Anne 2

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Eu ainda estava na cama, exatamente do jeito que Bruno havia me deixado para ir tomar seu banho. O rosto ainda estava enfiado nos lençóis, as mãos ainda agarradas ao colchão. Eu ainda estava de bruços, imóvel.
Por quê? Por que eu havia permitido aquilo? Por que havia deixado com que ele tomasse posse do meu corpo tão completamente? Meu corpo!

Pela primeira vez na vida eu sabia o que era um orgasmo. Não sabia se tinha sido forte ou fraco, mas sabia que tinha sido um. Mesmo sem nunca ter sentido antes.

Porque, naquele momento, minha cabeça ficou estranhamente vazia, e eu experimentei um prazer fora dos limites da consciência. Sim, definitivamente tinha sido um orgasmo.

O que eu ainda demorava a entender era como tinha conseguido sentir prazer. E por que, meu Deus, por que diabos eu havia deixado que ele terminasse, que ele me mostrasse de quais sensações meu corpo ainda carecia.

– Merda! Merda, merda, merda!

Eu me xingava mentalmente, na mesma posição na cama. Me xingava porque agora sabia que nem eu mesma me conhecia completamente. Me xingava por permitir que um cliente, um estranho, tivesse me mostrado aquilo.

E me xingava principalmente porque, eu sabia, seria impossível colocar Bruno no nível de importância dos outros clientes agora.

A porta do banheiro se abriu lentamente e eu me endireitei o mais rápido que pude. Fui deitar nos travesseiros, de costas na cama, coberta pelo lençol. Ele saiu enxugando os cabelos com a minha toalha.

– Desculpa, tive que usá-la. Você deveria colocar mais toalhas no banheiro pros seus clientes...

-  Ok, avise a Rayana para me comprar quinze toalhas por dia.

Ele parou, me olhando, processando a informação.

– É verdade... - Concluiu.

Esperei em silêncio.

– Você atende quinze clientes por noite?

– Não... Uns dez. - Respondi, meio a contragosto.

Por que estávamos conversando sobre aquilo?

– Entendo... - Ele falou, pensando um pouco e fazendo uma careta para si mesmo. - Bom, tenho que ir. Amanhã nos falamos.

E assim, sem dizer mais nada, saiu.

Acordei na manhã seguinte com o sonho fresco na minha memória: Bruno. Lençóis. Sexo e orgasmo. Dinheiro.

– Ótimo. Minha própria consciência contra mim.

Levantei de mau humor. Tomei um banho, passei meu creme para machucados e fui tomar café. Conversei por algum tempo com algumas meninas, mas já estava novamente no meu quarto, trancada, lendo.

Sentia-me protegida ali. Era meu castelo particular, meu esconderijo. Embora gostasse da companhia e da conversa das meninas e de Rayana, eu sempre passava a maior parte do meu tempo sozinha no quarto. Algumas garotas me achavam anti-social.

Eu não ligava.

Naquele dia, mais do que nunca, eu precisava ler. Sempre gostei de livros porque eles sempre me levavam para uma realidade alternativa. Uma ficção onde eu poderia vagar com meus pensamentos até o limite da imaginação. Muitas vezes me pegava imaginando meu próprio rosto em certos personagens. E sim, eu sempre me achava patética por isso.

Mas naquele dia, eu não conseguia me concentrar nas histórias.

Será que ele viria essa noite? "Amanhã nos falamos", ele disse. Será que foi só por falar? Será que me escolheria outra vez? Talvez escolhesse a garota nova. Talvez nem viesse.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora