Anne 73

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 ...

– Argh... 

– Está tudo bem. 

– Arghhh!

– Bruno, respire. 

Minha cintura estava decorada em sua totalidade por manchas roxas e vermelhas. A parte superior das minhas coxas, perto da virilha, estava muito dolorida e com manchas verdes nas laterais. Meus antebraços tinham alguns arranhões e pude ver claramente uma trilha de chupões que ia do meu umbigo até meu seio esquerdo. Eu lembrava um pouco uma girafa albina. 

– Pelo menos não tem nada no meu pesc... 

– Aaaarrgh... 

– Quer parar de gemer? Eu estou bem! 

– Não está nada bem! Você parece ter sido espancada! Não vou mais tocar em você... 

Levantei uma sobrancelha encarando-o pelo reflexo do espelho enorme do closet, desafiando-o a prometer aquilo. 

– Pelo menos até essas manchas sumirem... - Ele se corrigiu rapidamente. 

– Sabe quanto tempo mais ou menos elas demoram a desaparecer? Três semanas. 

– Merda! 

Bruno estava puto porque sabia que meus hematomas eram culpa dele. Mas eu achava que talvez já estivesse na hora de superarmos isso, porque era um problema que sempre existiria: Toda vez que ele me tocasse intimamente eu acabaria marcada. 

– Você está preocupado comigo porque ainda não viu suas costas. 

Ele se virou de costas para o espelho, olhando para trás para ver o reflexo da parte de trás do seu tronco. 

– Uau... Parece que um gato amolou as unhas em mim... 

E parecia mesmo. Alguns arranhões eram apenas pele empolada, mas outros eram cortes visíveis e vermelhos que rasgavam suas costas da altura dos ombros até a lombar. Ele abaixou um pouco a barra da calça que vestia apenas para se certificar de que os arranhões não paravam por ali, mas continuavam em um caminho muito mais abaixo. 

– Viu só? Não sou tão indefesa. - Falei sorrindo, mas um pouco culpada também - Não ardeu no banho? 

– Um pouco, mas não dei atenção. 

– Temos que passar algum remédio aí...

– Não precisa, as roupas cobrem. 

Bem, isso dava a ele uma pequena vantagem sobre mim. Seria difícil achar alguma coisa própria para uma festa de Reveillon e que cobrisse todos os hematomas que contrastavam fortemente com a minha pele clara demais. Aliás, eu não lembrava sequer se tinha alguma roupa clara para vestir.

– Acho que dei sorte... - Ele disse, saindo do closet e indo para o quarto, me deixando na frente do espelho sozinha por algum tempo. Voltou alguns segundos depois, me entregando um embrulho. Encarei-o irritada, esperando alguma explicação. 

– Que foi? Você precisava de um vestido pro Reveillon...

– Eu duvido que não tenha nada que possa ser vestido no meio daquela tonelada de roupas que você comprou pra mim.

– Mas essa é uma ocasião especial, então eu tive que comprar à parte. Abra. 

Continuei encarando-o apenas para deixar claro meu descontentamento. Não queria ser mal educada, mas também queria que ele parasse de fazer aquilo. Desdobrei o embrulho e surgiu entre meus dedos um vestido branco de mangas até os pulsos e uma saia que, embora justa e não muito comprida, parecia ser do tamanho ideal para cobrir os hematomas especialmente roxos nas minhas pernas. O vestido era lindíssimo e parecia quente e fofo, com alguns brilhos perolados dispostos aleatoriamente pela extensão do tecido. E então eu tive certeza que pareceria um pequeno cisne plumado quando o vestisse. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora