CAPÍTULO 98 - Prepotência em pessoa

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E tava demorando mesmo pra doida da Samara ir pra cima da Mila... Vejam só como foi isso...

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**Camila**

Ela veio arrastando sua petulância até o canto onde eu tava, o nariz empinado, as mãos na cintura, a pose soberba. A prepotência em pessoa...

Palavras de conforto? Gentileza? Dessa coisa? Faz me rir, né? É mais fácil o céu engolir a Terra, que isso aí se solidarizar com outro ser-humano.

— Não me diga que você foi sequestrada também?! — eu não falei...?

— Não... Imagina... Tô aqui só passando o fim de semana mesmo... — ironizei.

Ela expirou um riso de desdém.

— Logo percebi... Afinal, quem é que se daria ao trabalho de sequestrar uma roceira que não tem onde cair morta como você?

— Escuta aqui, Samara... — e cuspi o nome dele com nojo — Volta lá pro seu showzinho de vítima, que não tô nem um pouco a fim de te atuar...

— Escuta aqui você, garota!! Tá pensando que fala com quem, hein? Não sou daquelas roceiras lá da várzea de onde você vem, não, pra falar comigo nesse tom!

— Frustrada!!! É isso que você é, Samara! Frus-tra-da!! Gente baixa e infeliz que precisa se impor pela arrogância, pra alguém perceber que você existe no mundo!!!

— Piranha!!! — e veio pra cima de mim, sem pensar duas vezes.

Eu sai correndo, mas ela me pegou pelo cabelo.

— Me solta, sua doida!! — eu gritava, desesperada, tentando arrancar a mão dela.

Minha sorte é que o Cardoso tava perto e tem o dobro do nosso tamanho. Tirou a maluca de cima de mim sem nem fazer muito esforço.

— Meninas... Eu sei que vocês tão nervosas, mas vamo controlar os ânimos, senão levam vocês em cana junto com os caras. — Cardoso sabiamente nos aconselhou e já carregou Samara pro outro canto da garagem, longe de mim. Quanto mais distante, melhor...

— Você ainda me paga por isso, sua piranha desgraçada!! — ela ainda gritava palavras gentis, enquanto era arrastada pelo segurança.

Eu nem me dei ao trabalho de revidar. E adiantaria alguma coisa? Praquela maluca? Acho que não, né?

Joel, depois que deixou o policial ferido nas mãos do paramédico, foi conversar com um homem que chegou numa das viaturas, mas não tava fardado. Era um sujeito sisudo, com uma cara de quem desconfiava de tudo e todos e ficava só de longe, parado feito um poste, observando o ambiente ao seu redor. Parecia procurar por coisas que não tavam visíveis aos olhos comuns. Tinha também um bloquinho na mão e tomava notas o tempo todo.

De repente...

— Senhorita? — o homem não-fardado se aproxima da Samara, assim que conclui sua conversa com Joel. — A senhorita terá de vir comigo até a delegacia.

— Por quê?! — ela arregalou os olhos que parecia ter visto um fantasma.

— Preciso que nos preste esclarecimentos sobre o que aconteceu.

— Que esclarecimentos, o quê?! Que história é essa!? — e cresceu pra cima do pobre homem. Arrogante. Prepotente.

Ela parecia não respeitar ninguém mesmo. Pouco importava pra ela quem era o tal do homem, qual a função dele na polícia...

— A senhorita terá de nos acompanhar. Josué, leve ela até a delegacia.

— Quem é você pra me por nessa viatura de prisioneira?! — berrava, altiva, abandonando de uma vez seu papel de donzela em perigo.

— Augusto, investigador da polícia. — e se apresenta na maior tranquilidade.

— Pouco importa pra mim o seu cargo, Augusto! — e cuspiu o nome do pobre homem. — Fique sabendo que, nem morta, eu piso numa delegacia!

— Não é uma opção, dona Samara. E acho melhor a senhorita baixar a bola, que não tá falando com seu empregado, não...

Ui!! Só vi a sem-noção dobrar as orelhas, mansinha. 

— Podia ter passado sem essa, , Samara? — e disse alto meus pensamentos. Só me restava rir da cara de tacho da infeliz.

— E ela?! Não vai também???! — lógico que a coisa-patética não podia me deixar de fora da "festa".

— Juntinho com você. — ironizou o homem não-fardado, que agora sei que se chama Augusto, sem se prolongar.

— Mas não mesmo que eu vou pra delegacia sem falar com meu pai! Ainda mais, presa numa viatura! Você sabe quem é meu pai?! Nem queira saber!! — berrava aos quatro ventos, rodando seu dedinho prepotente no ar.

— Isso é excelente, dona... — Augusto ainda se dá o trabalho de debochar. — Independente de quem seja seu pai, toda ajuda será bem-vinda.

— Preciso de um telefone! — brada, exigente.

Augusto emprestou o celular pra ela, sem pestanejar. Parecia até calejado em lidar com tipinhos como a Samara.

— Pai! Fui sequestrada! Tem um homem da polícia querendo me carregar pra delegacia! Preciso de ajuda, paizinho... — Samara agora berrava ao telefone com seu pai, retomando o papel teatral de vítima. Ai que tédio!

Enquanto ela dava continuidade à sua encenação circense pelo celular, uma viatura levava o seqüestrador não ferido, preso, enquanto o outro, machucado, mais o policial ferido eram removidos pelas ambulâncias, que logo deixaram o local.

Eu não tinha a menor ideia de onde eu tava. Mas o lugar era bonito. As casas em volta eram arrumadas. Parecia o condomínio onde meus pais moram, em São José dos Campos.

E o pesadelo, acho que finalmente tinha acabado.

Assim que Samara desligou o celular...

— Vou esperar meu pai chegar, aqui! Ele mandou que eu não saísse daqui.

— Sem problemas. Enquanto isso, a senhorita me acompanha até a sala, ali dentro, e me antecipa o que aconteceu. Depois, dona Camila fará o mesmo. — Augusto parecia não querer perder tempo.

Samara entrou na casa acompanhada do investigador pra relatar sua história triste. Enquanto eu continuei do lado de fora, na companhia do Cardoso e do Joel, aguardando minha vez de falar com o investigador.

Os policiais, que ficaram por lá, terminavam de examinar o local e levantar provas.

Cardoso foi buscar um papel pra eu limpar o corte no braço, que apesar de ter sangrado bastante, não aparentava nada sério, enquanto Joel me explicava onde eu tava. Ele respondeu algumas perguntas, mas sem entrar em detalhes. Tentei saber como me acharam.

Joel começou a me contar a história, quando, de repente, surge meu gatinho feito um doido...

(COMPLETO) Meu mundo é dela! - A história da Mila e do Kiko...Onde histórias criam vida. Descubra agora