Anne 17

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– Nada. - Menti. 

– Mentirosa! - Sophia esbravejou - Somos suas amigas, pode nos contar. 

Eu sabia, elas eram minhas amigas e eu podia contar com elas para conselhos ou simplesmente para desabafar, mas eu não queria dizer a verdade. Não agora. 

– Devo estar no meu inferno astral, só isso. 

Elas obviamente não acreditaram, e me encheram de perguntas durante todo o caminho de volta para casa. Felizmente, elas não tocaram no nome de Bruno, porque eu tinha certeza que se ouvisse o nome dele, entregaria tudo. 

Pouco tempo depois, chegamos em casa. Já estava perto das 21h, e eu não tinha fome. 

Por isso, rumei diretamente para meu quarto, desejando boa noite apenas às minhas duas companheiras de shopping, e me trancando lá.

Amanhã eu teria o dia de folga. Isso era bom, eu não precisaria já voltar à rotina. No entanto, sabia que no dia seguinte, teria que retomar meu papel. 

Bruno não pagaria por mais uma semana minha, eu tinha certeza, então era bom eu já me conformar com a ideia. 

Tomei um banho demorado e me deitei na cama, esperando o sono chegar. Não demorou muito, e alguns minutos depois eu já mergulhava em uma total escuridão. 

Uma noite sem sonhos. Meu primeiro presente de aniversário. 

Segunda-feira. 

Acordei perto das 9h. Demorei um pouco para lembrar que era meu aniversário, e então, depois de notar esse detalhe, resolvi ficar na cama por mais um tempo. Originalmente, minha ideia era sair por aí e não fazer nada específico. 

Eu não poderia comemorar com as minhas amigas, porque elas tinham que trabalhar. Embora eu pudesse tirar o dia de folga, não seria a mesma coisa para elas. Mas então, decidi que talvez ficar embaixo do cobertor ouvindo música parecia ser uma boa coisa para fazer enquanto esperava aquele dia passar. 

O dia não seria muito diferente dos outros. Certo, eu não teria que trabalhar o que era bastante bom, mas fora isso, eu não via a menor diferença. 

Eu notava que algumas pessoas se sentiam um pouco mais importantes nos dias dos seus aniversários, mas nunca foi assim para mim, e eu sempre me perguntei o motivo. 

Talvez fosse bom se sentir mais importante em um único dia dentre os demais do ano. 

Fingi continuar dormindo mesmo depois das cinco vezes em que ouvi batidas em minha porta e alguém a abrindo minimamente para checar se eu já havia acordado. Eu não estava desanimada, mas não queria toda a atenção que eu sabia que iria receber no momento em que pusesse os pés no andar debaixo. 

Não que eu não gostasse das meninas, mas eu simplesmente preferia ficar na minha. E afinal de contas, era só o meu aniversário. 

Não era como se eu tivesse ganhado na loteria ou fosse me casar. 

Mas eu não poderia continuar fingindo pelo resto do dia, por isso, às 11:30h aproximadamente, me levantei, tomei um banho e vesti uma roupa casual para sair.

Quando apareci na cozinha, algumas meninas que ali estavam vieram me cumprimentar, me desejando felicidades. Agradeci a todas verdadeiramente contente, enquanto me servia de meio copo de suco de laranja. Alguns minutos depois, só restávamos eu, Sophia e Júlia na cozinha, fofocando sobre assuntos aleatórios. 

– Caramba, você acordou muito tarde! Já estamos quase almoçando! - Começou Sophia. 

– Já que hoje é meu aniversário, deveríamos ter alguma comemoração, não é? Por que não almoçamos juntas? 

– Ei, gostei da ideia! Tem algum lugar em mente? - Perguntou Júlia. 

– Não. Vocês podem me ajudar a decidir. - Olhei para o relógio, que marcava 12:15h - Vão se arrumar que saímos daqui a vinte minutos. 

– Êêê, festa! - Sophia exclamou, já pulando de sua cadeira e saindo da cozinha, junto com Júlia, e me deixando sozinha ali. 

Fiquei pensando no que poderíamos fazer enquanto a noite não chegasse e elas fossem obrigadas a voltar para casa. 

Sophia certamente sugeriria shopping, mas como o aniversário era meu e eu podia dar essa desculpa, acabaríamos sentadas, as três, em um bando de parque conversando sobre nossas vidas e tomando sorvete. 

 – Ninha... 

Júlia entrou novamente na cozinha, ainda vestindo as mesmas roupas. 

– Ei, vá se arrumar! Está atrasando a minha festa! - Falei, num tom brincalhão. 

– Acho melhor você ir sozinha. Não estou me sentindo muito bem, e Sophia precisa fazer... uma coisa. 

– É. - Sophia assentiu, do seu lado, com uma cara mais animada do que de costume. 

– Que coisa? - Perguntei, suspeitando da atitude das duas. 

– Não seja indiscreta. Agora vai logo! - Júlia me puxou da cadeira enquanto eu tentava apoiar no ombro minha bolsa. 

– Mas... Vocês vão me deixar ir sozinha? É meu aniversário! 

– Sim, vamos. Você vai arranjar algo interessante pra fazer. - Finalizou Sophia, enquanto ajudava Júlia a me empurrar pela porta que dava para os fundos da casa. 

Fiquei um pouco chateada pela atitude das duas, mas depois elas teriam que me explicar o motivo daquilo. 

No momento, se eu continuasse tentando ficar dentro da casa, elas acabariam me chutando para a rua.

Me senti rejeitada e com raiva. 

Eu sei, havia alguma coisa que elas estavam escondendo de mim, mas mesmo assim, me deixaram sozinha no meu aniversário! 

Sendo que eu as tinha convidado! Porra!

Passei pela porta que dava para a rua de trás, deserta até mesmo àquela hora, enquanto tentava afastar o sentimento de rejeição das minhas ex melhores amigas, então dei alguns passos pela calçada, olhando o chão, até me dar conta de que eu não estava sozinha. 

Subi os olhos e me deparei com um homem de cabelos rebeldes com as mãos no bolso, em roupas casuais - tênis, calças jeans e uma camisa polo preta - encostado em um Volvo prata, me encarando com um sorriso leve nos lábios. 

Se eu não o conhecesse, diria que um anjo havia acabado de cair na minha frente.

Mas eu o conhecia. Não só o conhecia, mas não conseguia parar de pensar nele durante esses últimos dias, não conseguia parar de pensar no fato de que eu não o veria no meu aniversário. 

Por isso, senti uma alegria explosiva quando meu cérebro processou a informação de que era Bruno parado à minha frente, sorrindo para mim.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora