Cobri meu pênis com as mãos por instinto, só para no segundo seguinte me sentir idiota. Ela riu mais ainda, parecendo se divertir com aquilo tudo.
– Vai parar com a implicância com ele agora? - Ela perguntou, enrolada em uma toalha enquanto reunia tanto as minhas roupas quanto as dela nos braços.
– Por que você não me disse antes? - Perguntei um pouco mordido, saindo da piscina e alcançando uma outra toalha limpa.
– Porque eu queria que você parasse com essa sua cisma de uma forma normal. Mas já que você não consegue ser normal...
– Ei, eu sou normal! Sinto ciúmes de vez em quando...
– Você é exagerado.
– Só cuido do que é meu.
– Você sufoca o que é seu.
Parei de me secar e a encarei um pouco surpreso. Ela não pareceu ter notado o que disse, separando as roupas molhadas das secas que estavam nas suas mãos.
– Eu te sufoco? - Perguntei de maneira triste. Eu não sabia que a estava sufocando. Não era a minha intenção. Sempre ouvi, tanto dela quanto de outras pessoas, que meu exagero às vezes era preocupante, mas nunca cheguei a pensar que estava no ponto de ser considerado um sufocador. Talvez Anne tenha notado um pouco do receio na minha voz. Quando ela me olhou, já parecia mais ciente do significado da minha pergunta.
– Eu estou te sufocando? - Repeti, esperando que ela me respondesse a verdade, mas que a verdade fosse "não". Ela caminhou até mim com uma expressão neutra, como se estivesse tendo uma conversa casual.
– Você não me sufoca. Mas às vezes exagera. De verdade.
– Você disse que eu sufoco o que é meu...
– Eu sei o que eu disse. Mas estou te dizendo agora a verdade. Você não me sufoca. Eu amo o jeito como você se preocupa comigo. Acho que não conseguiria viver sem isso. Já me acostumei com as suas neuras. Se tirassem isso de mim agora, eu enlouqueceria.
Continuei encarando-a enquanto procurava algum traço de mentira no seu discurso.
– Mas estou falando isso pro seu bem. Você tem que relaxar. Tem que confiar mais em mim. E tem que saber lidar com a possibilidade de me perder, de um jeito ou de outro. Mesmo que eu te garanta que isso não vai acontecer pela minha vontade. Mas todo mundo pode perder alguém.
– Eu não posso te perder.
– Se depender só de mim, você não vai precisar se preocupar com isso.
– Depende só de você.
Ela continuou me olhando profundamente, pensando em alguma coisa que eu não conseguia entender. Anne estava muito séria, e eu não estava acostumado a vê-la daquela forma. Ela parecia estar querendo dizer algo importante ao falar sobre perdas, mas, por algum motivo, eu sentia que o que ela falava não era exatamente sobre uma perda "para outra pessoa". Era estranho. E eu senti um pouco de medo.
Então ela piscou e suspirou de forma leve, e sua expressão mudou. Era como se agora ela estivesse apenas divagando sobre as estações do ano. E o que quer que estivesse passando pela cabeça dela tinha simplesmente ido embora. E eu sabia que aquele assunto, por hora, havia morrido. Quando um leve sorriso voltou a brincar no canto dos seus lábios, ela puxou a toalha das minhas mãos e sorriu, varrendo com os olhos meu corpo nu de cima a baixo, a menos de um metro de mim.
– Melhor. - Ela concluiu, caminhando para fora de costas, ainda me encarando - Bem melhor.
Nossas visitas ao obstetra começaram a ser quinzenais. E assim como nas outras visitas o médico seguia sempre o mesmo roteiro: Media a pressão de Anne, checava seu peso e escutava o coração da nossa filha. Perguntava sobre os sintomas, dores, exercícios e alimentação. E sempre no final da consulta, para a minha tranquilidade, ele repetia a mesma coisa: Tudo estava correndo como o esperado.
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...