...
– Argh...
– Está tudo bem.
– Arghhh!
– Bruno, respire.
Minha cintura estava decorada em sua totalidade por manchas roxas e vermelhas. A parte superior das minhas coxas, perto da virilha, estava muito dolorida e com manchas verdes nas laterais. Meus antebraços tinham alguns arranhões e pude ver claramente uma trilha de chupões que ia do meu umbigo até meu seio esquerdo. Eu lembrava um pouco uma girafa albina.
– Pelo menos não tem nada no meu pesc...
– Aaaarrgh...
– Quer parar de gemer? Eu estou bem!
– Não está nada bem! Você parece ter sido espancada! Não vou mais tocar em você...
Levantei uma sobrancelha encarando-o pelo reflexo do espelho enorme do closet, desafiando-o a prometer aquilo.
– Pelo menos até essas manchas sumirem... - Ele se corrigiu rapidamente.
– Sabe quanto tempo mais ou menos elas demoram a desaparecer? Três semanas.
– Merda!
Bruno estava puto porque sabia que meus hematomas eram culpa dele. Mas eu achava que talvez já estivesse na hora de superarmos isso, porque era um problema que sempre existiria: Toda vez que ele me tocasse intimamente eu acabaria marcada.
– Você está preocupado comigo porque ainda não viu suas costas.
Ele se virou de costas para o espelho, olhando para trás para ver o reflexo da parte de trás do seu tronco.
– Uau... Parece que um gato amolou as unhas em mim...
E parecia mesmo. Alguns arranhões eram apenas pele empolada, mas outros eram cortes visíveis e vermelhos que rasgavam suas costas da altura dos ombros até a lombar. Ele abaixou um pouco a barra da calça que vestia apenas para se certificar de que os arranhões não paravam por ali, mas continuavam em um caminho muito mais abaixo.
– Viu só? Não sou tão indefesa. - Falei sorrindo, mas um pouco culpada também - Não ardeu no banho?
– Um pouco, mas não dei atenção.
– Temos que passar algum remédio aí...
– Não precisa, as roupas cobrem.
Bem, isso dava a ele uma pequena vantagem sobre mim. Seria difícil achar alguma coisa própria para uma festa de Reveillon e que cobrisse todos os hematomas que contrastavam fortemente com a minha pele clara demais. Aliás, eu não lembrava sequer se tinha alguma roupa clara para vestir.
– Acho que dei sorte... - Ele disse, saindo do closet e indo para o quarto, me deixando na frente do espelho sozinha por algum tempo. Voltou alguns segundos depois, me entregando um embrulho. Encarei-o irritada, esperando alguma explicação.
– Que foi? Você precisava de um vestido pro Reveillon...
– Eu duvido que não tenha nada que possa ser vestido no meio daquela tonelada de roupas que você comprou pra mim.
– Mas essa é uma ocasião especial, então eu tive que comprar à parte. Abra.
Continuei encarando-o apenas para deixar claro meu descontentamento. Não queria ser mal educada, mas também queria que ele parasse de fazer aquilo. Desdobrei o embrulho e surgiu entre meus dedos um vestido branco de mangas até os pulsos e uma saia que, embora justa e não muito comprida, parecia ser do tamanho ideal para cobrir os hematomas especialmente roxos nas minhas pernas. O vestido era lindíssimo e parecia quente e fofo, com alguns brilhos perolados dispostos aleatoriamente pela extensão do tecido. E então eu tive certeza que pareceria um pequeno cisne plumado quando o vestisse.

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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...