Anne's POV

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Ter Valentina agora me fazia sentir mais a falta dos meus pais, e eu não sabia o motivo. Alguma parte de mim queria tê-los por perto para mostrá-los a incrível obra de arte que eu havia trazido ao mundo, e vê-los felizes com uma netinha linda que eles jamais puderam ter. Queria também mostrá-los o tamanho da minha felicidade, e como, na verdade, tudo melhorou depois que Bruno apareceu na minha vida. Eu queria que eles tivessem conhecido Bruno. Eu gostaria que eles estivessem aqui. 

Era bom ter Hérica e Robert sempre por perto. Era em momentos onde minha tristeza órfã aumentava que eles faziam com que eu me sentisse em casa, dentro de uma família, sem nunca achar que aquilo era apenas gentileza. Eu realmente pertencia àquela família, e isso era algo maravilhoso. Mais maravilhoso ainda era saber que a minha filha, a pessoinha que eu mais amava no mundo, fazia parte dela também. 

Embora os cortes da minha operação ainda doessem, tudo no que eu conseguia prestar atenção era a presença dela. Talvez eu pudesse até me importar com o fato do parto não ter sido da forma como eu queria, mas depois do Dr. Leandro ter explicado exatamente o que havia acontecido e de toda a dificuldade do processo (porque tudo havia passado tão rápido que eu não fazia ideia de nada), tudo que fiz foi agradecer por simplesmente ter minha filha comigo. Viva, saudável e faminta. 

Hérica e Robert pareciam radiantes com a presença dela nos horários de visita, e tudo que Bruno fazia era encará-la como se ela se fosse uma mini bomba atômica. 

Valentina era assustadoramente quieta, exceto quando estava com fome. Por isso era comum vê-la entrando no quarto aos berros no colo de uma enfermeira e assisti-la ficar repentinamente calma quando alcançava meu peito. Doía um pouco. Ela era violenta e nada sutil. Mas eu não conseguia realmente sentir a dor. O sono parecia tomá-la depois de cada furiosa refeição, mas ela não se dava por vencida antes de passar algum tempo analisando cheia de curiosidade os rostos sorridentes ali. O rosto de Bruno era sempre o que parecia chamar mais a sua atenção, e era sempre no colo dele que ela acabava dormindo, exausta da tentativa de entender quem era ele e por que parecia se derreter todo por ela. Ele, por sua vez, não disfarçava sua mais nova obsessão, e mesmo que passasse todo o tempo permitido do meu lado, me mimando da forma que sabia fazer muito bem, era só Valentina entrar em cena para que eu fosse imediatamente esquecida e substituída por ela. Mas eu não ficava chateada. Na verdade, sinceramente, achava aquilo adorável. 

– Contanto que ela seja a única mulher que você prefira a mim, tudo bem. - Falei repentinamente enquanto ele a ninava depois do almoço. Bruno sorriu de maneira simples, desviando o olhar da filha só por um segundo para me encarar com uma expressão que dizia "não seja boba". 

– Não estou reclamando. - Concluí.

– Claro que não está. - Ele murmurou, voltando a encará-la - Você sabe que eu amo as duas de formas diferentes. 

– Tudo bem. - Ajeitei o travesseiro atrás de mim e deitei devagar, agindo de maneira casual - Mas quando a quarentena acabar eu vou exigir que você me mostre isso. 

Levantei uma sobrancelha tentando parecer sedutora, mas me achei ridícula. Ele me encarou outra vez, com a mesma expressão tranquila de antes. Isso era bom: Pelo menos Bruno não estava rindo da minha cara. 

– Ah, meu amor... - Ele começou de maneira simples, como se estivéssemos conversando sobre presentes de Natal - Assim que a quarentena acabar eu vou te mostrar exatamente de que forma eu te amo. 

Ele deu um sorriso simples, mas muito largo, talvez não tendo a intenção de ser provocante, enquanto ainda ninava com paciência a nossa filha adormecida no colo. Era uma visão interessante. Meus ovários estariam explodindo caso eu não estivesse sentindo uma dor altamente anti-tesão. Mas tudo bem. Eu só precisava esperar.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora