Anne 10

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Eu subia as escadas completamente ciente de que Bruno estava a alguns centímetros atrás de mim, seguindo comigo para o meu quarto. Também estava ciente de que ele estava ligeiramente bêbado, e que disse, com todas as letras, que não iria tocar em mim. O que me pegou de surpresa foi o fato de eu quase torcer para que isso fosse mentira. 

Abri a porta, dando passagem para ele logo atrás de mim. Quando ele entrou, virei a chave e fui ao seu encontro. Bruno já havia se jogado de bruços na minha cama, e se eu não soubesse do seu estado alcoolizado, diria que ele poderia estar até morto. 

Constatei que ele era de tirar o fôlego até naquele estado, mas como ultimamente eu vinha notando que ele era de tirar o fôlego em qualquer ocasião, deixei para lá. Fui até ele e tirei seus sapatos, depois as meias. Com dificuldade, puxei seu corpo mais para cima, de forma que seus pés não ficassem para fora da cama. 

Agradeci em silêncio quando ele notou minha luta e se levantou, engatinhando até encostar a cabeça em um dos travesseiros. Sentei ao seu lado, na altura de sua cabeça, ficando encostada na cabeceira da cama, depois de remover o outro travesseiro. Fiquei admirando-o em silêncio, uma coisa que eu estava me acostumando a fazer agora.

Depois de algum tempo, ele abriu os olhos e me fitou. Ao notar que eu estava o encarando, fechou-os rapidamente, voltando a ficar como antes. Quando repetiu o ato pela terceira vez, não consegui prender o riso. Peguei o livro que repousava no criado mudo ao meu lado, abrindo em uma página aleatória e fingindo ler com interesse. 

Bruno suspirou uma vez. Então se mexeu, suspirando com mais força. Depois bufou, se virando completamente na cama, enquanto eu continuava aparentemente compenetrada na leitura, fazendo muita força para não rir. Ele parecia uma criança chamando a atenção, e isso era ao mesmo tempo tão engraçado e adorável que eu tive que me segurar para não jogar o livro em qualquer lugar e abraçá-lo como fazia no andar de baixo há alguns minutos atrás. 

Imaginei um Bruno com três anos, fazendo a mesma birra, e tive a certeza que ele foi uma criança absurdamente mimada, porque era humanamente impossível alguém negar alguma coisa àquele bico de "me-dê-atenção". 

Vendo que não estava obtendo sucesso com sua estratégia de fazer manha, Bruno perdeu a paciência e, sem nenhum cuidado, afastou minhas pernas indo se deitar de bruços entre elas, repousando a cabeça em meu colo e pondo as duas mãos dos dois lados de minhas coxas. Mesmo depois do surto, ele continuava fingindo que estava dormindo. Não consegui não gargalhar. 

– Rindo do quê? 

– De você! - Falei, finalmente fechando o livro e deixando minhas mãos livres para passearem em seus cabelos outra vez. Ele bufou outra vez. 

– Você não me dá atenção. - Disse, contrariado. 

– Não seja bobo. - Falei, ainda sorrindo, tentando agora tirar a gravata embolada em volta de seu pescoço. 

Na tentativa de me ajudar, ele virou-se de barriga para cima, terminando de desabotoar a camisa que usava e jogando-a para o lado. Depois, voltou à posição original entre minhas pernas. Eu não era daquelas mulheres que ficavam "secando" homens o tempo todo, e também achava muito inapropriado certos comentários que ouvia das meninas com relação a alguns clientes que frequentavam a casa, mas eu tinha que admitir, com todas as sílabas: O homem que agora trajava apenas uma calça social, deitado em meu colo, era absurdamente gostoso. 

– Você malha? - Perguntei. 

– Às vezes. Quando tenho disposição. E você? 

– Não, eu não malho. - Falei. - Prefiro dormir. 

– Então seus hobbies são dormir e ler? - Ele perguntou, cético. – É. Acho que pode-se dizer que sim. Você prefere festinhas, né? 

– Não. Odeio festas. - Ele falou, secamente. 

– Ninguém odeia festas. - Imaginei os tipos de comemorações as quais pessoas como Bruno compareciam. - Vocês devem ter toda aquela coisa de cascata de chocolate e... 

– Eu odeio festas. E se você diz que gosta, é porque nunca foi a alguma a qual eu já tenha ido. São monótonas, com pessoas superficiais e música ruim. 

– Que tipo de música ruim? - Perguntei. 

– Blues, jazz. Essas coisas chatas. 

– Blues não é chato! 

– Pode não ser quando você estiver tomando um vinho em uma tarde chuvosa. Mas pra uma festa, é um saco. 

– Você preferiria que tocasse forró ou alguma coisa assim? - Perguntei, irônica. 

– Bom, seria mais divertido, né? - Ele disse, ainda respirando na dobra que meu tronco fazia com minha perna direita. 

– Você dança? - Perguntei. 

– Só quando estou bêbado. O álcool faz com que eu não tenha medo de ser ridículo. Olhei-o por algum tempo, imaginando uma situação em que ele pudesse ser ridículo. Era difícil. Bruno sempre seria lindo, antes de qualquer outra coisa. 

– Você me pareceu ser o tipo de bêbado meio violento. 

Ele se levantou de meu colo, agora me encarando de joelhos entre minhas pernas, com aparência sonolenta. 

– Eu não sou violento. - Ele começou, com um olhar triste. - Me desculpa por empurrar você, eu só estava um pouco irritado. - E dizendo isso, pegou uma mecha de meus cabelos com dois dedos, colocando-a atrás de minha orelha. - Eu sei que não justifica, mas... Olha, eu prometo nunca mais ser violento com você. 

Estremeci um pouco com seu toque, mas mantive a voz firme. 

– Por que estava irritado? 

– Porque aquele babaca estava passando a mão em você! - Respondeu, como se a resposta fosse óbvia. 

– Se você ficar irritado toda vez que vir alguém passando a mão em mim... 

Ele bufou, estalando a língua em tom de reprovação. Então me puxou um pouco para baixo, deixando minhas costas agora mais inclinadas com relação à cabeceira da cama.

Bruno subiu um pouco em meu corpo e voltou a deitar em cima de mim, agora repousando sua cabeça em meu peito e abraçando minha cintura.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora