Bruno 42

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Aquela era Nicole. Eu não a via havia algum tempo, mas ainda lembrava de suas indiretas nada discretas para cima de mim. Ela era uma das primas de Duda, e uma das coisas que me lembro na adolescência era que ela sempre deixava claro que estaria disposta a me dar a qualquer momento do dia. Tive que aturar piadas quanto à minha sexualidade por sempre negá-la. De fato, era esquisito que alguém não a desejasse, porque Nicole era mesmo muito bonita. Mesmo completamente diferente de Duda, ela sempre chamou a atenção por sua pele morena, altura imponente e olhos sedutores. Mas minha consciência nunca deixou que eu me aproveitasse de uma mulher da família da minha melhor amiga. Além disso, eu sabia que mesmo que decidisse usá-la, ela grudaria em mim como chiclete e jamais me deixaria em paz de novo. 

– Você deveria aparecer mais vezes. - Ela falou, limpando alguma coisa do meu ombro que não pude ver. Talvez fosse uma sujeira imaginária, porque Nicole estava sempre arranjando algum jeito de tocar em mim. 

– Vida ocupada. - Respondi cordialmente. 

– Não seja idiota. Todos temos tempo para os amigos de infância quando queremos. 

Ela sempre falava se insinuando para mim, não importava qual era o assunto em questão. Por algum motivo, eu achava isso engraçado.

– Como vai a vida? - Perguntei de forma aleatória. 

– Vai ótima. Melhor agora que nos encontramos de novo.

A mão dela, antes no meu ombro, passou para meu peito sem a menor explicação. 

– A minha também anda ótima. - Me apressei em esclarecer - Estou namorando.

– Ah, sério? E onde está a Sra. Coolin? Te deixou sozinho no Reveillon? - Ela provocou. 

– Está aqui, em algum lugar. E se ela vir você me tocando assim, acho que vai ficar meio puta. 

– Ela não sabe lidar com um pouco de concorrência? 

Eu estava pronto para dizer a ela que não havia concorrência alguma, mas as palavras não puderam sair da minha boca porque, no segundo seguinte, alguém se enfiou entre nós. Anne estava puta. 

Ela não precisou dizer uma palavra sequer para que eu notasse isso. Olhei para baixo e vi seu rosto contorcido em uma expressão de raiva inédita para mim. Suas mãos pequenas estavam fechadas em punhos, e ela exalava com força. Tive a estranha sensação de estar encarando um pequeno gatinho irritado. Ela não me dirigiu a palavra, virando-se e ficando de frente para Nicole. Os rostos das duas estavam a mais ou menos dois centímetros de distância um do outro.

Mesmo Anne sendo muito mais baixa que Nicole, que tinha quase a minha altura, ela não pareceu intimidada em momento algum. Por isso, me assustei ao vê-las se encarando de igual para igual, Nicole com um sorriso debochado no rosto e Anne com um olhar assassino.

– Estava observando de longe, e me pareceu que você estava excessivamente próxima ao meu namorado. Espero que não se importe se eu ficar aqui.

– Meu bem... - A outra respondeu, chegando ainda mais próximo a ela - Eu conheço seu namorado há muito tempo. E acredite, tenho estado próxima a ele antes mesmo de você aparecer. 

– O que mostra seu grau de incompetência por não ter conseguido tê-lo pra você. 

O sorriso de deboche sumiu de seu rosto imediatamente. Eu mesmo levei um choque com aquela resposta. Como Nicole não tinha uma réplica a altura, Anne deu seu golpe final. 

– Vamos deixar as coisas claras: Sua mão no peito dele outra vez significa a minha mão na sua cara. Combinado?

Embora ela parecesse um gatinho irritado, inexplicavelmente temi pela vida de Nicole. Ela também pareceu temerosa, e alguém que chegasse naquele momento jamais entenderia como uma mulher daquele tamanho podia estar visivelmente com medo de uma miniatura.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora