Bruno 31

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Infelizmente, eu não estava raciocinando direito, e não entendi que estava afastando de mim a única pessoa com a qual eu poderia contar, me deixando completamente sozinho.

Como imaginei, ela não ligou mais. Mais uma semana havia se passado sem que eu saísse do meu apartamento. 

Felizmente, minha cozinha estava bem equipada, e não precisei sair para compras emergenciais, mesmo porque eu não sentia fome. O porteiro já havia ido me visitar, provavelmente querendo se certificar de que meu cadáver não estava apodrecendo no chão do banheiro. Eu não recebia ligações, a não ser algumas avulsas de meus pais. Ouvir a voz deles fez com que um nó em minha garganta quase se desprendesse em um choro, porque eu estava emotivo demais e bêbado demais. 

Senti saudades do tempo em que eu poderia correr para minha mãe e me agarrar às suas pernas, me protegendo de qualquer coisa que me fizesse mal ou me desse medo. Era uma pena que eu tinha que crescer e, com isso, tivesse que assumir responsabilidades e tomar decisões.

Eu sempre tomava decisões, mas ironicamente elas pareciam ser todas erradas. 

Agora, deitado no sofá da sala chorando feito uma criança abandonada, eu começava a imaginar que aquela decisão seria mais uma para a minha coleção de decisões idiotas. 

Isso doía, mas o pior de tudo era que essa decisão, em particular, parecia ser a mais errada de todas.

Se fosse certa, não faria sentido eu estar sofrendo tanto. Não faria sentido me arrepender a cada minuto pelas palavras que eu havia dito, pelas minhas atitudes. Não faria sentido eu querer voltar no tempo e apagar essa parte, como se nunca tivesse existido, fazendo com que agora eu pudesse estar com ela outra vez.

Ela.

Seria para o meu próprio bem me afastar dela, então por que doía tanto? 

Tinha alguma coisa muito errada, e minha mente alcoolizada não podia entender o que era. 

Mais três semanas haviam se passado sem que eu tivesse contato com ninguém. Era engraçado como uma pessoa podia se tornar um vegetal em tão pouco tempo. Bom, seria engraçado se não fosse trágico.

Agora, a culpa de ter falado com Duda daquela maneira também ajudava no meu estado depressivo. Eu sabia que ela estava chateada comigo, eu fui um babaca. Na verdade, era incrível a capacidade que eu tinha de ser babaca com tanta frequência. Era simplesmente maior que eu, e normalmente quando notava o que havia feito, as pessoas já queriam me ver morto. Eu sempre fui meio devagar quanto a isso, o que era um pouco irritante. 

– Talvez eu devesse ligar e pedir desculpas. - Balbuciei para mim mesmo, e ouvir o som da minha voz fez com que eu notasse a ambiguidade naquela frase.

Eu deveria ligar e pedir desculpas. 

Desculpas para Duda.

Perdão para Anne. 

Duas das pessoas aparentemente mais importantes na minha vida estavam magoadas comigo. E a culpa era minha. Eu era um filho da puta. 

Fui arrancado de meus devaneios pelo toque suave do interfone. Se eu bem me lembrava, minhas ordens de informar a quem quer que fosse que eu não estava em casa foram bastante claras ao porteiro e a todas as outras pessoas que andavam pela portaria. 

Tudo bem, eu não atenderia. E me entenderia com Marcos depois. 

Para minha total surpresa, alguns minutos depois a campainha soou com mais intensidade do que o normal, e foi então que pude ouvir vozes discutindo do lado de fora do meu apartamento. Ainda confuso, rumei para a entrada e abri a porta, dando de cara com Duda e o porteiro atrás dela, falando alguma coisa que eu não pude entender. 

– Boa tarde, Bruno Coolin. 

Os dois me encararam por algum momento, como se estivessem vendo uma lesma gigante. 

Finalmente, Marcos falou. 

– Senhor, eu tentei impedi-la de subir, mas ela me ameaçou de morte! 

– Não seja dramático. - Ela falou, debochando. 

– Você disse! "Saia da minha frente, ou esfaqueio você enquanto dorme!" Isso é uma ameaça! 

Duda virou os olhos e pela primeira vez em muito, muito tempo, esbocei um sorriso. Essa era uma das reações involuntárias que ela despertava em mim, e então notei a saudade que sentia dela. 

– Tudo bem, Marcos. Pode ir. E não se preocupe com Duda, ela só é um pouco exagerada de vez em quando. 

– Com licença, senhor. - Ele disse, dando um último olhar desconfiado para ela e entrando no elevador. 

Quando notei, Duda já estava dentro do meu apartamento, deixando sua bolsa e seu casaco em uma das cadeiras perto da entrada. Ao se virar e me encarar, senti a vergonha me tomar completamente. Eu ia me desculpar, ia ter a iniciativa de começar uma conversa civilizada, mas ela foi mais rápida do que eu. 

– Há quanto tempo você não se olha no espelho? 

De repente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora