Anne 41

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Ele me encarou, e no mesmo momento o cubículo em que estávamos parou de subir, enquanto as portas se abriam, indicando que havíamos chegado ao nosso destino. 

– Você sabe o que está acontecendo. - Ele disse, ainda de forma fria, enquanto pisava no corredor e segurava a porta para que eu também o fizesse.

Não respondi. Caminhei para seu lado e esperei que ele abrisse a porta. 

Segundos depois, entrávamos outra vez em seu apartamento. Sem sequer se preocupar em olhar para mim, Bruno seguiu para o corredor estreito e escuro, entrando no quarto ao final, e eu automaticamente fui atrás dele. 

Estava odiando o fato de parecer uma cachorrinha atrás do dono, mas eu simplesmente não fazia a menor ideia de como agir.

Ele finalmente jogou a mochila em cima da cama e, sem dizer mais nada, saiu.

Eu ainda podia ouvi-lo andando de um lado para o outro enquanto permanecia no quarto, sentada na cama baixa, esperando para que meu cérebro conseguisse pensar em alguma coisa para fazer. Olhei em volta e reparei que esse quarto era menor e mais simples que o dele, mas não deixava de ser charmoso. 

Um quarto de hóspedes. 

Depois de algum tempo, ouvi a campainha ser tocada e passos firmes indo para a porta da sala. Dois homens trocaram duas ou três palavras, e momentos depois a porta era fechada novamente. 

Bruno entrou no quarto que eu estava outra vez, então vi minhas malas e bolsas antes desaparecidas. Ele as depositou no chão com um baque surdo, no canto mais distante, e novamente sem me encarar, saiu do quarto, me deixando sozinha outra vez.

Não me movi por um bom tempo, mas quando meu corpo cansou da mesma posição, me deixei cair de costas no colchão, encarando agora o teto e pensando.

Os fatos eram simples. 

Bruno havia me levado para sua casa sem nem me comunicar a respeito. 

Eu não sabia qual havia sido o momento exato que ele tivera essa brilhante ideia mas agora, sozinha naquele quarto sem sua presença para tirar minha concentração, eu tentava imaginar o motivo daquilo.

Se ele estava se sentindo sozinho, um animal de estimação seria uma boa saída, além de ser uma opção mais fácil e menos trabalhosa. Por que ele havia decidido trazer para sua própria casa uma garota de programa que acabara de assumir seus sentimentos totalmente inapropriados por ele? 

Talvez, depois de tudo que eu havia dito, o peso da culpa o tivesse atingido de uma forma mais intensa do que eu esperava. 

Se fosse dessa forma, era apenas uma questão de tempo até que esse sentimento fosse se esvaindo aos poucos, fazendo com que, ao final de um mês, no máximo, ele se arrependesse.

E no final das contas, eu acabaria na merda outra vez.

Bem, talvez fosse melhor se eu resolvesse me impor e simplesmente sair dali. Ele não iria ficar sozinho por muito tempo, porque eu tinha certeza que não era a única opção de companhia para um homem lindo, rico e solteiro.

Na verdade, eu era a pior de todas as opções. 

Então por que diabos ele havia me escolhido?

Não fazia sentido.

De repente, me peguei desejando que ele não tivesse feito aquilo. Era claro que sua companhia ainda surtia um efeito impressionante em mim, mas eu não queria morar de favor na casa dele. 

Ele não era responsável por mim, e seria extremamente desconfortável viver dia a dia com a pessoa que aparentemente havia resolvido começar a me ignorar.

E se o simples fato de ser ignorada por alguém não fosse o suficiente, talvez eu devesse considerar o fato de que ser ignorada pela pessoa que eu amava era. 

Mais que suficiente, era um pouco além do que eu poderia suportar.

Ele poderia me ignorar longe de mim, então por que escolheu me trancar perto dele para fazê-lo? O que infernos ele queria com isso? Me machucar ainda mais? Me fazer ter sua companhia e, ao mesmo tempo, me sentir sozinha e descartável?

Não fazia sentido, porque ele nunca havia sido cruel.

Mas, fosse como fosse, eu não poderia aguentar aquilo. Se tudo pelo que eu passei até aquele momento não havia sido o suficiente para me derrubar de vez, aquilo certamente seria. 

O relógio do criado mudo marcava agora 21:30h, e me espantei por não ter visto as horas passarem. Reunindo toda a força de vontade e coragem que me restavam, levantei da cama e rumei para seu quarto.

Todas as luzes da casa pareciam estar apagadas. Talvez ele já estivesse dormindo.

Caminhei devagar pelo corredor, testando meu controle a cada passo. Fui silenciosa, porque não queria que ele pensasse que eu estava perambulando pela casa que não era minha. 

Cheguei em seu quarto e empurrei lentamente a porta encostada. Bruno estava outra vez de pé, em frente à grande parede de vidro, encarando os carros que passavam muito abaixo de nós. Ele trajava um pijama branco, e parecia pensativo. Ao constatar que eu estava agora dentro do seu quarto, ele virou-se para mim, me encarando com uma expressão satisfeita, e não acusatória por estar invadindo seu espaço como pensei que seria. 

– Está com fome? 

– Não. - Respondi depois de testar minha respiração algumas vezes. 

– Você precisa comer alguma coisa. 

– Não preciso de nada. 

Ele continuou me encarando, pronunciando cada palavra em um tom de voz tão calmo que chegava a ser invejável.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora