Anne 63

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Londres era frio. Mais frio que Los Angeles. 

Foi a primeira coisa que notei ao pisar fora do avião, observando em volta e reparando que o lugar em que estávamos se assemelhava bastante ao pátio de asfalto aberto em que o avião esperava por nós para levantar vôo.  Bruno parecia satisfeito, olhando em volta com um ar de nostalgia que beirava a um "nada como estar em casa". Mas ele não era natural da Inglaterra, pelo menos até onde eu sabia. Seu rosto parecia saudável, descansado da noite turbulenta no avião, e só pude perguntar se ele realmente tinha dormido bem havia poucos minutos, quando o encontrei sentado nas poltronas de viagem, já que, ao acordar, ele não estava ao meu lado. 

A paisagem era branca, gelada e nublada, mas ainda assim bonita. Havia um tipo de névoa natural que deixava tudo um pouco mais parecido com um sonho. Fiquei feliz por estar usando uma roupa que me protegesse do frio, porque havia neve ali. Minhas mãos, desprotegidas de luvas, estavam enfiadas nos bolsos do sobretudo quente, e Bruno estava quase grudado em mim, ou porque queria me aquecer, ou porque estava perdendo a noção de espaço.

Mas obviamente, não reclamei. 

– Que horas são? - Ele perguntou ao piloto. 

– Faltam alguns minutos para as 17h. 

– 17h? - Bruno pareceu se espantar - Não foram menos de onze horas de vôo? 

– Deve ter a ver com o fuso horário. - Falei sem pensar, me metendo na conversa dos dois. 

– Ah... É óbvio. - Ele pareceu envergonhado por não considerar a diferença de oito horas entre Los Angeles e Londres. 

Eram coisas desse tipo que o deixavam sem graça? Bruno definitivamente não fazia sentido. 

Um táxi já estava à nossa espera. Depois de organizar as malas no porta-malas, nos despedimos dos dois homens que nos acompanharam na viagem e sentamos no banco traseiro do carro. Bruno ditou o endereço e assim partimos para o meu pesadelo. 

...

Eu esperava um castelo antigo de pedra, com mais de trinta janelas e árvores altas por toda a extensão do território. Por algum motivo besta, sempre relacionei a Inglaterra à Idade Média, construções medievais e coisas que lembravam cavaleiros e masmorras. 

Assim, fiquei surpresa quando chegamos à casa dos pais de Bruno, que não parecia em nada com a imagem que eu tinha na cabeça.

Embora não fosse tão grande quanto as construções que esperava encontrar, a casa era grande. Enorme. Certo, era uma mansão, mas não algo escandaloso, de vinte quartos e quatro andares, piscina, quadra de vôlei e pôneis passeando por aí. 

A casa era larga. Tinha dois andares e um jardim lindo e enorme, sem flores por causa da estação do ano. A construção era no estilo clássico, em um tom pêssego extremamente agradável e limpo e detalhes brancos. O céu já começava a dar sinais da noite que chegava, por isso era possível ver através das janelas grandes que algumas luzes já se encontravam acesas lá dentro.  

Bruno pressionou levemente uma das mãos em minhas costas, com o objetivo de me fazer andar. As malas foram deixadas pelo taxista na varanda, e a corrida já estava paga. 

Estremeci. 

Não pelo frio, mas pela ansiedade.

Subimos os degraus que davam até a grande porta branca de madeira entalhada. Eu rezava silenciosamente para não ter uma recepção cheia de olhos em mim, mas a aparência imponente daquela porta me fazia pensar que a campainha seria, no mínimo, algo semelhante a um sino de igreja. E então teríamos uma recepção digna de um príncipe: O príncipe Bruno e sua acompanhantezinha intrometida. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora