Anne 50

199 24 0
                                    

Margarida já tinha preparado algumas coisas para o nosso café. Me senti feliz em sentar à mesa com ela e manter uma conversa agradável. Escondi dela os detalhes que deveriam se manter escondidos, mas na maior parte do tempo fui eu que fiz as perguntas. 

– Então, você trabalha aqui há muito tempo? - Comecei, dando um último gole no café. 

– Há três anos. Venho às segundas, quinzenalmente, pra dar um jeito na casa. Você sabe, homens não se preocupam em arrumar e limpar as coisas.

– Eu achei estranho, porque Bruno não mencionou nada... 

– Sim, o sr. Coolin também não me informou sobre a sua presença aqui. - Ela falou envergonhada, ficando vermelha ao lembrar do que havia acontecido alguns minutos atrás - Mas não o culpo. Ele andou meio perturbado ultimamente, sabe. Fora dos eixos.

– Fora dos eixos? 

– Sim... No início, quando ele ficava o dia todo deitado, pensei que fosse preguiça. Mas ele não voltou mais pro trabalho, e também não comia direito. Na verdade, ele não fazia muita coisa além de olhar pro teto. Quando ouvi uma conversa do sr. Coolin com a secretária, entendi que tudo não passava de uma paixão não correspondida.

Margarida pontuou a frase e me olhou interrogativamente, mas não disse nada. Senti um pequeno frio na barriga, o impulso de quebrar o silêncio me tomando aos poucos, mesmo sem ter certeza do que estava prestes a falar. 

– Ahm... Não sei... Talvez eu possa ter algo a ver com isso, mas... 

Ela pareceu repentinamente elétrica em sua cadeira, me encarando com mais brilho do que nunca. 

– Quer saber? Eu acho ótimo que alguém como a senhorita tenha aparecido e o tenha feito sossegar. Não que o sr. Coolin não fosse um bom homem, mas... A senhorita sabe... Há um momento na vida de um homem em que ele tem que amadurecer quanto a certos assuntos... 

– Ele não era maduro em certos assuntos? 

– Bom... - Ela começou, se arrependendo de ter tocado no assunto - O sr. Coolin é um homem muito bonito e rico. É claro que a senhorita sabe o quão fácil certas coisas são pra ele.

– Eu imagino. 

– Ele nunca namorou ninguém. Desculpe dizer isso, mas acho que não deve ser segredo... Ele trazia muitas moças aqui. 

– Hum... - Murmurei, sentindo meu rosto começar a esquentar de forma desagradável e uma raiva irracional me tomar lentamente. 

– Era horrível, eu tinha que me livrar das pobres coitadas pela manhã. Algumas entendiam, acho que queriam a mesma coisa que ele. Mas outras pareciam realmente tristes. 

– Entendo... 

– Mas então, pelo visto, a senhorita apareceu, e ele parou com... bom, com essa péssima mania. O sr. Coolin nunca mais trouxe ninguém aqui enquanto estava daquele jeito. Na verdade, ele parou com isso até um pouco antes, o que estranhei. Só depois veio a depressão. Eu até me acostumei a não encontrar ninguém no quarto. Por isso entrei daquela forma hoje, e sinto muito por isso. 

– Foi por isso que você disse que achava que eu era "mais uma"? Mais uma das... - Mais uma das mulheres descartáveis de Bruno.

Era isso que passava pela minha cabeça, mas que eu não tive coragem de dizer. 

– Sim. Mas não há como negar que a senhorita é diferente. Eu só o vi ficar quase da mesma forma há algum tempo atrás, quando uma aproveitadora barata o traiu. Mesmo assim, digo "quase" porque dessa vez ele ficou pior. E se me permite dar a minha opinião, levando em consideração tudo que vi o sr. Coolin passar dessa vez, acredito que a senhorita o tenha nas mãos. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora