– Amor, eu tenho uma notícia. - Bruno proclamou meio desanimado ao entrar pela porta. Continuei encarando-o com uma expressão neutra, talvez pensando se deveria me preocupar com o fato da tal "notícia" possivelmente ser tão importante que precisava ser anunciada.
– Está tudo bem? - Falei de repente, cansada de esperá-lo desfazer o nó na gravata.
– Mais ou menos... Temos alguns probleminhas na empresa, e...
Respirei fundo. Eu sabia da competência de Robert para não deixar nada de grave acontecer à sua empresa, e mesmo que esse não fosse o caso, era bom saber que os probleminhas em questão eram relacionados ao trabalho, e não à vida pessoal de Bruno.
– ... e aí o pessoal vai ter que fazer uma viagem...
– Viagem? - Voltei a prestar atenção.
– É, mas é só por uma semana, depois nós voltamos...
– Você vai? - Perguntei, um pouco surpresa. Ele me encarou confuso.
– É, eu vou... Você estava me escutando?
– Mais ou menos... - Admiti - Você vai viajar por uma semana?
– Sim. Nós vamos pra Bristol, e depois pra Liverpool.
Pensei por algum tempo.
– Quem vai? Só você?
– Não, eu e mais algumas pessoas.
Me perguntei se havia alguma mulher dentre aquelas "algumas pessoas". Poderia haver mais de uma, inclusive. Eu deveria estar pensando naquilo? Aquilo deveria estar me incomodando?
– Robert vai? - Perguntei, tentando soar normal.
– Vai.
Ótimo. O pai dele iria. Ele não ousaria fazer alguma besteira com o pai lá. Ele não ousaria fazer alguma besteira de forma alguma, certo? Como continuei calada, ele prosseguiu.
– E nós vamos amanhã...
– Amanhã? - Perguntei surpresa.
– É... O vôo é de manhã, às 9h... Mas nós voltamos em uma semana, eu juro. E minha mãe vai estar aqui o tempo todo...
Eu sabia que Hérica me ajudaria, mas não queria que Bruno se afastasse. Por algum motivo eu gostaria muito que ele não saísse do meu lado.
– Eu sei que vai ser ruim... - Ele continuou, quase fazendo beicinho - Eu também não sei como vou conseguir passar uma semana longe de vocês agora...
"Nós". "Longe de nós".
Aquela era a segunda vez que ele me incluía nas suas demonstrações de amor, e eu estava começando a me sensibilizar com isso. Por mais que a falta da qual ele falava fosse obviamente muito mais direcionada a Valentina do que a mim.
– Bom... - Comecei, já meio derrotada - Você pode aproveitar o resto de hoje.
Sim, aquilo foi uma tentativa de flerte, mas como eu havia imaginado, Bruno não reparou. Provavelmente a anormal naquela história era eu, já que todos os livros que eu havia lido sobre gravidez me informavam que, logo após o parto, era normal as atenções estarem voltadas totalmente para o bebê, e que a mulher particularmente não teria nenhum interesse em sexo. Só que, bom, eu estava começando a ter.
Então isso provavelmente fazia de mim uma mãe horrível, que ao invés de prestar atenção somente à filha começava a traçar planos de sedução para poder aplicá-los no marido. Será que Bruno já tinha reparado no fim da quarentena? Será que ele tinha reparado que àquela altura nós já poderíamos ter retomado as relações há mais ou menos duas semanas? Os maridos não se ligavam mais nisso? Era eu que deveria estar fazendo essas perguntas?

VOCÊ ESTÁ LENDO
De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...