Bruno 10

270 26 0
                                    

Como eu não queria cair e dar de cara no chão, pensei que talvez fosse melhor tirar a armadilha que minhas calças armavam enroladas nos meus tornozelos. 

Fiz menção em puxá-las novamente para cima abaixando-me para alcançá-las, mas isso fez com que meu apartamento todo rodasse. Desisti da ideia e tirei todo aquele emaranhado de panos por baixo mesmo, junto com os meus sapatos. 

Não queria sequer pensar no quão ridículo eu estaria só de camisa e meias. Mas não importava muito, porque no momento eu só tinha em mente basicamente três coisas, exatamente nessa ordem: Primeiro, chegar ao meu quarto sem cair. Segundo, comer a tal da Cecília - era Cecília, não era?. Terceiro, me enrolar no edredom fofo que cobria minha cama e dormir, esperando que a ressaca me atingisse como um soco na cara na manhã seguinte. 

Puxei-a pela mão e levei-a através do corredor escuro que dava para o meu quarto. Graças a Deus eu conhecia a disposição das paredes da minha própria casa, o que facilitou muito as coisas. Cheguei no quarto e instantaneamente caí de costas na cama, quicando umas três ou quatro vezes sobre o colchão macio. 

– Querida, vou deixar com você, porque se eu fizer algum esforço acho que posso vomitar. 

Ela sorriu para mim e puxou para cima o vestido azul, jogando-o no chão ao seu lado. Não era possível, a garota já estava completamente nua! Isso não devia ser normal, garotas que saíam por aí com um vestido absurdamente justo e curto sem usar absolutamente nada por baixo! De qualquer forma, aquilo não importava. Cecília subiu em cima de mim, uma perna em cada lado, já puxando minha camisa para cima. 

– Você podia ter usado uma camisa de botão hoje, amor. Facilitaria todo o meu trabalho aqui.

 Não respondi, apenas continuei olhando para ela com olhos bêbados. Analisei rapidamente seu corpo enquanto ela lutava contra meu peso para puxar a roupa para cima, e imediatamente pude constatar três coisas: Primeiro, eu preferia pele clara. Segundo, eu preferia olhos castanhos. Terceiro, eu preferia seios menores. Talvez conseguisse notar mais coisas se a garota não tivesse repentinamente decidido devorar meus lábios. 

Então eu perdi o fio de pensamento e me peguei retribuindo aquele beijo com mais entusiasmo que o normal. Virei nossos corpos e me posicionei em cima dela, aprofundando o beijo e demorando mais do que o normal nele. Ela forçou meu rosto para trás com uma das mãos, e a tristeza da rejeição poderia até ter me abalado - principalmente pelo fato de que estava completamente bêbado, quando TUDO me abalava emocionalmente - se não tivesse notado que ela só fazia aquilo para poder puxar o oxigênio de que eu a estava privando. Ok, eu confesso, exagerei na língua e tudo o mais. 

– Bruno, qual é? Há quanto tempo você não beija uma mulher? 

Eu não sabia responder. Porra, havia quanto tempo que eu não beijava uma mulher? Eu sabia que fazia muito tempo, mas quanto exatamente eu não poderia dizer. E que merda, aquilo estava me fazendo bastante falta. Mesmo com os pensamentos atordoados eu podia agora lembrar que todas as últimas vezes que estive de fato com uma mulher, em nenhuma delas havia acontecido nada além de sexo. 

Sexo puro, sem o mínimo carinho ou qualquer sentimento. Fiquei feito um imbecil olhando para a linha do horizonte, o que não ia muito além da mesa cor de marfim ao lado da cabeceira. Soltei um suspiro triste e puxei a gaveta, tateando cegamente por algum preservativo ali. 

– Ora amor, não se preocupe. Eu tomo pílulas. 

Eu estava bêbado mas não era burro. Essa mistura normalmente fazia com que eu adotasse uma postura bastante emotiva, mas ao mesmo tempo irremediavelmente
sincera: 

– Ah, até parece que vou te comer sem camisinha. Pra depois você vir com um guri me exigindo pensão
– Bruno! Assim você me ofende! - Ela disse com uma cara nada ofendida.
– Ofendo coisa nenhuma. - Retruquei, ainda procurando às cegas por um preservativo.

Acordei na manhã seguinte com um raio de sol que havia resolvido passar pela persiana e se concentrar no meu rosto. Depois de alguns segundos lutando contra o sono e tentando abrir os olhos, consegui voltar a mim e entender um pouco do que me rodeava.  Eu estava de bruços em cima de um emaranhado amassado que consistia nos lençóis e no edredom branco que costumavam forrar minha cama. 

Diretamente ao meu lado, uma mulher com pele um pouco escura e cabelos negros dormia silenciosamente, também de bruços, com o rosto virado para mim. Ambos estávamos nus, e eu sentia que minha cabeça poderia explodir a qualquer momento, fazendo com que alguns dos meus miolos decorassem o estilo clean do quarto.  

Fiz o que me pareceu ser uma força sobre-humana para levantar minimamente o corpo e me virar para o lado da mesa de cabeceira, com o objetivo de verificar as horas.  Eu imaginava que estava atrasado, mas ao olhar para os números vermelhos luminosos tive uma certeza:
Duda me mataria. 

Era provável que ela tivesse insistido em ligar para meu celular durante as últimas três horas ao constatar que eu não estava no trabalho. Eu confirmaria aquela suspeita assim que encontrasse o maldito telefone. Reuni toda a força de viver que me restava e sentei no colchão. Senti meu cérebro se revirando dentro da caixa craniana como se quisesse sair do lugar. Isso fez com que meus olhos momentaneamente perdessem o foco, o que me forçou a fechá-los e tentar não gritar com a enxaqueca absurda que parecia querer me matar lenta e dolorosamente. 

Caminhei até o banheiro, liguei o chuveiro e me enfiei completamente lá dentro. Tentei não pensar em nada porque pensar doía. Saí do banho me enrolando em uma toalha, escovei os dentes e caminhei para o closet, escolhendo aleatoriamente um terno preto, uma camisa que me parecia ser de alguma tonalidade verde e uma gravata cinza escuro. Vesti-me lá mesmo, sem nem me preocupar em conferir no espelho se a camisa ainda tinha a etiqueta de nova ou se o nó em minha gravata estava torto - o que era bem provável. Voltei para o quarto e vi que a mulher ainda dormia.


Caminhei até ela.

Qual era mesmo o seu dela? Acho que começava com C ou L...

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora