– Ei... - Soltei, segurando em seu ombro e balançando-o um pouco. Infelizmente, falar também doía. – Ei... - Outra sacudida, agora com mais vontade. Ela pareceu sentir, e começou a despertar.
Porra, como diabos você se chama? Letícia? Célia?
– Hmmmmpf?
– Você tem que ir. Eu tenho que ir! Já são quase 12h e a minha secretária vai me matar!
Procurei por seu vestido no chão enquanto tentava falar. Ao achá-lo do avesso, dobrei-o do lado certo e o entreguei a ela. Graças a Deus a garota obedeceu, cambaleando para o banheiro com o vestido nas mãos enquanto não me dava a mínima atenção. Segui para a cozinha à procura de algum analgésico ou qualquer coisa antirressaca.
Ouvi meu celular tocando baixo, mesmo minha audição estando comprometida com um zumbido irritante e ensurdecedor. Fui até a sala e identifiquei que o som vinha da massa de roupas no chão. Ah, no bolso das minhas calças. Da noite anterior. Soltei um gemido ao abaixar para pegar o aparelho.
– Alô. – Senhor Coolin. Fico feliz em saber que o senhor está vivo.
– Desculpa, Duda...
– O senhor está atrasado. Espero que já esteja a caminho.
– Eu... Me dê mais uns vinte minutos, ok?
– Estarei cronometrando, senhor.
E desligou.
Ela estava muito puta.
Voltei para a cozinha e sentei no balcão, repousando a cabeça nas mãos. Algum tempo depois, o que poderiam ter sido minutos ou horas, a mocinha misteriosa juntou-se a mim.
– Bom dia. - Ela mantinha o sorriso bonito no rosto enquanto me olhava.
– Oi... Você quer uma carona? Pra algum lugar?
– Eu gostaria, mas não acho que você esteja em condições de dirigir.
– É, acho que não estou. - Concordei com tristeza - Vou pegar um táxi, você pode aproveitar a corrida.
– Nossa, você está mesmo me expulsando assim?
– Preciso trabalhar. Se eu demorar mais que vinte minutos até o trabalho tenho sérias dúvidas se minha secretária vai conseguir segurar o impulso de me atacar com uma tesoura quando eu chegar. Ela bufou.
– Olha... Célia... - Comecei.
– Caroline.
Isso, porra! Caroline!
– Caroline... A noite de ontem foi muito legal...
Ela continuou me olhando, me forçando a terminar aquela sentença.
– Mas, você sabe... Foi casual. Nós não temos nada mais sério.
– Eu sei disso, não sou imbecil. Mas isso não significa que eu não possa tomar café-da-manhã. Não estou pedindo suas chaves do apartamento, só queria que você me desse dez minutos.
Ok, eu não ia discutir com ela. Fiz um sinal com a cabeça e deixei-a explorar minha cozinha enquanto voltava a repousar minha cabeça nas mãos. Eu sabia que esse atraso adicional traria consequências trágicas ao meu dia: Duda se vingaria de mim, me escalpelando ou, o que era pior, me deixando ir às reuniões sozinho. O dia era promissor.
Duda me ignorou o dia inteiro como se eu fosse um grão de poeira passeando pela sala. Quando eu tentava puxar algum assunto ela era o mais monossilábica possível, afirmando que estava muito ocupada para papo furado.
– Posso saber por que você está me tratando mal?
– Não estou lhe tratando mal, senhor. Estou muito ocupada.
– Não está ocupada! Eu sei que você está fingindo! Você nem olha pra mim.
Ela me olhou.
– Tem algo importante que o senhor queira discutir? - Ela frisou a palavra "importante", como se eu só quisesse falar de inutilidades.
– Sim: Por que você está tão irritada?
– Sou sua secretária nessa empresa. Estou preparada pra discutir assuntos relacionados à empresa, então se o senhor não tem nada pra dizer sobre...
– Pare com isso! Qual é o problema, o que foi que eu fiz pra você me tratar assim?
Ela me encarou por alguns segundos, e então falou em um tom de voz nada apropriado para uma secretária:
– Me espanta você ser tão burro que não percebe o que está fazendo com a sua própria vida.
– O que eu estou fazendo? Só porque bebi ontem e fui pra cama com uma...
– Não me interessa o que você fez ontem. Mas parece que você não consegue se estabilizar em nenhum aspecto da sua vida! Pelo amor de Deus, Bruno, olhe pro que você está se tornando! Daqui a alguns anos vai ser mais um empresário solteiro e lamentável que se aventura com mulheres fáceis porque não tem um pingo de amor próprio ou vontade de procurar alguém certo...
– Eu já tentei fazer isso, se você não lembra! - Interrompi seu discurso levantando consideravelmente a voz.
– E daí? Você acha que é a única pessoa que sofreu uma decepção amorosa na vida? Pare de olhar pro seu próprio umbigo! Tem pessoas com problemas muito mais sérios por aí!
Tudo bem, ela obviamente estava certa, mas eu também tinha problemas.
– Eu sei que não sou o exemplo de infelicidade, mas não venha me dizer que a minha vida é fácil. - Falei baixo.
– Eu não disse isso! Mas você nem se esforça pra melhorar!
Fiquei calado olhando para as mãos.
– Quantas pessoas você deixou se aproximarem de você? A quantas mulheres você se deu a chance, de verdade, de conhecer e de talvez gostar? Você criou esse muro em volta de si mesmo pra tentar não sofrer, e acaba vivendo a sua vida da forma mais lamentável possível porque acha que seus erros podem ser justificados por uma desilusão do passado. Você não pode colocar a culpa de tudo no que já passou, e se quiser arrumar a bagunça em que a sua vida se encontra agora, tem que começar dando chances às pessoas.
– Eu não quero dar chances a ninguém. Todo mundo é interesseiro. - Falei.
– Não, não é. Tem pessoas ordinárias e pessoas especiais. - Ela disse.
Tive que sorrir com a ironia do momento. Ela ficou em silêncio. De repente senti sua mão no meu ombro, e eu sabia que quem falaria agora era Duda, minha melhor amiga:
– Você só vai conseguir superar seus problemas quando se permitir fazê-lo. Desculpe te informar, mas isso só depende de você. E quando você der uma chance a isso, vai ver que muitas coisas vão clarear na sua mente.
– Isso exige uma coragem que eu não tenho. - Respondi olhando para ela.
– Você não é mais criança. Sabe que às vezes temos que nos jogar de cabeça.
– É disso que eu tenho medo. Posso bater com a cabeça e morrer. Ela riu.
– Bruno, eu gosto de você. De verdade. Quero te ver feliz, mas você tem que se ajudar.
Ficamos em silêncio por algum tempo. Minha cabeça ainda doía, agora com mais intensidade pela recente discussão com Duda.
– Bem... - Senti sua mão se afastar do meu ombro. Ela se recompôs voltando ao seu papel de secretária e adotando uma postura muito séria. - Eu vou voltar pra minha sala. Se quiser algo, estarei disponível.
E dizendo isso, caminhou despreocupadamente para a porta.
– Sabe... - Comecei, sem pensar, e só Deus sabe o porquê das minhas palavras naquele momento - Eu posso dar uma chance à mulher errada.
Ela se virou graciosamente, e pela primeira vez notei que Duda tinha algo de angelical.
– Errado aos olhos dos outros pode não significar nada. Talvez ela seja a mulher ideal.
E saiu.
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...