Eu não era amigo dela. Sequer sabia seu nome completo. Não sabia nada sobre ela, mas tentava desesperadamente relacionar meu instinto protetor a algum sentimento nobre, puro. Seria amizade? Embora soasse estranho, só podia ser amizade.
Mas soava estranho. Soava errado, de alguma forma.
– Você não é meu amigo.
– Eu... eu me preocupo com você. Só quero que você fique bem, que não te machuquem. - Eu pronunciava cada palavra com um misto de alívio por estar falando sem limitações, e confusão por minhas palavras e meus sentimentos não fazerem sentido sequer para mim mesmo. - Eu poderia te ajudar, se você me dissesse o que aconteceu...– Não pode me ajudar. - Ela se mexeu um pouco ainda olhando para mim, o que fez o robe deslizar um pouco pelo seu ombro. Meus olhos voaram para o local mecanicamente.
– Você poderia se abrir comigo... - Comecei, mas nem eu mesmo prestava mais atenção às minhas palavras. Me permiti prender meus pensamentos nas sardas que desenhavam seu ombro exposto, deixando-a, ainda que marcada, mais graciosa.Eu não sabia mais o que minha mão fazia em suas pernas, mas tinha noção de que ainda estava tocando em Anne.
Fui outra vez atingido inesperadamente pelo seu perfume. Amêndoas...– Eu estou bem. É meu trabalho. Não há nada que você possa fazer pra mudar isso.
– Seu trabalho... - Balbuciei, ainda fitando suas sardas.
Mesmo com o olhar fixo em seu ombro, pude notar que ela me encarava.
Após alguns segundos Anne se mexeu lentamente, sentando-se na cama e chegando mais perto de mim. Com suavidade, aproximou sua boca do meu ouvido e falou em um sussurro:
– É meu trabalho dar prazer...Merda! Aquele perfume!
Senti-a morder minha orelha e meu pescoço. Por algum motivo o perfume parecia ter se intensificado, e eu não conseguia sentir mais nada além daquele cheiro dominando meus sentidos e quebrando, centímetro por centímetro, meu muro de resistência.
A verdade era que eu não queria resistir.
Estava fora de questão exigir de Anne algo com ela naquele estado, fosse o que fosse que tivesse acontecido. Na verdade, estaria fora de questão se ela mostrasse resistência. Misteriosamente, ao contrário da primeira noite que a conheci, ela não se mostrava completamente aversa à ideia de fazer sexo comigo, e eu me perguntava o porquê.
Talvez ela quisesse mais dinheiro por um "bom desempenho". Talvez quisesse me prender por mais meia hora, garantindo o pagamento de outros trinta minutos, já que alguns homens poderiam negá-la ao conhecer seu verdadeiro estado por debaixo das roupas que teimavam em esconder seu corpo, e ela terminasse sozinha pelo resto da noite.
Era compreensível que os clientes a negassem, já que as marcas deixadas na pele daquela garota eram mesmo algo desestimulante. No entanto, não fazia exatamente esse efeito em mim. Provavelmente os outros clientes estivessem alheios àquele perfume.
Eu não.
Aquele perfume fazia coisas estranhas comigo.– Bruno?
– Sim... - Ofeguei enquanto ela dava leves mordidas entre minha orelha e meu pescoço, em um ponto extremamente sensível do meu corpo.
– Eu não vou ter mais porra de cliente nenhum essa noite, certo?
Ela estava me provocando. De novo.
– C-certo... - Respondi, fechando os olhos com força.
– Então por que sua mão está na minha virilha?
– Não sei... - Eu podia sentir meu auto-controle escorrendo pelo ralo, aos poucos. Imperceptível, mas fatalmente.
– Bom, eu sei. - E dizendo isso, sem nenhum aviso, ela segurou com força meu pau por cima das roupas e começou a massageá-lo. A surpresa me fez pular de leve no colchão. - Parece que você quer comer alguma coisa.
Eu não podia dizer nada, porque absolutamente nada me vinha à cabeça. Eu queria entrar no jogo e respondê-la com a mesma provocação, mas sequer conseguia formular uma frase, algo que não soasse patético ou mostrasse minha evidente falta de controle.– Anne... Pára de me provocar...
