Anne 25

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Acordei no dia seguinte com batidas na porta do quarto. Pela força das batidas, eu sabia quem era. 

– Já vou... - Falei, tentando me recompor rapidamente, enquanto corria para o banheiro e jogava um pouco de água no rosto. 

Arrumei um pouco a cama, dobrando os lençóis amassados da noite que passou, e finalmente abri a porta para que Rayana pudesse entrar. 

– Bom dia - Ela disse, muito séria. 

– Bom dia - Respondi, fazendo sinal para que ela entrasse e se sentasse. 

Rayana imediatamente arrastou uma das cadeiras da escrivaninha e se sentou em frente a cama. 

– Vou direto ao assunto, até porque você sabe o motivo pelo qual eu estou aqui. 

– Sim... - Comecei, de cabeça baixa. 

– Ótimo. Você é uma garota esperta, e sabe o que a mantém aqui, certo? 

Afirmei com a cabeça, sem dizer nada. Era claro que eu sabia. 

– Então você sabe que se começar a recusar clientes, você não vai poder continuar nessa casa, já que o que a faz ficar aqui é o dinheiro dos seus programas. 

– Eu sei... 

– Além do mais, isso traria uma má fama para o estabelecimento, concorda? Eu não gostaria que minha casa ficasse famosa por ter garotas que recusam clientes, se é que me entende. 

Assenti com a cabeça outra vez. 

– Então, Ninha, acho que você sabe o que eu quero dizer. Sei que você não está passando por um dos melhores momentos da sua vida, depois do que Bruno fez. 

Dor. Senti uma dor forte no peito ao ouvir seu nome outra vez. Ninguém mais falou sobre ele, e eu mesma estava me policiando para não pensar no seu nome. 

Ouvi-lo assim, com tanta naturalidade, trouxe de volta a dor que eu tentava esconder de mim mesma. 

– Mesmo assim - continuou Rayana - todos nós temos nossas responsabilidades. Eu tenho problemas também, mas não é por isso que vou faltar com as minhas obrigações. Você é uma garota responsável, então acho justo esperar que você também não falte com as suas.

Ela estava certa, é claro. Mas como explicar a ela que eu não conseguia mais fazer aquilo? Que motivo eu daria a ela, já que nem eu mesmo sabia?

Eu poderia dizer como eu me sentia. 

Poderia dizer que depois do que aconteceu, eu me sentia muito mais deslocada e baixa do que antes. Poderia explicar a ela o pânico, a náusea que sentia ao pensar que deveria ficar com um homem agora. Poderia dizer a ela que tudo isso piorava porque ele simplesmente não saía da minha cabeça, que a imagem dele me perseguia, que a saudade que eu sentia dele pesava em meu peito como chumbo, que a dor de vê-lo partir tinha me deixado em um estado deplorável. 

Mas ela não aceitaria, porque ela estava certa. 

Eu devia deixar isso de lado, devia seguir com a minha vida e as minhas obrigações.

Mas eu simplesmente não conseguia. 

– Rayana... Eu só te peço um pouco de tempo... 

– Você sabe que isso eu não posso te dar. Eu não posso mantê-la empregada se você não consegue trabalhar. 

– Eu pago minhas horas. 

Rayana me olhou com um pouco de dúvida. 

– O que quer dizer? 

– Eu pago meus programas. Pago as oito horas, dezesseis programas por dia. Eu só preciso de um pouco de tempo... 

Tempo para esquecê-lo. 

– E o que eu ganharia com isso? 

– Você sabe que eu nunca consigo dezesseis programas em uma noite. Eu pago por todos eles, contanto que você me deixe ficar aqui. Se você me der um tempo... Eu vou voltar a fazer o que eu tenho que fazer. 

Ela ponderou por algum tempo. Por tempo demais. 

Fiquei receosa com a possibilidade de Rayana simplesmente negar e me colocar contra a parede. 

Se ela fizesse isso, eu sabia que iria acabar indo parar na rua. 

– Eu sei que foge dos padrões... Mas por favor... Eu preciso da sua ajuda. 

Eu estava sendo absolutamente sincera, e pude ver que ela entendeu isso. 

Rayana me olhou por algum tempo, como se estivesse analisando a situação, e por um segundo pude notar em seus olhos um pouco de compaixão comigo. 

– Eu sabia que isso não ia dar certo... 

Por favor, não toque no nome dele outra vez. Por favor. 

– Você não podia ter se deixado levar. 

– Eu sei... Me desculpe... - Senti meus olhos subitamente serem invadidos por lágrimas antes que pudesse evitar.

Outra vez, ela estava certa. 

Eu não poderia ter feito isso, não poderia ter simplesmente aceitado o fato de me apaixonar por ele. 

Em que diabos eu estava pensando, afinal? Será que eu realmente imaginava que essa história poderia ter um final feliz? Que terminasse minimamente bem? 

Eu era uma prostituta, e ele era interessante, inteligente, engraçado, rico e lindo. Ele simplesmente poderia ter a mulher que quisesse, a hora que quisesse, então por que infernos eu realmente achava que não ia sofrer no final das contas?

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora