Anne's POV

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Era o aniversário de Robert, e eu havia esquecido completamente daquilo. Lembrei de Bruno mencionando, um dia, o aniversário do pai em primaveras londrinas, mas ultimamente eu andava tão distraída que aquela informação havia sido deixada esquecida em algum canto do meu cérebro. Por isso Arthur, Jhulie, Diego e, em parte, Bruno e eu, estávamos ali. 

– E você, Anninha? Pronta pr... 

Arthur foi parando de falar aos poucos, sem que eu entendesse o que estava acontecendo. Sem pensar, olhei para Bruno e vi que ele sustentava um olhar assassino para o irmão, fazendo com que se calasse. Voltei a olhar para Arthur, e vi, ao seu lado, Jhulie encarando Bruno de uma maneira muito esquisita também. Como se estivesse o chamando de idiota por telepatia.  

– Pronta pra ser mamãe? - Robert falou em voz alta, como se tudo estivesse perfeitamente normal, e como se aquela fosse a mesma pergunta que Arthur faria, caso Bruno não o tivesse fuzilado com os olhos. Mas eu sabia que aquela não era a mesma pergunta. 

– Eu... - Comecei, ainda achando tudo muito esquisito - Sim, claro. Prontíssima. 

– Sabe aquele inferno todo que dizem ser os partos? É tudo exagero. Você vai ver. - Hérica chamou minha atenção, aos poucos fazendo com que a situação momentaneamente esquisita voltasse a níveis normais. 

– Tomara... Mas de qualquer forma, acho que vale a pena sofrer um pouco por isso. É por uma boa causa, não é? - Falei, já alisando minha barriga de forma carinhosa inconscientemente. Os olhos de Hérica brilharam outra vez, enquanto ela respondia com uma voz apaixonada: 

– Vale. É a melhor sensação do mundo. Você e Jhulie vão entender isso um dia. 

Robert abraçou sua mulher carinhosamente, vendo que provavelmente todas aquelas grávidas a estavam deixando mais sensível. 

– Não sabia que você gostava tanto assim de crianças. - Ele falou, e eu pude notar um brilho suave em seu olhar, o mesmo brilho que surgia nos olhos de Bruno toda vez que ele faria ou diria alguma besteira. - Quer fazer uma?  

Hérica deu uma cotovelada no peito do marido e Diego arregalou os olhos, fazendo um "o" com a boca como se estivesse realmente chocado. Jhulie começou a rir, e eu só consegui segui-la em uma gargalhada. 

– Ah, puta que pariu, pai! - Arthur falou, fechando os olhos com força - Isso é nojento! 

– Você está com inveja, isso sim. - Jhulie implicou - Só porque até papai e mamãe mandam ver e você continua solteiro. 

– Cale-se, anã. 

– Não xingue nossa irmã, seu merda. - Bruno falou em tom de brincadeira.

– Cale-se, bicha. 

Jhulie mostrou a língua para ele, e Arthur balbuciou algo como "você tem sorte de estar grávida, senão..." 

Eu estava em casa. Estava feliz, estava confortável, mas também desconfiada. 

Por hora, me permiti relaxar e me sentir bem-vinda, não só a Londres, como à família de Bruno. Ali era, realmente, o meu lugar favorito no mundo. Mas eu sabia que tinha alguma coisa que estava sendo escondida de mim. Lembrando da cena esquisita de Arthur e do olhar esquisito de Jhulie para Bruno, era mais do que óbvio que eles sabiam de algo que eu não sabia. E eu queria saber. 

De repente, me peguei imaginando que o motivo da presença de todos eles ali não se dava somente pelo aniversário do patriarca Coolin. Havia algo mais. Algo que, de alguma forma, eu ia acabar sabendo. 

Fosse descobrindo sozinha ou fosse ameaçando Bruno de morte.

O que seria uma visita rápida, apenas para dar um "alô", se estendeu por algumas horas. Talvez porque Jhulie estivesse lá, tagarelando sobre sua gravidez e tudo que já havia aprendido com ela. Ou talvez porque Hérica insistisse para que ficássemos para o lanche da tarde, como um pretexto para manter ali a família reunida. Ou então porque não queríamos ir embora mesmo, como se uma força invisível nos prendesse ali e fizesse com que não quiséssemos ir a nenhum outro lugar ou estar na companhia de mais ninguém além daquelas pessoas. Mas como Bruno precisava saber o que havia sido feito da nossa bagagem (já que eu não sabia sequer sob a responsabilidade de quem elas estavam), saímos de lá às 19h em ponto, mesmo que Hérica insistisse para que dormíssemos por ali. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora