Bruno 36

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Foi de repente, mas o sopro de vida que eu senti não poderia ser descrito. Era como se meu estado semivegetativo nunca tivesse existido. Era como se eu pudesse sair dali imediatamente, indo de encontro a ela correndo mesmo. Era uma esperança tão grande se apoderando de mim que a primeira vontade que eu tive foi rir histérica e descontroladamente. Meu corpo começou a tremer, não conseguindo lidar direito com aquela descarga forte de emoções que me tomavam, e talvez eu pudesse ter algum problema sério do coração. 

– É... Eu vou... eu vou... 

– Primeiro, você vai se acalmar. 

– Estou calmo... Eu tenho que ir... 

– Bruno! 

Ela falou com a voz um pouco mais alta, mas não chegou a me assustar. Encarei-a porque estava confuso, e não sabia o que fazer primeiro.

– Você tem que se acalmar. - Ela repetiu, me olhando nos olhos. 

– Eu estou bem! 

– Você não está bem! Está todo vermelho! 

Merda. Minha pressão devia ter subido muito rápido. 

– Eu não vou ficar aqui e bancar a sua babá, minha filha está com febre em casa, me esperando. Só vim aqui porque, se você acabasse se matando, eu teria que viver com essa culpa para sempre. Faça o que você tem que fazer para tentar ficar melhor. Eu espero do fundo do meu coração que você não se decepcione. Sei que você está ansioso, mas por favor, tente controlar seus nervos antes de sair por essa porta. Eu não quero que você acabe enfiando o carro em um poste. 

– Ok. - Fechei os olhos, tentando me controlar, enquanto andava em círculos em volta do sofá em que ela estava sentada. 

– Ok. 

Duda se encaminhou para a porta, e eu pude sentir sua relutância em me deixar sozinho, como se estivesse com medo que eu fizesse alguma besteira. 

– Espero que sua filha fique boa. - Falei, enquanto ela já abria a porta. 

– Deve ser só uma virose. Ela vai ficar boa. 

– Duda... - Comecei, antes que ela fosse embora - Obrigado. 

Ela me encarou com aquele olhar angelical, e então eu tive certeza que sua visita tinha sido algum tipo de missão divina. Ela havia aberto meus olhos, mesmo estando completamente contra à situação, e eu devia, mais uma vez, minha vida a ela. 

Sem notar, eu havia percorrido a pequena distância entre nós e, agora, estava a abraçando com tanta força que podia estar machucando. Mas ela não reclamou, e ao invés disso, retribuiu o abraço, como se fosse uma mãe confortando um filho. 

– Não me agradeça ainda. Eu não sei se isso vai acabar bem. 

Duda afrouxou nosso abraço e me deu um beijo no rosto, saindo logo em seguida e fechando a porta atrás de si, me deixando completamente sozinho outra vez, da mesma forma que estive durante todo esse tempo.

Mas agora era diferente. 

Eu tinha um objetivo claro: Encontrar Anne e não permitir que ela fosse embora da minha vida de novo.

Talvez fosse prudente se eu tivesse ficado um pouco mais de tempo dentro do carro, testando minha respiração e esperando que a vontade de vomitar melhorasse um pouco. 

Infelizmente, o desespero em encontrar Anne de novo e falar com ela me fez estacionar o Volvo na rua de trás, já deserta àquela hora, e caminhar já com alguma pressa para a entrada principal da Casa de Rayana. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora