Bruno 33

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– Pensei que você tivesse parado de ir nesses lugares... Pensei que tivesse te convencido... 

– Eu tinha parado... Mas uma noite eu fui... 

Duda continuou me encarando, como se me desse permissão para prosseguir. 

– Eu a vi pela primeira vez naquela noite. Ela parecia ser só mais uma menina daquele lugar, e apenas o jeito um pouco diferente me chamou a atenção. Na verdade, era o que eu achava, mas desde aquele dia eu tinha notado algo a mais nela. Mesmo que não tenha me dado conta, ela mexeu comigo, e na época eu não sabia disso. Hoje eu consigo ver o estrago que ela fez na minha vida. Duda, eu não queria gostar dela. Juro por Deus que tentei com todas as forças não sentir o que eu sinto, juro que tentei me afastar, mas quanto mais eu ficava longe dela e negava o que estava acontecendo, mais eu me via amarrado a ela.

Eu sei que deveria ter tomado a iniciativa de sumir assim que notei ter algo diferente no que eu sentia por ela. Achava que era só algum tipo de sentimento protetor, mas não imaginava que fosse se tornar isso. Eu sei que errei em me deixar levar, mas eu gostava da companhia dela. Eu devia ter notado que a partir do momento em que aquilo passou a não ser só tesão, havia algo de muito errado. Eu sei que fui estúpido outra vez, mas... Ela é adorável. Ela é diferente, é linda, é doce... Não parece ser o que é. E eu sei que estou me iludindo com isso tudo, sei que ela só estava fazendo o papel dela, mas acho que ela gosta da minha companhia também. Ela me disse que gostava... 

– Ela é uma prostituta, Bruno. O que te faz pensar que todo esse tempo ela não estava atrás do seu dinheiro? 

Eu sabia que ela estava pensando aquilo, assim como eu. Se já havia acontecido com uma mulher no passado, uma mulher que aparentemente se encaixava na mesma "posição" de Duda, e não Anne, as chances dessa mesma estratégia ser utilizada como forma de sedução e posterior golpe do baú por uma garota de programa poderiam ser ainda maiores. 

E enquanto meu lado racional insistia em manter essa dúvida pertinente viva dentro de mim, meu lado romântico, esquecido por tanto tempo, insistia em me fazer pensar que talvez, talvez ela tivesse falado a verdade quando disse que me queria por perto. Quando disse que eu havia sido a melhor coisa que havia acontecido na vida dela.

Eu estava falhando outra vez. 

Estava me rendendo à inocência, à estupidez, e outra vez cometia o erro que me fez tanto mal há algum tempo atrás. Eu não era forte o suficiente para cair de novo, por isso sabia que precisava resistir a qualquer ideia tentadora. Mas não havia como negar que era igualmente fraco para conseguir manter aquela situação como estava: Eu não conseguia esquecê-la, não conseguia deixar de querê-la, não conseguia arrancá-la de mim. 

Eu permiti que ela entrasse na minha vida com uma força desconhecida, e só agora, tentando afastá-la, eu sabia a intensidade dessa força. 

– Eduarda... - Comecei, me sentindo ser invadido por aquela conhecida tristeza que me fazia companhia por todo esse tempo - Eu não sei mais o que fazer. Simplesmente não sei. Eu tentei não gostar dela, mas não tem como... Não tem como não gostar... 

Ela continuou olhando para mim, agora com um inconfundível traço de pena em sua expressão, e eu sabia que ela não me daria conselhos os quais eu quisesse ouvir. Eu sabia que ela pensava igual a mim, sabia que ela achava que o melhor para mim, no momento, era continuar longe de Anne. Mas não era. 

– Eu não sei o que falar, Bruno... Simplesmente não posso te ajudar. 

Eu não esperava que ela pudesse. Na verdade, o único motivo pelo qual eu queria Duda por perto era para poder finalmente desabafar com alguém todas essas coisas que me atormentavam. 

Como imaginei, me senti mais leve por todas as confissões feitas, embora estivesse um pouco mais machucado do que antes, tanto por tocar nesse assunto como por ter certeza que Duda não tinha nada para me dizer.

Não poder contar com seus conselhos me deixava um pouco sem rumo, porque não havia nenhuma situação difícil sequer em minha vida à qual ela não estivesse ligada, me dando conselhos ou me passando sermões. 

A diferença era que, agora, o assunto era um pouco mais delicado. Ao mesmo tempo que eu sabia que ela também achava que eu deveria me afastar de Anne, eu sabia que ela não falaria isso com todas as letras, porque ela tinha ciência de que iria me machucar. Assim, não restava nada a ela além de não tomar partido, o que só fazia com que meu desespero tomasse proporções maiores. 

A olhei sem saber o que dizer, esperando, por um milagre, que Duda resolvesse mudar de ideia e me mandar ir atrás dela. Mas ela não faria isso. 

– Volte para o escritório. Eu sei que é a última coisa que você quer, mas talvez isso ajude. Ocupe-se. Minha mãe costumava dizer que uma cabeça vazia é a oficina do diabo.

– Eu não consigo... 

– Consegue. Você vinha sendo um diretor muito melhor nos últimos tempos. Sei que consegue assumir esse papel outra vez. 

– Não consigo, Duda. Não consigo me concentrar em nada. Nunca me senti tão perdido assim... 

– Nem com Lauren? 

Eu sabia o que ela estava fazendo. Ela estava usando a tática do choque, onde, me lembrando de todas as merdas do meu passado e das tristezas que eu passei, faria com que eu imediatamente notasse que aquilo pelo que passava agora não era assim tão ruim.

Mas ela não entendia. 

– Não. Nem com ela. 

Duda mudou de postura imediatamente, me encarando com uma expressão de surpresa, enquanto procurava alguma coisa para dizer. Só agora ela parecia começar a entender que aquilo tudo não era exagero meu, e que eu podia mesmo estar falando bastante sério.

– Eu não imaginava que fosse algo assim tão forte. 

– Nunca pensei que alguém poderia fazer mais mal a você do que Lauren... 

– A Ninha não me fez mal. 

– A Ninha do seu sonho? 

Lembrei do dia em que, ainda dormindo, havia deixado escapar o nome dela dos meus sonhos, despertando a curiosidade de Duda.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora