Bruno's POV

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Como solicitado, estendi o telefone para Anne e ela o atendeu. Iniciou-se então um diálogo secreto entre os dois, me sendo permitido ouvir apenas respostas vagas por parte dela como "sim" e "um pouco" e "não sei". Ela estava atenta ao que ele dizia, e a cada três minutos seu rosto se contorcia de dor. Desejei poder fazer alguma coisa, mas sabia que, naquele momento, eu era um inútil. 

– Ok... - Ela falou, depois do que pareceu serem horas - Tudo bem, vou falar com ele. Obrigada. 

Ela desligou e logo em seguida deixou seu rosto se contorcer mais uma vez em agonia. Sentei do lado dela um pouco desesperado, levando uma das mãos até sua barriga sem pensar, tentando tomar alguma atitude que a fizesse sofrer menos. Senti um chute forte contra meus dedos, e pela primeira vez ignorei isso. Esperei sua dor suavizar para falar outra vez.

– E então? - Perguntei sem me preocupar em disfarçar o desespero na voz - O que ele disse? 

Anne respirou fundo, parecendo concentrada em alguma coisa, enquanto me entregava o celular. 

– Ele disse pra irmos pro hospital. Agora.

Assim que chegamos no hospital, me deparei com a difícil tarefa de parecer normal. Eu havia prometido acatar ao pedido de Anne, repetido exaustivamente durante todos os 15 minutos de viagem (que, em condições normais, deveriam ser feitos em meia hora).

"Não faça um escândalo". "Seja normal". "Nervosismo é uma coisa. Pânico é outra". 

– Boa noite. Minha mulher entrou em trabalho de parto e precisa ser atendida. - Comecei, tentando engolir o grito para as três mulheres da recepção. Como imaginei que elas não me levariam a sério, me apressei em adicionar: - O obstetra mandou que ela viesse o mais rápido possível. 

Uma das mulheres, talvez notando a força que eu fazia para não explodir (ou talvez notando que Anne estava mesmo em trabalho de parto) se apressou em conseguir uma cadeira de rodas em algum canto ali perto da recepção. Ajudei-a a se sentar com cuidado, e uma nova onda de contrações a atingiu. E cada vez que seu rosto se contorcia eu tinha vontade de socar alguém ao meu lado por não fazer nada para que a dor dela passasse. 

– Vocês têm que preencher alguns dados desse formulário... - Uma delas começou, claramente não entendendo a situação. 

– Eu preencho o que você quiser, mas coloque a minha mulher em um quarto primeiro! 

– Vocês são o casal do Dr. Leandro? - Uma outra mulher perguntou. 

– Somos. 

– Ele já está esperando. Vou levá-los até lá. 

Tudo que tivemos que fazer foi andar por um longo corredor -  Anne na cadeira de rodas, eu (com um formulário nas mãos) e a recepcionista caminhando -, entrar em um elevador e chegar a uma sala verde-bebê enjoativo. E mesmo sendo tudo o que tivemos que fazer, a coisa toda pareceu demorar mais do que tinha que demorar. Anne não deixou escapar nenhum som. Ela parecia querer manter suas dores em silêncio, mesmo que suas contrações ficassem mais constantes e aparentemente mais fortes a cada minuto. Sem saber o que fazer para ajudá-la, e tendo certeza que nada do que eu tentasse surtiria efeito, apenas fiquei ao lado dela o tempo todo, repetindo coisas como "tudo vai dar certo" e "já estamos chegando". 

Eu estava angustiado. Angustiado porque não podia fazer com que sua dor passasse. E porque minha filha queria sair dela à força. E era claro que eu sabia que isso aconteceria algum dia, mas vê-la se contorcendo daquela forma só tornava tudo um pouco mais desesperante.

– Boa noite! - O Dr. Leandro disse assim que entramos na sala de pré-parto. Havia mais duas mulheres lá dentro, parecendo serem suas auxiliares de parto, que o ajudaram com a tarefa de levantar Anne da cadeira e sentá-la em uma cama alta.

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora