Anne 74

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Não era dos presentes que eu não gostava - porque eu gostava de todos - mas sim da situação de receber tudo e não poder dar o equivalente em troca.

Suspirei. 

– Só por favor me diga que você acabou de gastar um valor de menos de quatro dígitos. 

– Ah, sim. Foram menos de quatro dígitos. Um pouco menos, mas... 

Gemi alto. 

– Vá terminar de se vestir. - Falei, colocando um ponto final no assunto, pelo menos momentaneamente, e querendo esquecer daquilo.

Quando Bruno finalmente estava pronto, pude analisar seu conjunto completo. As calças jeans eram justas, muito diferente dos sacos de batatas que os homens costumavam usar naqueles dias. A camisa social branca estava finalmente abotoada, com as mangas enroladas pelo antebraço de qualquer jeito. Ele calçava um tênis meio branco meio azul, e os cabelos como sempre rebeldes terminavam de dar um ar incrivelmente despojado para um executivo cujo uniforme era invariavelmente ternos caríssimos. 

– Estou bonito? - Ele perguntou de bom humor, dando uma volta completa para que eu pudesse vê-lo de cada ângulo.

Suspirei. Eu suspirava muito quando ele estava por perto. 

– Sempre. - Respondi, observando-o melhor de frente.

Aquela noite, ele conseguia estar mais bonito do que qualquer dia em que eu já tinha o visto. Por isso, preparando as últimas coisas para irmos embora, eu me pegava admirando-o sem motivo, apenas para olhá-lo e lembrar a mim mesma de que ele era meu. Mas se minha indiscrição era visível, não era comparável à indiscrição de Bruno, que parecia entrar em algum estado de autismo toda vez que olhava para mim.

Em um desses momentos, o celular dele tocou dentro do bolso. 

– Alô? 

– Onde vocês estão, porra? 

Duda falava tão alto, tentando sobrepor sua voz à bagunça do ambiente onde estava, que eu podia escutar até a alguns metros de distância de Bruno.

– Estamos indo! - Ele respondeu, desligando logo em seguida. Bruno correu até a adega, escolhendo algum vinho e trazendo a garrafa consigo, provavelmente para levar à festa. Eu fui atrás da minha bolsa e do meu sobretudo vermelho, e quando cheguei na sala outra vez ele já segurava a porta para mim, vestindo seu próprio sobretudo bege e me encarando daquele jeito apaixonado. Sem dizer nada, o segui até a garagem e relaxei na viagem para a virada de ano, aliviada por ter sido incluída na pergunta de Duda - o que queria dizer que, dessa vez, eu não apareceria de surpresa como uma penetra de festa. 

... 

– Até que enfim! 

Duda nos atendeu com uma taça de vinho na mão, o que achei ser o motivo de vê-la mais sorridente nessa ocasião do que na última em que estivemos juntas.

Bruno entrou primeiro, dando um beijo e um abraço nela, enquanto entregava o vinho trazido e pedia desculpas pelo atraso. Ela pareceu não se importar. Quando me viu, não mudou em nada sua expressão simpática, indo me dar dois beijos de boas-vindas.

– Bruno conhece a casa, ele mostra o resto pra você. Mas essa é a minha sala. 

Tive tempo de dar uma olhada rápida em volta. O apartamento era muito grande - muito maior do que o que uma secretária poderia manter. O lugar estava cheio de gente que conversava de forma descontraída e ria de piadas soltas.

Um grupo de homens gritou alguma coisa ao ver Bruno, o que pensei ser também um urro de "olá". Ele não se mexeu, mas sorriu de forma sincera de volta, e então me perguntei se o motivo de ter ficado imóvel era porque eu estava agarrando sua camisa por trás. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora