Anne 79

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– O que você acha que é? - Perguntei.

– Não sei. - Ela respondeu, olhando para as mãos - Mas acho que não é algo ruim. 

– Qualquer doença é ruim. - Rebati sem pensar. 

Ela não respondeu. Quanto tempo havia se passado? Dois dias? 

– Não aguento mais! Estou a ponto de tomar um calmante... - E estava mesmo. Meus nervos estavam me matando - Tem algum aí? 

– Não. Você tem se medicado muito esses dias? - Ela perguntou, de forma quase inocente. 

– Não. Não tomo remédio, só em situações extremas. - Confessei.  

– Mas tomou algum durante, digamos... esse mês que passou? Para enjôo, dor ou pra melhorar o humor? 

– Não. 

Ela pareceu mais aliviada. Duda e sua aura de mistério estavam começando a me dar nos nervos também. O celular dela tocou de novo, e, de novo, ela não atendeu.  

– Anne Olsen.- A enfermeira falou, e então levantamos as duas e caminhamos até ela - Sala 302, o Dr. Rodrigo já está esperando.

Andamos pelo corredor em silêncio. Era um corredor longo e cheirava a remédios. Eu estava começando a ficar enjoada outra vez.

– Será que vou ter que operar alguma coisa? - Perguntei sem pensar, quebrando o silêncio desconfortável - Eu vou estragar a viagem pra Londres... 

– Não se preocupe com isso. Se você tiver que fazer alguma operação, acho que não vai ser por agora. 

– Como assim? Operações não são feitas o quanto antes? 

– Bom, em alguns casos... - Ela começou, mas não concluiu o pensamento porque, no momento seguinte, entramos no consultório médico. 

– Olá novamente, senhoras. - Dr. Rodrigo falou com um sorriso fofo e sincero. Me senti automaticamente mais calma. Dessa vez, Duda foi sentar ao meu lado, e eu tive a impressão de que ela havia feito aquilo para o caso de ter que me segurar. 

– Olá. - Me apressei em responder, sentada na beirada da cadeira - E então? É só um stress idiota ou algo assim, não é? 

– Bom... Não. - Ele respondeu de maneira categórica - Você não está doente. 

Não estava doente? 

– E então? - Perguntei outra vez, e Duda me empurrou para trás, fazendo com que eu encostasse na cadeira. Era claro que ela sabia o que eu estava prestes a ouvir. Mas eu não fazia a menor ideia.

 Por isso, durante um longo tempo, as palavras que se seguiram foram as últimas coisas que eu lembrava ter ouvido, ecoando dentro da minha cabeça como se quisessem me convencer dos fatos. 

– Não é óbvio? - Ele sorriu - Você está grávida.

 continuava encarando o rosto gordo e bondoso daquele médico. Qual era o nome dele mesmo? Bem, não importava. 

Nada importava. Porque eu estava grávida.

– Era o que eu imaginava. 

Aquela parecia ser a voz de Duda. Ah, sim. Duda. Ela estava ao meu lado. 

Mas não importava. Porque eu estava grávida.

– Ninha? 

A voz dela soou ao meu lado outra vez. Até onde eu lembrava, aquele era o meu nome. Eu deveria responder? Ela estava me chamando.

Mas o que importava?

Pigarreei de forma suave, apenas para fazer algo além de respirar. Me pareceu ser a coisa mais fácil a fazer. Tentei raciocinar, mas obviamente não consegui. Ainda assim, fui capaz de pronunciar a única resposta que meu cérebro havia conseguido formular, em uma voz tão assustadoramente calma que só tornava mais claro o tamanho do meu desespero. 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora