Ver Hérica tratando Arthur como um menino de sete anos que não tinha feito o dever de casa e, por isso, ficaria de castigo, era não só engraçado, como também surpreendentemente adorável. Fiz força para não rir e deixá-lo ainda mais contrariado.
– Seu jeito brutamontes tem que servir de alguma coisa. - Jhulie disse, mexendo em uma cesta de pães sem muito interesse.
– A festa é só amanhã à noite. Vou ter tempo de sobra para distribuir aquelas mesas pelo jardim.
– Você sabe quantas mesas e quantas cadeiras são? - Hérica provocou.
– Mais ou menos o mesmo número de todos os anos, certo?
– E você sabe quanto é isso?
– Sei o suficiente pra dizer que dou conta do trabalho. - Arthur falou com cara de dono da situação.
– Então você me dá a sua palavra de que tudo vai estar arrumado pra hora da arrumação dos talheres, pratos, arranjos de flores e tudo mais?
– Claro que sim.
– Ok. - Hérica finalizou com uma certeza de vitória disfarçada, e então tive uma estranha sensação de que Arthur não conseguiria fazer o que disse que faria.
Jhulie tomava um suco rico em proteínas, vitaminas e mais sabe-se lá Deus o quê, e me perguntei se ela se entupia daquilo porque estava ficando neurótica com a saúde do filho ou porque gostava mesmo de maçã. De qualquer forma, era assustador observar a quantidade de líquido que seu pequeno corpo comportava, mesmo na gravidez, tanto durante todo o almoço como agora, descansando na sala de estar.
Diego estava sentado ao seu lado, servindo quase como um grande travesseiro para o conforto dela. Bruno estava sentado em uma das poltronas gigantes que havia na sala, capaz de comportar facilmente duas de mim, mesmo grávida. Ele me puxou com cuidado e me fez sentar entre suas pernas, enquanto tomava um licor de alguma coisa e escutava Arthur, com uma garrafa de cerveja na mão, dizer que aquilo era coisa de gente fresca.
– E você, querida? Não quer beber nada? - Hérica perguntou, tocando meu braço suavemente, e todo mundo se assustou com o berro de Arthur.
– VOCÊ É MALUCA, MULHER? ELA ESTÁ GRÁVIDA!
Demorou um pouco até entendermos que aquilo era mais uma forma de tirar sarro da cara de Bruno.
Tirei o pequeno copo vazio de sua mão antes que ele arremessasse no irmão e coloquei na mesinha baixa ao nosso lado. Hérica ignorou Arthur e continuou contando como seus almoços eram solitários, já que Robert só voltava do trabalho à noite (às vezes de madrugada), e como ficava feliz em ter a casa cheia de gente. Principalmente porque essa "gente" era a família que ela raramente via e da qual tanto sentia falta. Imaginei que talvez meus almoços começariam a parecer muito com os dela, e que talvez pudéssemos fazer companhia uma à outra.
O clima estava agradável e a conversa parecia uma canção de ninar nos meus ouvidos, me embalando enquanto Bruno passeava de um lado para o outro sua mão espalmada e seus dedos pela minha barriga de forma despreocupada. Somado àquilo, o peso da comida me fazia parecer estar à beira da inconsciência, embora fosse possível que alguma coisa servida naquele almoço não tivesse me feito lá muito bem.
Foi quando estava prestes a adormecer recostada nele que senti uma coisa que me fez acordar imediatamente. Fiquei parada, esperando por algo, embora não soubesse o quê. Talvez sentir aquilo de novo. Talvez Bruno se manifestar. Olhei em volta e vi Hérica nos encarando de forma estranha. Não falei nada. Continuei imóvel, tendo a sensação de que aquilo aconteceria outra vez. As mãos dele já não passeavam mais pela minha barriga: Agora estavam imóveis, esperando pelo que eu esperava também.
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De repente, amor
Romance♦ De repente, amor. Bruno é um jovem homem de negócios, embora não saiba nem do que se tratam os contratos que assina. Anne é uma prostituta de luxo, que apesar de se sentir extremamente mal por isso, não encontra uma saída para mudar de vida. Como...