CAPÍTULO 43 - Pica-das-Galáxias

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Camila passando perrengue no trabalho, além da vida pessoal que já tá um caos... Será que ela se sairá bem nessa visita? Isso é o que vamos descobrir... ;-)

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**Camila**

Era dez pras duas e eu tava prestes a implodir de tensão. Suava frio; as mãos formigavam; não conseguia mais sentir direito os pés...

Minha chefe deu tanta pressão em mim e no Vitor, o outro estagiário do Marketing, por causa dessa visita, que eu chegava a delirar de pavor em pensar se algum mínimo detalhe desse errado.

O roteiro com o tal do pica-das-galáxias já tava traçado no gabarito.

E era sempre assim... Um anônimo. Não sabíamos nada dele. Quem era; o que fazia; qual o nome. Só conhecíamos o tamanho da pica de ouvir falar e a sua origem: diretamente das galáxias.

Como eu sentava de costas pro resto do escritório e meu computador era o primeiro a ser avistado por qualquer um que se aproximasse da nossa baia, eu, a estagiária-café-com-leite, no instante em que o famigerado pica-das-galáxias pusesse o pé ali, só tinha que enterrar a cabeça dentro de uma planilha extremamente pirotécnica e prender a respiração pra parecer mais insignificante que um vaso atrás da porta.

Se não desmaiasse, juro que já ia me considerar no lucro depois dessa.

***

Lá pelas duas e meia começo a escutar vozes... Muitas vozes. Todas masculinas. Parecia um bando de lobos uivando dentro da matilha. A exceção era a voz estridente da minha chefe que, a partir de um certo momento, começou a se sobressair e, até onde eu consegui absorver, ela apresentava nossa área pro tal do investidor, em polvorosa.

Entrei em módulo hipnose e fixei um número dentro da planilha, rezando um terço inteiro pra que aquela maldita visita-tortura finalmente chegasse ao fim. Mas a mulher não parava de falar um segundo sequer, pro meu completo desespero.

E não foi tão difícil deduzir o porquê, já que era a chance que a lambisgóia tinha de se mostrar pro pica-das-galáxias e quem mais estivesse ali, lambendo o chão pra ele passar.

De repente...

— Camila? — uma voz me chama.

Eu tava tão em órbita, que não sabia se era um delírio ou se eu tinha realmente escutado o chamado.

— Mila? — e quando a voz repetiu meu nome...

Não... Isso não é possível... Devo tar muito fora de mim...

— Mila? — e a voz me chamou pela terceira vez, dessa vez sussurrando baixinho em meu ouvido.

Instintivamente, olhei pro lado e, como se não houvesse mais nada de bisonho a me acontecer,  aquele desalmado se materializava ali, com seu rosto a milímetros do meu.

— Kiko??? — eu devia estar pálida.

— Oi, linda... — e me surpreendeu com um beijo na têmpora.

Eu não sabia o que fazer.

Parecia um sonho... Não! Um pesadelo! Nem sei definir.

Girei a cadeira e levantei me escorando como podia na mesa.

— Oi, Kiko... — e finalmente o cumprimentei.

— Oi, Mila. — ele atravessou meu ombro com aquele braço sarado, aproximou os lábios do meu rosto e me deu um beijo a milímetros da boca, daquele mesmo jeito que fez, antes de ficarmos a primeira vez.

E tava absolutamente maravilhoso... A camisa com os primeiros botões abertos, expondo a corrente de ouro, mangas dobradas até o meio do antebraço; a calça social perfeita, a mão no bolso, a outra coçando a cabeça do jeito que ele sempre fazia.

Noooossa... Era muito... muito... Nem sei dizer...

Eu sentia vontade de perguntar o que significava aquilo; ele... Ali... Mas não conseguia nem formular a frase.

— Finalmente eu conheci onde você trabalha. — e me lançou um sorriso sutil, daquele jeitinho fofo dele.

Que raiva!!!

— É... — foi tudo que saiu da minha boca.

— Fica tranquila aí, que eu vou voltar pra lá agora.

E quando passei o olho ao redor, havia umas dez pessoas encarando a gente, incluindo aí o seu Torres, presidente do banco, toda a corja de diretores dele e a lambisgóia da minha chefe, com a pior cara de demônio que já a vi fazer.

Meu Deus!

Eu queria me reduzir a nada e me enfiar debaixo da mesa.

Ou melhor! Dentro da lata do lixo.

— Até daqui a pouco, linda. — o Kiko ainda me roubou outro beijinho larápio, me deixando sem chão, e seguiu andando corredor afora, arrastando aquela corja toda atrás dele.

Eu sentei com cuidado pra não perder o resquício que me faltava do equilíbrio e evitei olhar ao redor. Pelo escritório emudecido, já podia fazer ideia que, àquela altura, um elefante cor-de-rosa batendo pratos devia estar chamando menos atenção que eu.

Quando caí em mim e comecei a processar o que tinha acontecido... De verdade... Me custou a acreditar que ele tinha feito aquilo.

Eu senti vontade de me atirar pela janela; gritar; atirar minhas coisas nele... Tipo um surto alucinado.

A gente tava no meu trabalho, caramba!! Será que nem isso ele respeitava??!

Senti uma pontada de vontade de chorar quase irreprimível, mas me controlei. Continuei olhando pra planilha e nem preciso dizer que não consegui mais me concentrar em qualquer coisa depois do episódio.

***

Quando fazia uns dez minutos que o pesadelo havia passado, o telefone da minha mesa tocou.

Era da Sala Dois, a principal sala de reuniões do banco.

— Camila. — eu atendi dizendo meu nome.

— Camila. É o Michel. Você pode dar uma chegada aqui na Dois...?

Eu congelei antes de ter condições mínimas de responder.

— Claro...

Ai-Meu-Pai! O que é que ele quer comigo? Ou eles? Sei lá... Só sei que o Michel é o principal gerente de vendas do banco, junto com o Diego, e eu não podia me recusar a atender o pedido dele. Ou será que podia?

O percurso entre a minha mesa e a tal sala de reunião foi o mais angustiante da minha vida.

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora