Júlia pareceu ver o Papai Noel em pessoa.
– Oh, meu Deus! Será que ele vem trazer o presente adiantado hoje?
As vozes e os risos das duas atingiram uma oitava audível apenas por cães, e a excitação de ambas estava me dando nos nervos. Porque eu sabia que elas estavam muito animadas à toa, e eu não queria que elas me animassem assim.
– ELE NÃO VAI VIR! - Gritei, sobrepondo minha voz às vozes delas.
Júlia e Sophia olharam-me espantadas, sem sorrir agora, enquanto um silêncio constrangedor instalava-se no ambiente.
Suspirei, tentando ficar calma.
– Desculpem.
– Tudo bem - Júlia disse, levantando-se e puxando dos braços de Sophia o travesseiro que ela ainda mantinha apertado - Você parece querer ficar sozinha. Vamos te dar um pouco de privacidade.
– Não fiquem chateadas comigo, por favor. Eu só não quero que vocês acreditem nisso. Ele não vem.
– Não estamos chateadas - Júlia falou, e felizmente eu consegui acreditar no seu tom de voz - Mas você deveria se deixar acreditar em milagres. Às vezes, um pouco de esperança é a única coisa que nos resta.
Dizendo isso, saiu do quarto com Sophia em seus calcanhares, deixando a porta aberta.
Talvez ela estivesse certa. Talvez esperança fosse a única coisa com a qual eu pudesse contar, mas eu temia o tamanho da queda se eu acreditasse que podia voar.
De qualquer forma, no final das contas pude constatar que eu não estava totalmente errada.
Ele não apareceu.
– Vamos ao shopping!
A voz entrou em meu quarto rápido demais para meu raciocínio lento, enquanto eu deixava o livro de lado na cama e tentava identificar quem havia acabado de praticamente arrombar minha porta.
– Ah, estou bem aqui, Júlia. Te acompanho outro dia.
– Ninha, não foi uma pergunta. E não há "outro dia", preciso comprar seu presente.
– Não precisa não!
– Qual é, Ninha - Interrompeu Sophia, entrando no quarto tão rápido quanto Júlia. - Deixa de ser desanimada, vamos passear!
– Vocês não vão comprar nada pra mim!
– Ei, você não manda na gente. Agora, levante-se e se vista. Nós duas já estamos prontas, e você está atrasando a programação do nosso domingo feliz.
– Eu realmente prefiro...
– Você não tem nada pra fazer aqui, Ninha!
Vi a cutucada discreta de Júlia no braço de Sophia. Lembrei de como as duas estiveram felizes por ontem, pensando que eu receberia a visita de uma certa pessoa. Talvez estivessem se sentindo culpadas porque achavam que me fizeram acreditar nos devaneios delas, e de certo modo me agradou saber que aquele assunto não surgiria em nossas conversas hoje.
– Podemos pegar um cinema.
– É, tem alguns filmes em cartaz que parecem ser legais. Acho que todas nós optamos por uma comédia, certo? - Sophia perguntou.
– Sim! - Júlia respondeu pelas três. - Ninha, ainda estamos te esperando aqui.
Certo. Elas não me deixariam mesmo em paz.
– Ok. Vocês compram os presentes que eu escolher, certo?
– Não vale escolher algodão-doce e ímãs de geladeira. Vamos te dar presentes de verdade!
Droga. Elas me conheciam.
– Vamos te dar dez minutos para se trocar, e se nós voltarmos e você ainda estiver de pijamas, se prepare para a fúria de Sophia Amorim.
Prendi o riso com a imagem que me veio à cabeça de uma Sophia minúscula fazendo ameaças e me dando soquinhos de criança. Assim, como ordenado por Júlia e Sophia, fui às compras no início da tarde de domingo.
Tentei escolher presentes baratos e sem importância, alegando que "uma lembrancinha já estava bom", mas elas se negaram veementemente a aceitar minha atitude, e no final do dia estávamos, as três, na fila do cinema enquanto eu carregava um par de botas longas e pretas e uma bolsa de couro marfim.
Vimos uma comédia com atores famosos, e não sei se era o meu estado de espírito, mas o filme era um tanto quanto sem graça.
Mesmo assim, foi uma distração útil para tirar da minha cabeça a única coisa na qual eu vinha pensando desde o início daquele domingo.
Ele.
Não que eu tivesse de fato começado a acreditar nas ilusões de Júlia e Sophia sobre Bruno, mas eu ainda estava incomodada com a atitude dele de fugir de mim.
E o que mais me incomodava era que eu não conseguia entender, por mais que me esforçasse, o que diabos eu havia feito para que ele agisse daquela forma.
Seria meu aniversário no dia seguinte, e doeu ter quase certeza de que eu não o veria. De que ele não iria me ver.
Era até mais aceitável que ele já tivesse esquecido desse detalhe, mas o pior era que, mesmo que ainda lembrasse, o que eu achava improvável, ele me evitaria, assim como fez na noite de sexta-feira.
– Gostou do filme?
– É engraçadinho. - Falei, voltando de meus devaneios.
– Nossa, você tem andado muito rabugenta esses últimos dias. Nada te agrada! O que aconteceu?
Eu deveria contar o que realmente aconteceu?
Deveria dizer a elas que eu estou apaixonada por um cliente e que ele parecia querer me evitar?
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...