– Você adora ser provocado. É o tipo de homem que adora isso, não é?
Sim.Eu era exatamente esse tipo de homem. E ela estava se mostrando o tipo de mulher perfeita para mim: Provocadora e sexy, sem necessariamente ser vulgar.
Sem me conter, meus lábios avançaram para seu ombro, lambendo e beijando suas sardas ainda expostas. Lentamente com a mão esquerda puxei de seu outro ombro o robe que ainda o cobria, dando-me uma visão privilegiada de toda aquela área. Eu precisava me controlar, mas estava sendo muito, muito difícil.– Seu perfume...
– Não uso perfume.
– Está muito forte...
– Você não gosta?
Suspirei. Não havia como não ser absolutamente sincero àquela pergunta.
– Eu amo...
– Bruno? - Ela falou outra vez baixinho no meu ouvido.
– Sim...?
– Seu tempo acabou.
– O quê? - Falei um pouco surpreso e fora de rumo. Ela deu uma última mordida na minha orelha e se afastou.– Seus trinta minutos acabaram.
Levei algum tempo para conseguir me situar e voltar à realidade.
– Meu tempo... - Comecei em voz alta, tentando organizar os pensamentos.
– Sim, seu tempo. Acabou. Seus trinta minutos.
Ela se levantou da cama, cobrindo os ombros expostos enquanto afastava minha outra mão que permanecia em sua virilha. Andando um pouco cambaleante, alcançou o móvel baixo na parede à direita, se apoiando nele enquanto mantinha os olhos fechados com força, como se quisesse afastar algum pensamento.– Eu... - Comecei, mas não sabia o que dizer. Ela abriu os olhos e me olhou. Um olhar diferente. Um olhar forte, intenso. Retribuí o olhar, fitando-a também por algum tempo, sem dizer nada.
O silêncio pairava sobre o quarto escuro, nos prendendo no ar misterioso do momento. Tive a impressão de que ela também não sabia o que dizer, mas, como eu, não queria se despedir.
Finalmente levantei-me da cama, puxei do bolso de trás minha carteira e a abri, alcançando todas as notas que se encontravam dentro dela. Dobrei o bolo de notas e estendi para Anne. Ela hesitou mas, por fim, pegou a quantia que eu a oferecia. Não sabia ao certo a soma de dinheiro que havia entregado a ela, e, para minha surpresa, ela também não verificou, deixando o maço de notas dobradas esquecido em cima do móvel atrás de si.
– Você é minha pelo resto dessa noite. - Falei calmamente.
Eu sabia o que queria fazer durante todas as horas que me esperavam dentro daquele quarto. Infelizmente minha consciência me impedia de ser alguém sem princípios, mas meu corpo precisava ter o que vinha buscando por algum tempo, e que até aquele momento não havia conseguido:
Ela.
Mas não podia impor o que eu queria. Embora eu fosse um cliente, embora esse fosse seu trabalho e eu estivesse pagando por ele, não podia exigir algo dela naquelas condições. Eu sabia que outros já haviam feito isso aquela noite, mas eu não queria ser igual aos outros.
Lentamente, guardei a carteira no bolso traseiro da minha calça e deitei de barriga para cima na cama de Anne, olhando para o teto, minha camisa ainda aberta pela tentativa do início da noite. Estaria nas mãos dela decidir o que fazer. Se ela quisesse, ficaríamos em silêncio pelo resto da noite. Mas eu torcia para que ela traçasse outros planos para nós, porque o que eu queria, o que eu precisava só poderia ser feito se ela assim desejasse.
Ainda estava preso nos meus pensamentos quando meus olhos captaram a mudança no ambiente de maneira inesperada. O quarto havia mergulhado em uma total escuridão. Anne havia apagado o abajur que permanecia na mesa atrás dela. A única fonte de luz se fora, e meus olhos agora acostumavam-se lentamente com o escuro completo, quebrado apenas pela luz da lua quase cheia da noite estrelada, conseguindo marcar as silhuetas de alguns objetos e do corpo dela.
Fechei os olhos tentando manter meus pensamentos em ordem e minha respiração constante. Eu não queria ficar tenso ou ansioso, queria agir como sempre agi naquelas situações: Calmo e despreocupado.
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...