, será que esse pai ligeiro tá dando essa confiança toda pro filho..?
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**Cristiano**
Terça-feira completava seis dias que a gente tinha voltado pra debaixo do mesmo teto. Retomei a rotina do trabalho, o que, sem novidade, não passou despercebido pelo meu velho.
Fim de tarde, fui chamado na sala dele pra prestar contas sobre a reunião que havia acabado de encerrar com os novos clientes, o que tomou exatos três minutos do nosso tempo. Já que, o que interessava mesmo era saber da minha vida com a Camila.
— E estão vivendo como?
— A base de sexo, banheiro apertado e comida de Shopping.
— Isso é bom?
— Com ela, pai? Até o inferno.
Ele me devolveu um dos seus raros sorrisos.
— Voltam quando para casa?
— Talvez nunca.
— A razão?
— Ela não consegue encarar quem eu sou.
— Por que?
— Medo, rejeição...
— Isso é você.
— Não pra ela, dr. Alberto. Ela se envolveu com outro Cristiano, quando a gente começou.
— Que não existe.
— Pra ela existiu. E é aí que tá o problema. Ele era compatível com a Camila. Eu não sou.
— E como vai resolver?
— Não sei. Você podia me ajudar, hein...?! Que tal? Sempre acha solução pra tudo. — e arranquei um meio-sorriso dele. — Até a Samara, você livrou da cadeia. — eu devia, mas não consegui deixar essa de lado.
— Bom... Você já pensou em alternativas. — como sempre, ele não passa nem perto de comprar minhas provocações.
— Já.
— Quais?
— Vou direto pra que tem a maior chance de dar certo.
E me calei, pra ver se dr. Alberto tava realmente interessado em saber.
— Qual é? — ele tá interessado...
— Ir embora com ela daqui.
— Para onde?
— Estados Unidos, Inglaterra. Ainda não sei.
— Ela quer te afastar da sua família. — não foi uma pergunta.
— Sou eu, pai, que quero afastar ela de tudo que não é compatível.
— Inclusive eu e sua mãe. — outra não-pergunta.
— Principalmente. — talvez por essa ele não esperava. Logo se calou, pensativo.
— Se é esse o caminho, por que me pede ajuda?
— Aí é que tá. A decisão não tá tomada. Por isso eu dividi com você... Pra você me ajudar a pensar.
Dr. Alberto mexendo desconfortável na cadeira não é algo que se vê todo dia. Mas eu tava adorando prensar meu velho na parede. Afinal, ele fez por merecer. Acho que em qualquer cenário projetado, ele não previa o "filhinho do papai" aqui indo tão longe.
— E o que me diz?
— Para mim, a decisão está tomada e você só está me comunicando. — esse é dr. Alberto saindo pela tangente quando sente o raro gosto da derrota.
— Pode ter certeza que não, pai. Eu só queria enxergar outra solução que não fosse essa.
— É uma mudança bastante brusca.
— Concordo.
— E você está disposto?
— Sem nem pensar duas vezes.
— E ela?
— Ela quer ficar comigo. Se for o único jeito da gente tar junto... — e deixei a frase sem terminar.
Eu podia ver a apreensão nos olhos dele por baixo dos óculos, mas a feição, assim como o resto, sempre impassível.
— Posso contar com a sua ajuda?
Ele ergueu a mão no ar num gesto de dúvida e depois recolocou sobre mesa.
— Quero conversar com ela.
— De jeito nenhum!!! — me exaltei.
— Se quiser minha ajuda, devo no mínimo ouvir os envolvidos.
— O que você precisa saber, eu já disse aqui. Deixa a Camila fora.
— Ela tem medo de mim. — outra não-pergunta.
— Ela tem medo de mim, dr. Alberto. Imagina de você? Ainda mais depois da palhaçada do sequestro.
— Você pensou em acompanhamento psicológico para ela?
— Por qual razão?
— Algum trauma não digerido.
— Fica tranquilo que o trauma dela não tem relação com o sequestro diretamente... — puxei o ar com força, puto da vida.
— Por isso, eu deveria conversar com ela. Eu sei que o problema sou eu.
— Não só, pai... Você, lógico, foi a cereja do bolo, mas não é o único. É a combinação de coisas da minha vida que torna a gente incompatível.
— Está difícil ajudar.
— Você é o melhor que eu conheço. Sei que vai pelo menos tentar. — e já pulei da cadeira, logo depois de encher a bola dele.
Quando tava com o pé pra fora da sala...
— Você tem alguma coisa contra ela, pai? — acho que nunca tinha perguntado isso pra ele.
Ele sorriu de verdade, daqueles raros momentos "ternura" do dr. Alberto.
— Alguém que faz meu filho chorar, em princípio...
— Ela é a única que pode.
— Se ela pode. Do meu lado...
— Beleza... — e fechei a porta atrás de mim.
Confesso que nunca me senti tão bem depois de uma conversa com meu velho. E acho que passei o recado.
Apesar de ainda depender dele, queria que soubesse que ficar na Performer, debaixo da asa dele, não é a minha única opção. Só espero que ele não pense que eu tô blefando.
Porque, sinceramente, eu não tô...
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(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...
RomanceEm meio a um ginásio lotado e duas torcidas adversárias em guerra, surge uma visão inebriante atrás do gol. Algo inexplicável, que mexe com todos os sentidos... Impossível de definir ou... descrever. Sem pensar duas vezes, Cristiano abandona os co...